O tempo pode ser o futuro ou o passado. O lugar pode ser a Inglaterra que conhecemos, ou um outro país. E os personagens podem ser humanos. Mas tudo soa muito estranho no melancólico drama Não me Abandone Jamais, de Mark Romanek, baseado no brilhante romance do inglês Kazuo Ishiguro. Aqui, tanto o filme quanto a obra original, na verdade, têm mais a ver com Charles Dickens do que com George Orwell - apesar do clima de futuro distópico. Isso porque o longa de Romanek (Retratos de uma Obsessão) não é uma fabula de tons políticos como 1984. Nele, a distopia é um subterfúgio para um drama intimista, para uma história humanista. Os três jovens do filme, abandonados em num colégio interno, lembram os órfãos de destino infeliz e muita provação dos romances de Dickens. Eles são Kathy (Carey Mulligan, de Educação), Tommy (Andrew Garfield, de A Rede Social) e Ruth (Keira Knightley, de Amor Extremo), que moram e estudam em Hailsham, uma escola relativamente progressista, mas bastante rígida.