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"Munique", um filme polêmico de Steven Spielberg

O filme que disputa duas categorias do Globo de Ouro e é forte candidato ao Oscar, toca na polêmica relação entre israelenses e palestinos. Trailer de "Munique"

Por Agencia Estado
Atualização:

Munique, o novo filme de Steven Spielberg, toca no ponto nevrálgico das relações entre israelenses e palestinos, e já causa polêmica antes mesmo da estréia mundial, prevista para o dia 23, ao abordar o assassinato cometidos pelo Mossad após massacre de israelenses nos Jogos Olímpicos de 1972, em Munique, na Alemanha, e a resposta de Israel diante do ocorrido. O filme, que é forte candidato ao Oscar, concorre em duas categorias do Globo de Ouro: Spielberg disputa o prêmio de melhor diretor e Eric Roth, o de roteiro. Depois de passar anos apoiando causas democratas como um dos mais conhecidos progressistas de Hollywood, Steven Spielberg está cobrando velhos favores políticos enquanto se prepara para uma comoção em torno de sua primeira incursão cinematográfica no conflito israelense-palestino. AP/Steven Spielberg Semanas antes do lançamento de Munique, seu relato da resposta de Israel ao massacre de atletas israelenses nos Jogos Olímpicos de 1972, Spielberg consultou o ex-presidente americano Bill Clinton sobre a possível reação internacional a um filme já considerado forte candidato ao Oscar no ano que vem. Funcionários palestinos e israelenses manifestam preocupação com o tema do filme: o plano de Israel de caçar e assassinar os palestinos responsáveis pela morte de 11 atletas. 7Clinton leu o roteiro e encorajou vários ex-assessores a ajudar Spielberg a se preparar para a reação política a um filme cujos astros incluem Daniel Craig, o ator britânico escolhido recentemente para ser o próximo James Bond. Dennis Ross, ex-enviado de Clinton ao Oriente Médio, apresentou Spielberg a funcionários palestinos e israelenses. O diretor também está sendo aconselhado por Mike McCurry, ex-porta-voz da Casa Branca de Clinton e hoje um proeminente estrategista democrata. Munique será lançado nos EUA no dia 23, a tempo para a premiação da Academia no ano que vem (no Brasil, a estréia está prevista para 27 de janeiro). Um trailer curto divulgado recentemente na internet alimentou especulações de que o filme poderia ter tanto sucesso quanto A Lista de Schindler, o longa de 1993 sobre o Holocausto que ganhou sete Oscars, incluindo o de melhor diretor para Spielberg. No mês passado, circularam notícias de que Kathleen Kennedy, produtora de longa data de Spielberg, afirmou a amigos que Munique ?pode ser o melhor? filme do diretor. No entanto, nem o prestígio de Spielberg, nem sua reputação de sensibilidade em assuntos difíceis evitaram uma troca de farpas antecipada entre facções em conflito no Oriente Médio. O ataque em Munique foi lançado pelo grupo Setembro Negro, da Fatah, facção de Yasser Arafat. Spielberg já inspirou uma rara declaração pública de Abu Daoud, o ex-líder do Setembro Negro, que vive na clandestinidade desde 1999, quando afirmou ter concebido o ataque à delegação olímpica de Israel para divulgar a causa palestina. Daoud reclamou que Spielberg não o consultou: ?Se alguém realmente quisesse contar a verdade sobre o que aconteceu, falaria com as pessoas envolvidas, as pessoas que conhecem a verdade.? Daoud escapou por pouco de uma tentativa de assassinato na Polônia em 1981. Mais de dez palestinos do grupo foram mortos por assassinos israelenses. Spielberg, que é judeu, é visto em grande parte do Oriente Médio como simpático a Israel. Mas os protestos mais veementes contra Munique vêm de israelenses preocupados com notícias de que os assassinos de Israel, no filme, questionam a moralidade de sua missão. Entre as fontes que Spielberg diz ter consultado para o filme está o livro A hora da vingança, que conta a história de um membro do esquadrão da morte. A versão do livro sobre uma equipe multinacional de assassinos - incluindo um britânico, interpretado por Craig - foi desmentida por muitos em Israel, onde Gad Shimron, ex-agente do Mossad, o serviço secreto, disse recentemente ao jornal Variety, de Hollywood: ?Não faz nenhum sentido. É totalmente infundado.? ?Este enredo atraente sobre um esquadrão épico formado por um alemão, um francês, um americano e um britânico soa como um bando de palhaços brincando de guerrilheiros atrás das linhas inimigas?, acrescentou Shimron. ?Nunca aconteceu desse jeito.? Zvi Zamir, ex-chefe do Mossad, também se disse ?surpreso? com o fato de Spielberg recorrer ao livro. Outros agentes qualificaram de ficção a afirmação da obra segundo a qual Golda Meir, então primeira-ministra de Israel, aprovou pessoalmente uma missão de extermínio apelidada de ?Ira de Deus?. Porta-vozes de Spielberg insistem que A hora da vingança foi apenas uma das muitas fontes do filme. E Ross, o ex-enviado americano, entrou em cena para garantir aos israelenses que a versão de Spielberg é ?uma narração responsável da história que usa licenças dramáticas, pois não tenta ser um documentário?. Para Spielberg, a controvérsia pode ter efeitos positivos e negativos. Poucos diretores fogem da publicidade para seus filmes, mas uma disputa séria sobre a credibilidade de Munique poderia prejudicar o longa aos olhos dos jurados do Oscar. Eles vão analisar, entre outros concorrentes, o filme Syriana - uma complicada história de fraudes envolvendo o petróleo no Oriente Médio estrelada por George Clooney. Syriana já ganhou resenhas entusiasmadas. O forte contingente judeu da Academia também poderá se voltar contra Spielberg se a reação de Israel for hostil. Buscando a ajuda de Clinton e seus assessores, o diretor parece tomar todas as precauções para evitar uma disputa prejudicial. Até agora, sua estratégia aparentemente funcionou. ?Se Munique tiver o nível de qualidade de A Lista de Schindler, será o favorito?, afirmou o jornal New York Daily News. ?Ninguém viu o filme?, reconheceu Emmanuel Levy, autor de Nos Bastidores do Oscar. ?No entanto, pelo assunto e pelo diretor, é dele que as pessoas estão falando.?

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