PUBLICIDADE

Neta de Francis Ford Coppola, Gia faz sua estreia na direção aos 27 anos

Palo Alto marca o ingresso da quarta geração da famosa família hollywoodiana no cinema

Por Cara Buckley
Atualização:

Gia Coppola - cujo filme de estreia, Palo Alto chega agora aos cinemas norte-americanos - integra a quarta geração dessa famosa família hollywoodiana a entrar no cinema. Na verdade, segundo seu avô, Francis Ford Coppola, seria a quinta.

PUBLICIDADE

Não só o pai dele, Carmine, dividiu com Nino Rota o Oscar pela música do Poderoso Chefão: Parte III, como o pai do pai, Agostino, ajudou a montar o sistema Vitaphone, que introduziu o som nos filmes mudos.

"O pessoal ficou empolgado", comentou recentemente Gia, de 27 anos, falando da reação da família quando ela contou que iria fazer o roteiro e dirigir um filme. "Mas o mais importante é que esta foi minha chance de fazê-lo sozinha." Baseado em uma coletânea de contos de autoria do ator James Franco - que faz o papel de técnico de futebol de um time juvenil, com tendências libidinosas e uma queda por adolescentes - Palo Alto descreve a existência conturbada de um grupo de jovens problemáticos da Califórnia. Sonhador, pungente e desprovido de qualquer intuito moralizador, o filme descreve as festas, os encontros e as paixões complicadas desta juventude. O filme recebeu críticas calorosas no Telluride Film Festival do ano passado, onde estreou com a presença de Francis Ford Coppola, que foi prestigiar a neta.

"É um grande alívio", comentou Gia, referindo-se à recepção dos críticos, no mês passado. "Não tive tempo de pensar nisso enquanto trabalhava." Aventurar-se na direção e na elaboração de roteiros de um longa é um passo corajoso para qualquer um, mesmo que - e principalmente se - esta pessoa pertença a uma das dinastias mais ilustres de Hollywood. Quando então ela conta entre seus familiares Sofia Coppola, Talia Shire, Nicolas Cage e Jason Schwartzman, é inevitável que as pessoas pensem que ela teve proteção de sobra.

Mas Gia Coppola disse que, durante a realização de Palo Alto, ficou distante da família, e, ao contrário, procurou os conselhos de Franco. "Definitivamente, ele ajuda a abrir portas", comentou, sobre o ator. "Mas, ao mesmo tempo, eu terei de trabalhar muito mais para provar que sou capaz de me expressar também. Não é interessante para mim ter a ajuda deles e depois trapacear. Eu quero é aprender."

 

 

 

Acidente. Voz suave, como a de um pássaro, cabelos cor de mel e olhos escuros cor de chocolate, Gia é reservada e fechada pessoalmente, lembrando a tia Sofia. Entretanto, ocupa uma posição singular no clã, do qual passou a fazer parte depois da maior tragédia familiar.

Seu pai, o primeiro filho de Francis Ford, Gian-Carlo Coppola, Gio, um produtor cinematográfico promissor, morreu em um terrível acidente de lancha de corrida em maio de 1986. Tinha 22 anos, e sua namorada, Jacqueline de La Fontaine, estava no início da gravidez do único rebento da relação. Sete meses mais tarde, nasceria Gia.

Publicidade

Ela tem o mesmo nome do pai: Gian-Carla. Embora tenha sido criada em Los Angeles pela mãe - que posteriormente casou-se com Peter Getty, da família dos magnatas do petróleo, e logo depois se divorciou - os Coppola a tomaram sob sua proteção. "Eles ocuparam o vazio deixado por meu pai", disse Gia.

Adolescente, ela passava as férias com os avós, no norte da Califórnia, colhendo amoras e pescando com o tio Roman. Quando tinha 9 anos, Francis a levou numa longa viagem pela Europa. A certa altura, prendeu um walkie-talkie na menina com fita crepe para que ela pudesse andar sozinha e se comunicar em caso de necessidade (estavam a bordo de um navio de cruzeiro).

