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Norma Aleandro representa contra o baixo-astral

Atriz de O Filho da Noiva fala do filme em cartaz e diz que o cinema ajuda os argentinos a vencerem a crise

Por Agencia Estado
Atualização:

Norma Aleandro anda a mil por hora, por estes dias. De todo o mundo, é solicitada a dar entrevistas sobre O Filho da Noiva, o belo filme de Juan José Campanella que concorreu ao Oscar deste ano, perdeu, mas em todo o lugar em que passa conquista o público com doses maciças de humor e humanismo. Ela estreou uma peça, como diretora, em Buenos Aires. É daquelas que passam todo dia pelo teatro para "corujar" a reação do público - além de diretora, é também autora de De Rigorosa Etiqueta. E prepara-se para estrelar o novo filme do diretor Sergio Renan, com quem, curiosamente, divide a cena em outra montagem teatral, Meu Querido Mentiroso, baseada na correspondência de George Bernard Shaw. Ela conversou ao telefone com a reportagem. Gosta dessa atividade toda. Filha e neta de artistas, Norma já estava destinada à arte da representação muito antes de se "entender como gente", como ela diz. Adora o filme de Campanella. Sua história é universal - um pequeno grande drama familiar: um filho em crise afetiva e financeira tenta realizar o sonho do pai, que é casar-se com a mãe, que sofre do Mal de Alzheimer -, mas a ambientação não poderia ser mais portenha. Norma credita a isso o sucesso de O Filho da Noiva. "As pessoas podem se identificar com os personagens em qualquer lugar do mundo e, ao mesmo tempo, receberão informações sobre um mundo que provavelmente desconhecem." Acha que essa é a essência da grande arte: falar de si mesmo, do que se conhece, para atingir os outros. "Veja o filme de vocês", ela comenta. O filme é Central do Brasil, de Walter Salles. "É profundamente universal e é genuinamente brasileiro." Não poupa elogios a Fernanda Montenegro. "Transmite emoção num simples olhar, no mínimo gesto; tudo nela é econômico, nada é derramado." Conta que quando Campanella a convidou para fazer O Filho da Noiva não precisou de muito tempo para aderir, entusiasmada, ao projeto. Informou-se com médicos, conheceu vítimas do Mal de Alzheimer, mas não quis invadir a intimidade dessas pessoas. "Fiz como sempre faço: criei a personagem à minha maneira, do jeito que acho que ela seria." Essa personagem é real. Aliás, há toda uma parte do filme de Campanella que não apenas é real como se inspira na própria família do diretor. Sua mãe sofre do Mal de Alzheimer, seu pai quis realizar o que achava que seria o sonho dela - casar-se. "Tudo isso é verdadeiro, foi escrito por Juan José com base em suas vivências, naquilo que observou e viveu." Mas ele acha que só isso não daria um filme ou não daria o filme que ele queria realizar. E assim surgiu a trama ficcional sobre o personagem do filho (Ricardo Darín), que poderia ser o próprio Campanella. Só que, no filme, ele não é cineasta e sim um dono de restaurante sem dinheiro para manter o negócio e que ainda vive às turras com a ex-mulher, que o acusa de negligenciar a filha do casal. Hector Alterio faz o pai. Norma e ele formaram a dupla principal de um dos mais importantes filmes argentinos dos anos 1980 - A História Oficial, de Luis Puenzo, chegou a receber o Oscar. Norma fazia a mulher que descobria que o filho adotivo na verdade era uma daquelas crianças saídas dos porões da ditadura. Descobre a ligação do marido com a repressão do regime militar. Alterio e ela formam uma grande dupla. Ela conta que é um prazer trabalhar com ele, mas diz que praticamente só se encontram nos sets de filmagem. "Hector mora na Espanha, eu não me afasto de Buenos Aires; não conseguiria afastar-me de minhas raízes." Hollywood bem que tentou cooptá-la para seguir carreira no cinema americano. Boas ofertas nunca lhe faltaram. Não se arrepende de ter permanecido na Argentina. Escreve, dirige, interpreta. O cinema e o teatro podem não ser toda a sua vida, mas ocupam boa parte dela. O repórter comenta a vitalidade do cinema argentino. O país vai mal, o cinema vai bem, com filmes como O Pai da Noiva e Nove Rainhas, que estouraram no mercado brasileiro e internacional. Norma acha que tem a ver com uma necessidade de valorização da identidade nacional. "Apesar das dificuldades, fazemos nossos filmes e eles alcançam repercussão no país e no exterior. Os teatros em Buenos Aires andam cheios, as galerias de arte atraem o público como se não houvesse crise. A arte pode ser uma arma contra o baixo-astral, pode nos fazer acreditar que a Argentina ainda tem solução", ela diz. O Filho da Noiva (El Hijo de la Novia). Comédia Dramática. Direção de Juan Jose Campanella. Arg-Esp/2001. Duração: 123 minutos.

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