Mulheres dão o tom da Mostra neste sábado

Yoani Sánchez é tema de documentário que acompanha sua conturbada passagem pelo Brasil; Deborah Secco põe tudo abaixo em 'Boa Sorte'

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Deborah Secco é arrasadora como a drogadita de Boa Sorte. No filme de Carolina Jabor, ela já é interna no instituto psiquiátrico para o qual os pais enviam o personagem de João Pedro Zappa. Ele se apaixona por ela. Está a ponto de destruir-se. O que Deborah – sua personagem – faz é o elemento diferenciador de Boa Sorte. A grosso modo, pode-se dizer que Carolina Jabor fez Um Estranho no Ninho, o clássico de Milos Forman, em versão nacional. A dupla principal tem química. Deborah é excepcional no papel. É uma atriz de cinema. Representa com os olhos, dando razão a Nicholas Ray, que dizia que o cinema é a melodia do olhar.

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As mulheres dão o tom do sábado, 18, na 38.ª Mostra. Deborah, com seu talento, sua beleza. Mas tem também Yoani Sánchez. É uma personagem da era da internet, das redes sociais. Yoani, com seu blog, tornou-se um ícone da contestação ao regime cubano. Por isso mesmo, tem seguidores e opositores. Durante muito tempo, ela lutou por um visto e o direito de sair de Cuba para conhecer o Brasil. Uma mudança na legislação permitiu-lhe finalmente realizar o sonho. 

No Brasil, foi agredida verbalmente por simpatizantes do regime cubano, que a acusaram de ser agente da CIA. Surpreendentemente, mas não tanto, ganhou a defesa do senador petista, que agora se despede do Congresso, Eduardo Suplicy.

Yoani. Símbolo de resistência no regime cubano Foto: DIVULGAÇÃO

Um documentário que passa neste sábado, 18, domingo, 19, e quarta-feira, 22, na Mostra resgata a viagem de Yoani. Chama-se mesmo assim: A Viagem de Yoani. Peppe Siffredi e Raphael Bottino são os diretores. Eles dão a palavra a Yoani. Ela conta que construiu seu primeiro computador e criou um blog sem ter acesso à internet em casa. O blog Generation Y estourou, com milhões de views. Yoani tornou-se a porta-voz dos descontentes da sua geração. 

Não é raivosa. Yoani não nega o regime cubano em bloco. Reconhece os avanços na educação e na saúde, mas pertence a uma geração que tem usado as redes sociais para tentar mudar o mundo. Seu protesto encontra ressonância nas críticas de Eduardo Suplicy, que não é exatamente, ou não é nem um pouco, inimigo do socialismo cubano.

Por seu blog, Yoani não encontrou apenas seguidores. Ganhou prêmios, virou símbolo de resistência num país – a ilha – em crise de sobrevivência. Siffredi e Bottino não deixam de mostrar que o problema talvez não sejam Yoani e seu blog, mas o uso que os opositores do regime fazem dele, forçando a radicalização. 

No ano passado, houve protestos contra a exibição do documentário Conexão Cuba-Honduras, do cineasta Dado Galvão, no qual ela presta depoimento. A voltagem política, pró e contra, não deixa margem para a discussão estética. Quase não se fala desses filmes como 'cinema'. O curioso é que o recente Cuba Livre, de Evaldo Mocarzel, sobre a volta da atriz transexual Phedra à ilha, passou meio batido nos cinemas. A discussão da homossexualidade em Cuba também faz parte da liberdade de expressão, mas Cuba Livre, certamente mais simpático ao regime – apesar dos problemas que aponta –, não despertou míseros 10% dos posicionamentos inflamados que a simples existência de Yoani Sanchez provoca.

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APOSTAS DO DIA

‘Infância’

De Domingos Oliveira (Brasil). Obra mais recente do veterano diretor carioca, mergulha em seus anos de formação e traça painel do Brasil dos anos 1950.

‘Um Cão Andaluz’ e ‘A Idade de Ouro’

De Luis Buñuel (França). Duas obras que marcaram o surrealismo no cinema, feitas em parceria entre o diretor e seu então amigo Salvador Dali.

‘Boa Sorte’

De Carolina Jabor (Brasil). Deborah Secco num papel a que seus fãs não estão habituados: ela é uma doente terminal que tenta encontrar sentido para o desfecho de sua vida.

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‘Carta a um Pai’

De Edgardo Cozarinsky (Argentina). O diretor, um conhecido crítico e escritor, mal conheceu o pai, um oficial da marinha. Tenta revivê-lo a partir de velhas fotos e de sua própria memória, num filme comovente.

‘Chocolat’

De Claire Denis (França-Alemanha-Camarões). Francesa retorna à África para relembrar sua infância num posto militar – e se expóe à complexidade dos relacionamentos numa sociedade racistas. 

‘Salto no Vazio’

De Marco Bellocchio (Itália-França-Alemanha). Juiz foi criado pela irmã, que tem tendências suicidas. Quando ela se envolve com um ator, ele se vê dominado pelo ciúme.

‘Verão’

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De Colette Bothof (Holanda). Anne se sente uma estranha entre seus amigos até conhecer Lena. 

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