Na 70ª edição do Festival de Cannes, 18 longas disputam a Palma de Ouro

Brasil ficou fora da disputa; pipocam acusações de que o evento estaria selecionando 'mais do mesmo' há tempos

PUBLICIDADE

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Michael Haneke, Sofia Coppola, Todd Haynes, sim, mas, ao contrário de Berlim, em fevereiro, que teve destacada participação do cinema brasileiro – a começar por Joaquim, de Marcelo Gomes, na competição –, o Festival de Cannes não terá filmes do Brasil em suas mostras principais, em 2017. Numa coletiva realizada na manhã de quinta-feira, 13, em Paris, o delegado-geral Thierry Frémaux e o presidente Pierre Lescure anunciaram os títulos que integram a seleção oficial do 70.º festival, que ocorre entre 17 e 28 de maio. A seleção oficial inclui a competição e a mostra Un Certain Regard/Um Certo Olhar.

PUBLICIDADE

Este ano, 18 longas vão concorrer à Palma de Ouro, mas a abertura oficial, fora de concurso, será com um filme de Arnaud Desplechin. Em Les Fantômes d’Ismaël, um diretor, às vésperas de iniciar novo filme, reencontra a mulher que foi, há 20 anos, seu grande amor. Mathieu Amalric forma o casal no presente e Louis Garrel e Marion Cotillard a dupla no passado. Só para lembrar, Garrel e a deslumbrante Marion estiveram juntos na seleção do ano passado em Mal de Pierres, de Nicole Garcia.

Imediatamente, começaram a pipocar nas redes sociais as acusações que, há tempos, se fazem ao festival. A seleção oficial, e a competição, privilegiam os autores consagrados. Mais do mesmo. Michael Haneke, chamado de ‘rei da Áustria’ por The Guardian, já recebeu duas Palmas – por A Fita Branca e Amor – e agora vai tentar a terceira com Happy End. Nada mais distante que um final feliz no cinemas de Haneke, e dessa vez ele encara a indiferença da burguesia europeia contemporânea pelo dramas dos refugiados. Isabelle Huppert, Jean-Louis Trintignant (ambos de Amor) e Mathieu Kassovitz estão no elenco. Happy End só pode ser ironia.

Thierry Fremaux e Pierre Lescure no anúncio da programação da 70.ª edição do Festival de Cannes Foto: EFE/Ian Langsdon

Embora só tenha concorrido uma vez à Palma – e não a levou, com Marie Antoinette –, Sofia Coppola é uma autora chique e habitué de Cannes. Seu novo filme se inspira na mesma história que inspirou um clássico de Don Siegel com Clint Eastwood no começo dos anos 1970 – The Beguiled/O Estranho Que Nós Amamos. Sofia trará seu elenco para o tapete vermelho – Colin Farrell, no papel de Clint, Nicole Kidman, Elle Fanning e Kirsten Dunst. Não seria um filme de Sofia sem essa última. A trama – violenta – trata de um soldado ferido que, na Guerra Civil dos EUA, se refugia num internato de garotas. Sua presença viril provoca o desejo reprimido de professoras e alunas. No original, o descontrole das paixões leva a um final simbolicamente castrador. Como será com Sofia?

Vencedor, há dois anos, do prêmio do júri, o grego Yorgos Lanthimos, de The Lobster – e o filme concorreu ao Oscar de roteiro –, volta a Cannes com um filme de título intrigante – The Killing of a Royal Deer, A Matança de Um Cervo Real. Trata-se de uma adaptação de Eurípides, e adivinhe com quem? Colin Farrell, que já estava em The Lobster, e Nicole Kidman. Não, Jean-Luc Godard não integra a seleção, mas Louis Garrel (de novo!) faz o papel de... Godard! em Le Redoutable, de Michel Hazanavicius. O filme narra o romance entre o autor mais revolucionário dos anos 1960 e a atriz de Robert Bresson (Au Hasard Balthazar), Anne Wiazemsky, tal como ela o reconstitui em livro. Anne virou escritora, e grande. O diretor Hazanavicius salta do cinema silencioso de O Artista para as barricadas do mítico Maio de 68. Entre esses dois filmes, Hazanavicius – o Sr. Bérénice Bejo – cometeu The Search, que foi um fracasso, mas há expectativa por sua história de amor, revolução e arte.

