Nas telas, a música de Maria Bethânia

Documentário Maria Bethânia - Música É Perfume, de Georges Gachot, mostra a cantora no trabalho, revelando seu método de criação

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Por Agencia Estado
Atualização:

Maria Bethânia nem se lembra direito quando Georges Gachot a viu para ficar tão entusiasmado. "Acho que foi num show em Montreux; ele já me contou muitas vezes, mas faz uma confusão e eu sempre fico em dúvida." Levado por um amigo, o diretor franco-suíço foi assistir à grande Bethânia e ficou siderado. Resolveu que queria fazer um documentário sobre Bethânia no trabalho, revelando seu método de criação. Ela sabia que Gachot é documentarista de música clássica. Ele lhe enviou seu filme sobre a pianista Martha Argerich, parceira habitual de Nelson Freire. Bethânia adorou. Abriu as portas do seu estúdio (e o coração) para Gachot. Dessa aventura conjunta resultou o belo Maria Bethânia - Música É Perfume, que estréia hoje. Está sendo um bom ano para os documentários musicais. Vinicius fez sucesso de público e crítica; Olha que Coisa mais Linda está saindo em DVD (e com extras preciosos, incluindo toda uma parte em que Claudete Soares fala sobre a bossa nova em São Paulo). Bethânia não viu nenhum dos dois. "Gravei uma participação no Vinicius", lembra. O repórter fala bem do filme, do personagem. Ela diz que Vinicius está instalado, como um posseiro, no seu coração. Também não viu Música É Perfume. Quer dizer - "Vi umas dez vezes antes da edição definitiva, discutindo amigavelmente com o Georges." Diz que ele é "um rapaz amável, atencioso". Não chegaram a se desentender, mas Bethânia não queria que algumas cenas permanecessem no filme. Ele bateu pé. "O filme é meu." Ela respeita, mas toma distância. "Sou só uma cantora no filme. O olhar é dele." Destaca, de qualquer maneira, o que lhe parece importante - "Georges reverencia, por meio de mim, a música brasileira." Como o irmão, Caetano - cantor, compositor, escritor, cineasta -, Maria Bethânia tem uma relação visceral com o cinema. Quando jovem, em Santo Amaro da Purificação, Bahia, havia três cinemas no lugar. Três! "Hoje em dia não tem nenhum; é sinal da degradação cultural brasileira." Naqueles três cinemas, ela viu tudo - "Muito Fellini, nouvelle vague." Depois, Caetano e ela foram para Salvador e o pai facilitou para que se associassem ao Clube de Cinema. Continua amando o cinema, mas a música lhe toma todo o tempo. E ela não gosta mais de ir às salas. "Não tenho problemas com meu público, mas se vou ao cinema me sinto observada. As pessoas olham para a tela e para mim. Não gosto."

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