"Apareceu essa menininha na família, uma irmã mais nova que tínhamos de proteger", disse Robert Schwartzman, um dos primos em segundo grau de Gia (a mãe dele, Shire, é irmã de Francis Ford Coppola). "Todos nós ajudamos a criar Gia, foi uma tarefa do grupo todo." Ele e Gia foram sempre muito amigos. Ela estudou em escolas particulares em Los Angeles, no Center for Early Education, e depois na Archer School for Girls, onde, absurdamente tímida, sentia-se distante das colegas. Por isso, Robert e às vezes os irmãos dele, Matthew Shire e o ator Jason Schwartzman, a levavam para a escola de carro. "Se ela tinha algum problema", conta Robert, "eu procurava apagar o incêndio".

Destino. Mas ela também lutou. A vida acadêmica não era o que mais a atraía. Uma falta de coordenação impediu que ela praticasse esportes e se dedicasse à dança. Gia queria, acima de tudo, mostrar sua criatividade; mas, por outro lado, odiava chamar a atenção. E acabou encontrando refúgio na fotografia.

PUBLICIDADE

"Eu gostava do papel de observadora, era difícil para mim pensar no que dizer. Por isso, eu me sentia realmente à vontade com a fotografia e preferia que não olhassem para mim." Saiu de Archer antes de terminar o curso e ingressou no Bard College, onde estudou fotografia. Ali, ela reencontrou seu primeiro namorado, Sam Freilich, hoje agente literário que continua ao seu lado.

Gia ainda não pensava em cinema, desencorajada em grande parte pelo talento de toda a família e por seu nome famoso: "Isto contribuiu para me dissuadir até certo ponto. Acho que me sentia um pouco intimidada". Depois de formada, regressou a Los Angeles e arranjou um emprego de ajudante no Bouchon, o bar de Thomas Keller, e então o destino, ou o que quer que seja, lhe deu uma mão: foi convidada para fazer uma ponta num curta metragem para a marca de moda feminina Built by Wendy.

 

Publicidade

::: Cultura Estadão nas redes sociais :::
:: Facebook ::
::  Twitter ::

 

Gia colocou algumas dificuldades, mas concordou em fazer um filme por conta própria, com a amiga, instrumentista e realizadora de vídeos Tracy Antonopoulos. Chamou Nathalie Love, que era sua melhor amiga desde que ambas tinham 7 anos (conheceram-se quando apareceram no vídeo Red Right Hand de Nick Cave e os Bad Seeds, de 1994). Adoraram a experiência. Para ela, foi como uma extensão da fotografia, explicou Gia, "mas com mais coisas com as quais eu podia brincar". Extravagante, amadorístico, o vídeo proporcionou-lhe a possibilidade de fazer curta para grandes lojas de moda feminina, como Opening Ceremony, United Arrows, Wren e Zac Posen for Target. Não muito diferentes dos trabalhos de tia Sofia, os filmes de Gia têm pequenos momentos de tranquilidade. E, como a tia, ela chamou a atenção do mundo da moda. Também trabalhou no guarda-roupa do filme Somewhere, de Sofia (2010), e atrás da câmera com o avô em Twixt (2011).

Em altaCultura
Loading...Loading...
Loading...Loading...
Loading...Loading...

Também fez um curta estrelado por Robert Schwartzman, que ela editou num vídeo para a música All My Life. Durante as filmagens, Schwartzman ficou impressionado pela capacidade de Gia na direção, algo que ela nunca demonstrara. "Foi um momento impressionante", disse Robert, que posteriormente trabalhou na trilha de Palo Alto em parceria com o músico Dev Hynes. "Eu a conheço como uma pessoa tão suave, tão tímida, tão doce, tão delicada. Não é certamente a mulher ‘alfa’, mas, como diretora, consegue o que quer."