Não faltam outros romances para erotizar (e neurotizar) a competição. A Gentle Creature, do russo Sergei Loznitsa, baseia-se em Dostoievski e mostra marido velho obcecado por sua mulher jovem. A coisa, na literatura, não termina bem. Rodin, de Jacques Doillon, dramatiza o momento em que o escultor, interpretado por Vincent Lindon, vê entrar em sua vida o furacão Camille Claudel. L’Amant Double, de François Ozon, é sobre garota instável que se relaciona com seu psiquiatra e o cara tem uma vida dupla.

Da Coreia do Sul virão dois filmes de natureza bem distinta. O incansável Hong Sang-soo, que já ganhou em Berlim, em fevereiro, com On the Beach at Night Alone – melhor atriz para Kim Minhee –, corre pela Palma com The Day After, e todo filme do Eric Rohmer oriental é sobre relacionamentos. O outro sul-coreano é Bong Joon-ho, produzido pela Netflix. Okja é sobre garota que tenta proteger o amigo, só que ele é um animal gigantesco, que mete medo em todo mundo (menos nela). Também do Oriente, a japonesa Naomi Kawase propõe outro daqueles mistérios de que só ela possui o segredo – Radiance é sobre uma fotógrafa que se relaciona com um velho que está perdendo a visão e ele lhe revela um mundo invisível para os olhos.

Publicidade

E ainda nem falamos de Wonderstruck, do cultuado Todd Haynes (Carol), baseado num livro infantil e que conta o improvável (impossível?) encontro entre duas crianças que vivem em 1927 e 1977. A competição ainda terá filmes do turco-alemão Fatih Akin, In the Fade; do romeno Kornél Mundruczó, Jupiter’s Moon; e do norte-americano Noah Baumbach, The Meyerowitz Stories.

Fora de competição, além do Desplechin, estarão Agnès Varda (Villages, Visages) e o mestre japonês de ação Takashi Miike, com Blade of the Immortal. Mathieu Amalric, que abre a competição como ator, no Desplechin, abre como diretor a mostra Um Certo Olhar, com Barbara. Também em Un Certain Regard estarão L’Atelier, de Laurent Cantet; Before We Vanish, de Kiyoshi Kurosawa; e Fortunata, de Sergio Castellitto. Nas sessões especiais destacam-se Twin Peaks, de David Lynch, outro Hong Sang-soo, Claire’s Camera – mas como esse cara consegue filmar tanto? –, o novo Claude Lanzmann, Napalm, e Vanessa Redgrave e Kristen Stewart como diretoras, com Sea Sorrow e Come Swim. Mais dos mesmos? Até certo ponto, mas com promessas de coisas diferentes.

NA COMPETIÇÃO

The Meyerowitz Stories, de Noah Baumbach 

Okja, de Bong Joon-Ho

Aus Dem Nichts (In The Fade), de Fatih Akin

120 battements par minute, de Robin Campillo 

Publicidade

The Beguiled, de Sofia Coppola

Rodin, de Jacques Doillon

Happy End, de Michael Haneke

Wonderstruck, de Todd Haynes

Le Redoutable, de Michel Hazanavicius

Geu-Hu (The Day After), de Hong Sang-soo

Hikari (Radiance), de Naomi Kawase

Publicidade

The Killing Of A Sacred Deer (Mise à mort du cerf sacré), de Yorgos Lanthimos 

A Gentle Creature, de Sergei Loznitsa 

Jupiter’s Moon, de Kornél Mandruczó 

L'Amant Double, de François Ozon

You Were Never Really Here, de Lynne Ramsay 

Good Time, de Ben Safdie e Joshua Safdie 

Nelyubov (Loveless), de Andrey Zvyagintsev

Publicidade

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.