'Mother' traz personagem que luta para provar inocência

Longa coreano de Bong Joon-ho é um drama seco e familiar primoroso, com a força da atriz Kim Hye-ja

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Por Reuters
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Nunca subestime a força de uma mãe desesperada. É essa a lição que se aprende do longa coreano "Mother - A Busca pela Verdade", que estreia em São Paulo, Brasília, Juiz de Fora e Vitória.  

 

 

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  O filme é dirigido por Bong Joon-ho, cujo terror "O Hospedeiro" tornou-se um grande sucesso de bilheteria em seu país há alguns anos. Aqui, no entanto, não há monstros, nem uma trama policial, como em seu outro filme famoso, "Memórias de um Assassino".

Em "Mother...", Bong envereda por outro caminho: um drama, seco e familiar. A protagonista é interpretada pela atriz veterana Kim Hye-ja, muito conhecida em seu país especialmente por fazer figuras maternas. É tamanha a sua sensibilidade como atriz que ela bem pode ser descrita como uma espécie de Fernanda Montenegro da Coreia do Sul, tanto por sua presença hipnótica na tela, quanto pela forma como sua personagem é construída e desenvolvida. Ela é uma mãe-coragem que cuida de seu filho de 27 anos Do-jun (Weon Bin), que ainda não cortou o cordão umbilical. Isto mais por conta do excesso de zelo por parte dela do qualquer outra coisa. O personagem do filho até é apresentado como intelectualmente limitado e excessivamente ingênuo, mas o sufocamento maternal pode ser a causa primária dos problemas que os dois passam a enfrentar quando a trama de "Mother..." entra nos trilhos. Essa castração emocional pode ser tanto a causa dos problemas, quanto a salvação para Do-Jim. O único amigo do rapaz é Jin-tae (Jin Gu), uma espécie de bad boy local na cidadezinha do interior onde moram a mãe viúva e o filho. Ela não gosta do amigo e passa a ter ainda mais razões para repudiar a relação quando seu filho é preso, acusado de assassinato. O sistema judiciário do país parece pouco confiável, pois logo o rapaz é indiciado e o advogado de defesa mal se dá ao trabalho de defendê-lo. Caberá à mãe-coragem fazer sua própria investigação e provar a inocência de seu filho que, para ela, é inquestionável. Os caminhos sugeridos pelo roteiro de Bong e Park Eun-Kyo e Park Wun-kyo são imprevisíveis, mas, ao mesmo tempo, bastante plausíveis. A investigação da mãe é, por fim, um verdadeiro questionamento do papel materno. Sua jornada para salvar a vida do filho é, também, a sua própria jornada de descoberta. Poucas vezes um filme consegue ser tão cinematográfico ao contar uma história que, em sua essência, tem pouca novidade. O que se destaca aqui não é o tema, mas a forma como Bong conta essa história. Nesse aspecto, o filme é primoroso. Sempre com poucos elementos, sem excessos, o diretor explora a natureza humana. "Mother - A Busca pela Verdade" começa e termina com cenas de dança. A primeira é a mãe dançando meio sem jeito, totalmente solitária num campo verde, enquanto aparecem os créditos. Ao final, a dança, o contexto e atmosfera são outros. A protagonista passou por grandes transformações. A dança é tão bonita quando aquela que abre o filme, mas completamente diferente. Entre esses dois extremos de poesia, Bong compõe um filme que lembra que o belo pode emergir do grotesco e do assustador. (Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

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