‘Boa pinta’. Entretanto, a perspectiva de dirigir ou de escrever um longa metragem continuava distante. Até que, uma noite, há cerca de cinco anos, Gia foi a uma festa em Hollywood, onde encontrou sua mãe. E ela lhe falou de um ator boa pinta chamado James Franco. Será que Gia gostaria dele? Sem dúvida.

Franco já falava há algum tempo da ideia de adaptar seu livro Palo Alto: Stories para o cinema, de preferência por uma mulher, porque achava que isso daria às histórias centradas em geral em homens um enfoque mais profundo. Depois de conhecer Gia, ele quis ver seu trabalho fotográfico, seus vídeos, gostou deles e, deixando-se guiar pela intuição, perguntou se ela faria a adaptação e dirigiria o filme.

"Percebi que ela tinha a sensibilidade certa para fazer aquilo", disse o ator, por e-mail. "Às vezes, tenho um bom instinto para estas coisas, e às vezes, não. Mas neste caso funcionou." Gia achou que conseguiria estabelecer um relacionamento fácil com os adolescentes dos contos - sua falta de jeito, suas emoções tortuosas, sua confusão geral e a incipiente constatação de que os adultos também têm falhas. E, depois de preparar um pequeno teste do filme, começou a elaborar o roteiro com a ajuda de Love e de Franco. Escolheu Emma Roberts, a estrela da Nickelodeon, filha de Eric Roberts e sobrinha de Julia Roberts, para o papel principal, e chamou vários atores estreantes, como Jack Kilmer, cujo pai, Val Kilmer, também faz uma ponta.

Infância. Love, amigo de Gia de longa data, também faz uma ponta em Palo Alto e diz que o desabrochar da paixão de Gia pela direção parece uma consequência lógica de suas próprias raízes. "Gia raramente falava com alguém, principalmente com adultos", lembrou Love, contando da infância de ambos. "Ela sussurrava no meu ouvido que queria ir para a Disneylândia e eu tinha de anunciar o pedido para o grupo, como se a ideia fosse minha. Por isso, ela sempre esteve nos bastidores, dirigindo." No entanto, a diretora não conseguiu financiamento para a película: os possíveis investidores recuaram diante do número de iniciantes que iriam participar da produção. Até que, finalmente, Franco resolveu se manifestar.

Publicidade

"Acreditava tanto em Gia que queria fazer o filme de qualquer maneira", escreveu. Por isso, deu tudo o que recebeu pelo filme Homefront para Gia fazer o filme (ela não quis revelar a quantia). As filmagens começaram em 2012, no dia das bruxas, no bairro Woodland Hills, em Los Angeles, e duraram 30 dias - um trabalho que, em vários sentidos, foi uma coisa simples. Jack Kilmer e seu parceiro no filme Nat Wolff, no papel de um encrenqueiro problemático, Fred, dormiram em colchonetes na garagem da casa da mãe de Gia, onde ficavam assistindo a filmes antigos na velha TV de Francis Ford Coppola.

Jacqueline de La Fontaine às vezes aparecia no set para deixar caixas de cupcakes e hambúrgueres. Sem dinheiro para pagar extras, Gia pediu aos amigos que aparecessem na cena de uma festa. "Eram todos jovens", contou Wolff. "O fato de ser o seu primeiro filme nos fez sentir solidários." E a diretora, prosseguiu, estava tão à vontade, que seu estado de espírito passava para todo o set. "Ela sempre estava tão calma, com o controle da situação, e tudo era tão engraçado, que a impressão que a gente tinha era que todo mundo tinha o direito de dar palpites", ele disse.

Gia está se adaptando a viver em Nova York. Ela e Freilich mudaram-se para lá em janeiro. De todas as mudanças, seguir em frente depois de Palo Alto poderá ser a mais difícil. "É duro separar-me dele", lamentou. 

TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.