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Nas telas, o primeiro 007 do século

Estréia o 20.º filme da série: 007 - Um Novo Dia para Morrer traz o agente inglês James Bond (Pierce Brosnan) dividindo com a americana Jinx (Halle Berry) a licença para matar

Por Agencia Estado
Atualização:

Preso e torturado pela primeira vez, acusado de traição, James Bond (Pierce Brosnan) escapa do confinamento e entra num hotel cinco-estrelas de Hong Kong sem camisa, barbudo, cabeludo, empiolhado, quase um náufrago de Daniel Defoe. Ainda assim, é reconhecido pelo gerente e consegue a suíte presidencial e uma massagista de pernas longas para recompor-se e reassumir a velha fleuma britânica. Estamos em 007 - Um Novo Dia para Morrer (Die Another Day), o 20.º filme de James Bond, o único agente secreto de Sua Majestade que tem licença para matar - e para ´cantar´ ao mesmo tempo a própria chefe, uma velha dama aposentada, e sua secretária sonhadora. Bond, dessa vez, não está sozinho: divide a cena com Jinx (Halle Berry), uma mulher independente, negra, americana, tórrida e que também tem license to kill, como o inglês. Essa democracia estrutural - notem bem, Jinx não é apenas mais uma bond-girl, ela toma suas próprias decisões - é apontada como a novidade de Um Novo Dia, mas há outras particularidades. O novo James Bond, o primeiro do novo século, é, como de hábito, vertiginoso. Tentando limpar o próprio nome, enlameado numa trama sórdida, ele tem pressa. Corre mais do que Roger Moore corria e vai mais direto ao ponto do que o sutil Sean Connery. Madonna só aparece para que Bond amarre seu espartilho, e mostra que se tornou uma senhora de respeito. Ela solta apenas uma piadinha leve sobre homens e espadas, que caberia no Casseta & Planeta. Só para a cena inicial de surfe nos mares da Coréia, são convocados quatro entre os maiores surfistas do ranking mundial. A parte mais exótica da produção se passa num castelo de gelo na Islândia, terra de Björk. Com um detalhe: eles nunca foram à Islândia, tudo é feito em estúdio. James Bond se ocupa de quebrar o gelo nesse cenário abaixo de zero, levando a glacial Miranda (Rosamund Pike) para a cama. Tem mergulhos num mar congelado, perseguições em planícies brancas, estufas monumentais. Na onda dos atentados de 11 de setembro, Bond - que até então estava às voltas com malucos russos de posse dos arsenais desgarrados da antiga União Soviética - parece ressuscitar o velho tema da guerra fria, engajando-se na possibilidade do grande ataque maciço de um País estrangeiro aos defensores da democracia ocidental. Desde aqueles tempos da guerra fria, os espiões ocidentais sempre foram canalhas com os países dos eixos do mal, e o novo Bond não seria diferente. Usa critérios de um Lombroso étnico. Ele reafirma Cuba como uma terra de ninguém e pinta as Coréias com as velhas tintas do preconceito racial. Também insere na trama outros temas contemporâneos, como os inomináveis avanços da ciência genética e o poder cada vez mais descontrolado das grandes corporações. Pela diversão, ignoramos a barbárie diplomática, como de hábito. Estamos no cinema para rir com as cascatas homéricas e gargalhar com o maquiavelismo ingênuo. Mas, principalmente, para deliciar-nos com os clichês usuais - os carros indevassáveis e cheios de truques (até invisibilidade agora eles têm), a mulher bela e traiçoeira, o vilão frio e geneticamente indestrutível, as locações deslumbrantes. O filme começa na Coréia e passa por Cuba, Inglaterra, Islândia. O vilão é um cavalheiro inglês (um oriental em provisória pele de nobre, como mostra preconceituosamente o filme), o empresário Gustav Graves (Toby Stephens, de Sonhos de Uma Noite de Verão e Cowboys do Espaço). Seu braço direito é um coreano albino com diamantes incrustados no rosto chamado Zao (Rick Yune, de Neve sobre os Cedros). A direção é do neozelandês Lee Tamahori (de O Preço da Traição e Na Teia da Aranha). Serviço - 007 - Um Novo Dia Para Morrer (Die Another Day) - Ação. Dir. Lee Tamahori. EUA/2002. Dur. 132 min. Com Pierce Brosnan, Halle Berry, Toby Stephens. 12 anos.

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