No Marrocos, um prêmio para 'o objetivo, a ambição e a relevância'

Assim o presidente do júri John Malkovich definiu a escolha do coreano The Journals of Musa como Melhor Filme do 10 Festival de Marrakesh

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Por Flavia Guerra
Atualização:

A atriz alemã Sibel Kekilli e a diretora australiana Feo Aladag, cujo filme, When We Leave, ganhou o prêmio de melhor elenco (foto: Jean Blondin/Reuters)

 

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MARRAKESH - A combinação (quase) perfeita, ou mais próxima da perfeição possível, entre três ingredientes imprescindíveis a qualquer bom filme: "Como presidente do júri, gostaria de dizer que, ao analisar os 15 filmes em competição nesta edição, nosso critério foi o de buscar, em primeiro lugar, o objetivo do diretor ao realizar um filme e, claro, se este objetivo foi alcançado; em segundo lugar, a ambição artística e, em terceiro, a relevância do tema." Assim o ator John Malkovich explicou ao público que lotava o Palais Des Congrès de Marrakesh na noite de encerramento da 10 edição do Festival Internacional de Cinema de Marrakesh.

 

A julgar pelo vencedor, o coreano The Journals of Musa, de Park Jung-Bum, a combinação dos ingredientes foi de fato equilibrada. O filme tem a ambição de contar a saga de Jeon Seung-chul, um norte-coreano que migra para a Coréia do Sul e tem vários problemas para se inserir na sociedade capitalista que escolheu para viver. A começar pelo seu número de registro no país, 125, que o caracteriza como ‘desertor do norte’, até a dificuldade de encontrar um bom emprego. Relevante, novo e bem explorado o tema é. E Jung-Bum, que agradeceu em coreano a oportunidade de mostrar o filme para uma plateia tão diversa e para um júri tão representativo, mereceu o prêmio.

 

Por falar no júri, vale mencionar que foi composto majoritariamente por atores. Além de Malkovich, contou com celebridades como Gael Garcia Bernal, a chinesa Maggie Cheung, o ator britânico Dominic Cooper, o ator italiano Riccardo Scamarcio, o marroquino Faouzi Bensaid, os franceses Benoît Jacquot e Irène Jacob e a atriz egípcia Yousra.

 

Muito por sua formação, não é de se estranhar que os prêmios de Melhor Ator e Atriz foram transformados em dois prêmios coletivos para o elenco todo do alemão When We Leave (Quando Partimos), da Feo Adalag, e do australiano Animal Kingdom, de David Michôd. Candidato alemão ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, When We Leave narra a luta de uma jovem turca para ser (re)aceita pela família depois de abandonar o marido violento em Istambul e voltar a viver na Alemanha. "É mais que uma felicidade ganhar este prêmio. É importante para a questão da violência contra a mulher em todo mundo. Este filme é resultado de anos de pesquisa e espero que, além de emocionar, levante ainda mais esta questão que é mundial", declarou a diretora Adalag ao "Estado".

 

Generoso, ou indeciso, o júri também escolheu dois filmes para levar o Prêmio do Júri: o mexicano Beclouded e o belga-polonês Beyond The Steppes. "Quando começamos a desenvolver a ideia, jamais pensei que estaria aqui. Hoje vejo que valeu a pena. Um prêmio em um festival como este é muito estimulante", declarou a atriz polonesa Agnieszka Grochowska.

 

Por falar em ´um festival "como este", vale lembrar que Marrakesh é o maior e mais importante festival de cinema do norte da África e (apesar de não pertencer geograficamente à região) do Oriente Médio. Para resumir com maestria, e não perder de vista os três critérios do júri, declaração de Martin Scorsese, que esteve presente no início do evento: "O Marrocos sempre teve a tradição de ser palco de filmes lendários. Nada mais justo que tenha um festival como este, ponto de encontro de realizadores de tão diversos lugares e culturas. Que venham outros dez anos."

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A repórter viajou a convite do festival.

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