Na comédia espírita 'Linda de Morrer', com Glória Pires, quem dá alma é o vidente

Com boas tiradas (e observações), o filme é curto (na duração) e acelerado (no ritmo)

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

E não é que se pode rir honestamente em Linda de Morrer? Existem momentos genuinamente engraçados no longa de Cris D’Amato produzido pela Migdal de Iafa Britz. A produtora estourou no mercado com o megassucesso Nosso Lar. Volta com uma comédia que, mais que romântica, talvez seja ‘espírita’. A premissa básica é que Glória Pires, a linda de morrer que também é empresária de sucesso, morre e precisa se comunicar com a filha. Emílio Dantas, que acaba de perder a avó (Susana Vieira), serve de intermediário e, de quebra, se apaixona pela garota, interpretada por Antônia Morais, filha de Glória e do músico Orlando Morais.

Escrito por Carolina Castro e Marcelo Saback, o roteiro incorpora elementos de Ghost, de Um Espírito Baixou em Mim. Tem o momento Se Eu Fosse Você, quando Glória ‘encarna’ em Ângelo Paes Leme, que faz seu antigo assessor desonesto e ele desmunheca como Tony Ramos em alguns momentos da série dirigida por Daniel Filho – de quem Cris foi assistente, vale lembrar. Existe muita coisa de bom gosto em Linda de Morrer. O figurino de Glória – o vestido vermelho paixão –, a fotografias em cores, a esmerada direção de arte.

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Digamos que essa estética do filme flerte com a televisão. Há até o reforço de figuras conhecidas do público – além de Glória, Susana Vieira e Viviane Pasmanter. Susana representa o espírito evoluído na ficção de Cris D’Amato. Comparativamente, a personagem de Glória precisa se aprimorar muito para chegar ao nível dela. Susana é, na vida, uma mulher que nunca desiste de exercer sua sensualidade plena. Há uma cena dela com Glória, as duas mortas e enterradas, em que falam de aparência, de sexo, de superação. Há uma esperteza do roteiro, e da realização. São as personagens falando ou são Glória e Susana, duas referências no imaginário das mulheres brasileiras?

Esse tipo de esperteza permeia o filme. Já que o imbróglio da ficção nasce de uma alegada fórmula para ‘curar’ a celulite, a doméstica começa o filme reclamando de Glória. É crente e adverte a personagem da empresária de que o Senhor (e aponta para o céu) está vendo tudo (a tentativa da ricaça de se equiparar a Ele). Só que doméstica também é filha de Deus, ele que nos perdoe e, no final, o senhor a que Priscilla Marinho – a atriz que faz o papel – se rende é um tipo bem terreno. 

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Com boas tiradas (e observações), o filme é curto (na duração) e acelerado (no ritmo). Não tem o objetivo de permanecer (como uma obra de arte), mas proporciona algumas surpresas. A desenvoltura de Glória Pires não chega a ser uma delas, porque ela é sempre boa. Antônia Morais, a filha, é gracinha, mas se o filme tem um destaque inesperado no elenco é Emílio Dantas, o dublê de psicólogo e vidente. Pois tudo depende da química não sexual entre Glória e ele, e da tensão erótica entre Emílio e Antônia. Cazuza no palco e, na tela, ator de Oswaldo Montenegro (em Léo e Bia), o garoto corresponde. 

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