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Nas telas, versão pós-moderna de Chapeuzinho

Os autores, Cory Edwards, Todd Edwards e Tony Leech, fazem da história uma espécie de investigação no reino animal

Por Agencia Estado
Atualização:

A fábula de Chapeuzinho Vermelho tem tanto ibope que já foi objeto de discussão psicanalítica, com por exemplo em Bruno Bettelheim, e até foi levada ao palco por Antunes Filho. Explica-se: como outros contos da literatura infantil, é cheio de subtextos e significados múltiplos, nem todos confessáveis. Pode também se prestar a um desenho animado sem maiores ambições intelectuais como este "Deu a Louca na Chapeuzinho", que entra em cartaz com cópias dubladas e legendadas. A vantagem de quem escolher a legendada é que poderá ouvir a voz de Glenn Close como a Vovozinha, Anne Hathaway como Chapeuzinho e James Belushi como o Lenhador. Quem fala pelo Lobo Mau é Patrick Warburton. São detalhes. Mas que dão charme ao filme, um projeto que certamente deseja ver as implicações mais "profundas" da fábula a léguas de distância. O objetivo é divertir. E, para divertir, além de expurgar aspectos mais escabrosos (entre os quais aquele que associa o vermelho do chapeuzinho ao temor da puberdade, o Lobo como o violador, etc.), deseja atualizar a fábula. E isso significa dar-lhe um tom não apenas moderno como um tanto gaiata: a velha Vovó, por exemplo, revela-se uma obstinada praticante de esportes radicais. Além disso, os autores, Cory Edwards, Todd Edwards e Tony Leech, fazem da história uma espécie de investigação no reino animal. A cena fatal que reúne Chapeuzinho, o Lobo e o Lenhador vira uma espécie de Rashomon dos desenhos animados. Assim, como no filme célebre do cineasta japonês Akira Kurosawa, várias versões podem conviver para uma única e mesma cena. Vale o que conta Chapeuzinho, a Vovó, o Lobo, ou o Lenhador? Convenientemente, as versões divergentes são evocada na presença de outro personagem, o sapo Flippings, um detetive que evoca também um Hercule Poirot do mundo batráquio. Isso para dizer que esta versão de Chapeuzinho é destinada ao público infantil, e nem por isso carece de inteligência, como acontece com muitos produtos do gênero que subestimam seu público-alvo. É divertido, e não deve aborrecer os pais que forem ao cinema levar seus filhos. Quanto à técnica de animação computadorizada, parece muito bem-feita. Hoje em dia a animação conta com recursos interessantes, que simulam movimentos de câmera e outros jogos de estilo. Claro que, sendo um filme atual, não deixa de insistir demais nas cenas de ação, como se estas fossem indispensáveis ao projeto - e talvez sejam mesmo, seguindo a expectativa do público. Mas o melhor é dessacralizar a história e transformá-la em uma paródia divertida, quase uma variante pós-moderna da fábula. Deu a Louca na Chapeuzinho (Hoodwinked, EUA, 80 min.). Dir. Cory Edwards, Todd Edwards e Tony Leech. Livre. Cotação: Regular

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