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Nos cinemas, com Alexadre Borges, O Gatão de Meia-Idade

O personagem criado por Miguel Paiva diverte o público no filme de Antonio Carlos da Fontoura, mas o resultado poderia ser melhor

Por Agencia Estado
Atualização:

Alexandre Borges completou 40 anos em fevereiro. A data foi festejada na Sala Lilian Lemmertz, que a mulher, a atriz Julia Lemmertz, e ele possuem em São Paulo, com a exibição de O Gatão de Meia-Idade. "Reuni a família e os amigos mais chegados; teve bolinho; foi muito bacana." O Gatão estréia hoje em salas de cinco capitais - Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Recife. Borges adora o personagem criado por Miguel Paiva. Sempre foi fã das tiras. Há três anos, quando soube que Miguel queria transpor o Gatão para o cinema e iniciara uma parceria com o diretor Antônio Carlos da Fontoura, Borges passou a sonhar com o papel, mas havia um empecilho - aos 37 anos, parecia muito jovem. "Essa coisa da meia-idade é complicada. Começa quando? Aos 40, aos 45?", ele pergunta. No fundo, Borges sabe que o problema é de conceito, não de idade. O que o Gatão representa? "É um personagem em crise, mas acho que vive na contracorrente do que ocorre hoje. O Gatão é uma coisa de mais de dez, 15 anos atrás", avalia. No Rio, onde mora, Borges vê cada vez mais homens de 50 anos querendo ter um corpinho de 35. E dê-lhe ginástica, malhação, corrida na praia. O Gatão é diferente. Ao próprio corpo, prefere o das mulheres. "E é boêmio, prefere tomar chopinho com os amigos no quiosque", diz o ator. Borges acaba de ser eleito, na internet, o Gatão da TV e o bofe do mês, por sua participação na novela Belíssima. Ele adorou fazer o Gatão, mas ouve com atenção as reservas do repórter. Miguel Paiva criou seu personagem em tiras publicadas em jornais (incluindo o Estado). As tiras possuem uma linguagem própria - narram uma piada visual, por mais que tenham o reforço da palavra. E são superficiais, um toque, um pequeno comentário, não mais do que isso. Na transposição para o cinema, a própria narrativa episódica indica que o objetivo talvez fosse criar o equivalente da tira. Não dá muito certo, mas o filme tem pique. Borges tem assistido às sessões de pré-estréia do Gatão. Em geral, são para convidados, gente amiga que não reflete, necessariamente, o gosto do público médio. Ele sente, de qualquer maneira, que as pessoas saem desopiladas do cinema. No fundo, sabe que o Gatão é um personagem de tragicomédia italiana. Poderia ser muito bem o sexto integrante do quinteto irreverente de Mario Monicelli. É o adulto que chega à crise dos 40 mantendo um comportamento infantil. A filha vive repetindo - "Pai, como você é infantil" - e o comentário torna-se reiterativo, uma falha que o roteiro poderia ter resolvido de forma mais satisfatória. O próprio filme poderia ser outro e aí talvez se ligasse mais aos clássicos sobre a classe média e a marginalidade urbana que transformaram o diretor Fontoura num dos grandes do cinema brasileiro por volta de 1970, Copacabana me Engana e A Rainha Diaba. Em filmes como Aquele Que Sabe Viver e O Caradura, ambos interpretados por Vittorio Gassman, Dino Risi criou um tipo de comédia que lhe valeu a reputação de Michelangelo Antonioni do humor. Numa vertente popular, ele conseguia filmar personagens que amargavam a solidão e a incomunicabilidade. O Gatão tem um pouco desse vazio, dessa angústia. Não é uma comédia romântica. Como comédia de costumes, é diluída. O público se diverte, mas o resultado poderia ser melhor. Gatão de Meia-Idade (Br/2005, 90 min.). Comédia. Dir. Antonio Carlos da Fontoura. 16 anos. Em grande circuito. Cotação: Ruim

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