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Nas telonas, <i>Labirinto do Fauno</i>, de Guillermo Del Toro

Diretor mexicano faz fábula sobre a Guerra Civil na Espanha que mistura monstros, fadas e bichos esquisitos e exalta a desobediência civil contra o fascismo

Por Agencia Estado
Atualização:

A idéia pode causar um certo estranhamento inicial. Um filme que se passa no pós-Guerra Civil Espanhola, com generais, rebeldes e tudo o que a gente conhece só pelos livros de história. Só que, no meio da guerra, passeiam monstros fadas e bichos esquisitos. Essa inusitada mistura é o que prende a atenção no novo filme do diretor mexicano Guillermo Del Toro (Hellboy), Labirinto do Fauno, que estréia nesta sexta-feira nos cinemas brasileiros. De volta ao mundo fantasmagórico, Del Toro conta a história de um grupo de rebeldes que ainda luta contra o general Franco no norte de Navarra. Ofelia (Ivana Baquero), de 10 anos, muda-se para a região com sua mãe, Carmen (Adriana Gil), que acaba de se casar com um oficial fascista que luta para exterminar os guerrilheiros. Ofelia acaba ficando amiga da cozinheira Mercedes (Maribel Verdú), que na verdade é guerrilheira disfarçada. Este é o lado "real" da história. Como a garota é muito solitária, acaba fazendo passeios pelo jardim da mansão. Um dia, descobre um labirinto onde mora um fauno, um monstrengo que acredita ser ela a filha do grande rei de um mundo subterrâneo. Para confirmar isso, ela precisa passar por três provas, que incluem, entre outras coisas, arrancar uma chave da boca de um sapo gigante que vive em uma árvore morta e passar entre um banquete suculento sem tocar em nada, para não despertar uma fera que tem olhos na palma das mãos. Cenas indigestas O enlace destes dois mundos pede ao espectador desprendimento do mundo real e ausência de julgamentos do que é sensato ou não. É importante entrar na fantasia dessa doce garota para entender que aquilo tudo pode ser apenas a imaginação de uma menina que busca a felicidade em meio à guerra. Apesar de aparentemente lúdico, O Labirinto do Fauno não é um filme para crianças e adolescentes. Existe uma dose, talvez até exagerada, de cenas cruéis no "lado real" da história. Por exemplo: um soldado do oficial fascista esmaga o rosto de um camponês com uma garrafa achando que ele era comunista, mas não era. Em outra cena, a empregada dá uma facada no rosto do oficial e corta sua bochecha inteira, deixando-o com um rasgo enorme no rosto. Para arrepiar ainda mais o espectador, a câmera chega pertinho do rosto e mostra o oficial costurando a própria boca. Sem anestesia. Exageros à parte, é incrível notar a habilidade do diretor em viajar em uma história como essa. Ainda mais sabendo que ele conseguiu recriar aquela época e desenvolver monstros e efeitos especiais com um orçamento de apenas US$ 5 milhões, nada perto de produções fantasiosas como Harry Potter e O Senhor dos Anéis. O filme foi produzido em parceria com seu amigo, outro grande diretor mexicano, Alfonso Cuarón (Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban). Del Toro é o indicado do México para uma vaga no Oscar do ano que vem. O diretor é fascinado pela Guerra Civil Espanhola, já falou dela em filmes como A Espinha do Diabo, e pretende voltar a essa época em 2009, no lançamento de um filme com o misterioso nome de 3993, após a filmagem da seqüencia de Hellboy, em 2008. Para as cenas feitas na floresta, Del Toro se inspirou em seu pintor predileto, o espanhol Goya. O fauno - interpretado por Doug Jones (A Dama na Água) que demorava cinco horas para "virar bicho" no set - é inspirado em lendas gregas e romanas. E a saga da menina tem um quê de O Mágico de Oz. É uma miscelânea de referências de um diretor que consegue trafegar por Hollywood e sair dela para fazer um blockbuster com a cara de lá, mas falado em espanhol. Aliás, muitas das fantasias só foram concretizadas com tão pouco orçamento graças às lições de maquiagem que aprendeu na adolescência com o mestre Dick Smith (O Exorcista). Vendo o trabalho dele, de Alfonso Cuarón e o recente Babel de outro mexicano, Alejandro González Inárritu, não se surpreende que Hollywood esteja tão sedenta pela fantasia destes incríveis diretores latino-americanos.

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