Não é fácil conversar com Becca (Nicole Kidman, indicada ao Oscar) e Howie (Aaron Eckhart). Sempre é preciso ter muito tato, pensar duas vezes antes de tocar em algum assunto, fazer mil rodeios e certificar-se de que não vai trazer à tona qualquer lembrança do casal sobre a grande tragédia por que passou há menos de um ano. Por isso, os primeiros minutos de Reencontrando a Felicidade são quase um mistério. Os personagens conversam, mas o público percebe que não falam sobre tudo. Há uma artificialidade, um receio. Só mais tarde se vai entender tanto cuidado. Há oito meses, o casal perdeu o filho pequeno e ainda tenta lidar com essa dor. Eles procuram um grupo de ajuda, que parece funcionar melhor para Howie, enquanto sua mulher bate de frente com pessoas que vivem a mesma situação e buscam explicações, quando não há. Ela, por sua vez, encerra-se em seus demônios pessoais, parecendo que a dor é mais um conforto do que algo a ser superado. À primeira vista, Reencontrando a Felicidade não parece o material ideal para o terceiro filme de John Cameron Mitchell, cuja obra consiste de Shortbus e Hedwig - Rock, Amor e Traição - filmes em que a questão da sexualidade (até com sexo explícito) era o centro. Neste novo longa, por sua vez, Becca e Howie são praticamente assexuados - embora exista uma tentativa frustrada de sedução.