Neta de Lampião prepara filme sobre cangaço

Vera Ferreira resgata fotos inéditas e diz que quer combater "absurdos" ditos sobre o cangaço e seus avôs, Lampião e Maria Bonita

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Por Agencia Estado
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Vera Ferreira, neta de Lampião e Maria Bonita, está preparando roteiro de longa-metragem sobre a vida de seus avós. O projeto, que será dirigido por Wolney Oliveira, autor de Milagre em Juazeiro, apresentará 24 fotos inéditas de Lampião e bando, realizadas nos anos 30, pelo mascate Benjamin Abrahão Butto e pertencentes ao acervo da Aba Filmes, do Ceará. Ricardo Albuquerque, neto de Adhemar Albuquerque, fundador da Aba Filmes, está recuperando - em parceria com a Secretaria de Cultura do Ceará - acervo de 85 negativos deixados pelo mascate fotógrafo. O libanês Abrahão, ousado aventureiro, muniu-se de salvo conduto oferecido pelo padre Cícero e esteve com Lampião e seu bando, em 1936. Realizou na ocasião, além de 82 retratos, o filme documental O Rei do Cangaço. "Os negativos das fotos feitas por Benjamin Abrahão", conta Albuquerque, "estão totalmente degradados. Mas conseguimos digitalizar novas matrizes a partir de cópias esparsas. Estamos recuperando, com tecnologia avançada, o que sobrou das 82 chapas resultantes de sua incursão ao sertão. Infelizmente, 32 estão irremediavelmente perdidas. Mas 50 estão salvas e 24 delas são inéditas." Todo esse material será integrado ao acervo do Memorial Chico Albuquerque, dedicado ao grande fotógrafo cearense (still de Orson Welles no episódio Jangadeiros, do longa inacabado It´s All True). Ricardo Albuquerque somará forças com Vera Ferreira e Wolney Oliveira para dar maior difusão e visibilidade ao material. Há seis anos a neta de Lampião prepara o roteiro do longa-metragem, que terá nas fotos de Benjamin Abrahão uma de suas fontes. "Nosso filme somará documentário e ficção e será fiel aos fatos históricos", promete. Vera garante estar "cansada dos absurdos que se somam nos filmes brasileiros dedicados ao tema do cangaço". Co-autora do livro De Virgulino a Lampião (com Amaury Correia Araújo), ela questiona as pesquisas de Frederico Pernambucano de Mello, base do longa Baile Perfumado (Lírio Ferreira e Paulo Caldas/1997). "Tenho dezenas de depoimentos de cangaceiros e cangaceiras que estiveram com meu avô no sertão. Todos testemunham que bebiam cachaça (ou cerveja, ou lambidinha) e não uísque White Horse, como apregoa Frederico." E mais: "Ninguém se perfumava com a fragrância francesa Fleur d´ Amour, nem Lampião carregava máquina de escrever", protesta. "Com essas idéias, Frederico transforma meus avós em figuras aburguesadas, esquecendo que, 80 anos atrás, no sertão do Nordeste, as coisas eram muito difíceis, em especial para quem vivia fugindo da polícia. Se eles beberam White Horse e se perfumaram com Fleur d´Amour no dia em que foram filmados por Abrahão, isto constitui algo excepcional. O mascate levou o uísque e o perfume para aquela ocasião específica. No dia-a-dia, a vida era dura para meus avós e os cangaceiros. Nunca foi um baile perfumado." O filme de Wolney e Vera terá o livro De Virgulino a Lampião como base. "Queremos mostrar que Lampião, Maria Bonita e os cangaceiros que estiveram com ele não brotaram do nada. Meu avó nasceu Virgulino, depois virou Lampião. E não foi ele quem inventou o cangaço." Eles trabalham com nome provisório (De Virgulino a Lampião) e aguardam apoios financeiros, via leis de incentivo, na Bucanero Produções, empresa com sede em Fortaleza, no Ceará. Interessados devem contatar a produção pelo e-mail bucanero@fortalnet.com.br ou pelo tel: (0--85) 219-1457. Veja o especial sobre Lampião, com fotos e notícias da época

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