Não há razão para as mortes, diz autor

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Por Agencia Estado
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Não é a morte das cinco filhas da família Lisbon que surpreende a sra. Karafilis, mas sua teimosia em viver - personagem com uma rápida passagem em Virgens Suicidas (Rocco, 212 páginas, R$ 20), a velha senhora grega que aguarda o fim da vida enclausurada em um porão consegue resumir a intenção do livro escrito pelo americano Jeffrey Eugenides. "As razões das mortes são várias, mas não há nenhuma definitiva pois não pretendi fazer um tratado sociológico", afirma o autor, atualmente morando em Berlim, na Alemanha. "Na verdade, as diversas razões só comprovam que, quando alguém comete suicídio, os amigos e familiares nunca sabem realmente os motivos." O cenário da história é um típico subúrbio americano dos anos 70. Durante uma festa em sua casa, Cecília Lisbon, uma menina de 13 anos, se joga de uma janela do segundo andar em uma cerca de ferro. Como uma maldição, em um período de um ano, as outras quatro irmãs cometem suicídio. Comprimidos, enforcamento, todas as formas são válidas para que, uma a uma, Lux (14 anos), Bonnie (15), Mary (16) e Thereza (17) encontrem o caminho da morte, como um verdadeiro pacto suicida. "Minha inspiração foi um caso que ouvi em família", conta Eugenides, lembrando a história contada pela babá de um sobrinho em que ela e todas as irmãs haviam tentado o suicídio. "Fiquei extremamente impressionado com o relato e preferi ambientar o romance nos anos 70 por se tratar de um momento em que a depressão e o desespero tomavam conta de muitos americanos." Trata-se da crise da indústria automobilística que enlouqueceu diversos trabalhadores, convencidos a dar cabo da vida. Ex-ator e ex-trabalhador voluntário ao lado de madre Teresa de Calcutá, Eugenides nasceu em Detroit, centro nevrálgico das montadoras americanas e, adolescente nos anos 70, acompanhou angustiado a sucessão de dolorosas notícias. "A impressão era de que o país desabava." Causas - Pouco preocupado em oferecer pistas sobre a causa da sucessão de suicídios em seu romance, Eugenides habilmente construiu a história como uma investigação feita, 20 anos depois, por um dos vizinhos dos Lisbon. Assim, há a reunião de um mórbido acervo de evidências, que vão desde entrevistas com parentes até diários e boletins escolares. Não faltam também estatísticas reais que determinam o grau de insatisfação dos jovens com a vida, evidenciada pelo sofrimento provocado pela solidão e pela carência afetiva. Eugenides, porém, não construiu um livro triste - para retratar a morte da inocência, valeu-se de uma linguagem ágil e elegante, em que referências humorísticas acompanham os momentos trágicos. E a edição brasileira manteve o vigor graças à tradução irretocável de Marina Colasanti. Convidado a assistir ao filme de Sofia Coppola, o escritor não esconde que chegou apreensivo ao cinema. Não se entusiasmou, mas, discreto, garante ter gostado do que viu. "Ela buscou manter no filme os principais sentimentos do romance, o que me agradou muito."

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