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Mostra traz vencedores de Veneza e Cannes

Palavra e Utopia, de Manuel de Oliveira que estreou em Veneza e Dancer in the Dark o musical que Lars Von Trier fez com tecnologia de ponta, vencedor em Cannes estarão na Mostra de Cinema de Leon Cakoff

Por Agencia Estado
Atualização:

Nada mais difícil do que falar com Leon Cakoff na segunda-feira. No sábado, ele estava no Lido, para o encerramento do Festival de Veneza. No domingo, fez a viagem de volta. Mal desembarcou no escritório da Mostra Internacional de Cinema, na Alameda Lorena, entrou numa roda-vida de telefonemas. Todos, ou quase todos, ligados à mostra. A 24.ª edição do evento deve ocorrer em outubro, de 19 a 2 (de novembro). A reportagem já havia antecipado que o novo filme de Manoel de Oliveira, Palavra e Utopia, será o programa de abertura. Pode confirmar agora por que Cakoff está tão exultante. Ele conseguiu garantir a participação na mostra dos dois grandes vencedores dos mais importantes festivais de cinema que ocorrem no mundo - os de Cannes e Veneza. Dancer in the Dark o musical que Lars Von Trier fez com tecnologia de ponta - faz parte do marketing do filme a informação de que o cineasta teria usado cem (cem!) câmeras digitais numa só cena - está confirmado. Até aí, tudo bem. O filme foi comprado para o Brasil (pela Imovision) e Cakoff teve mais de quatro meses para negociar a apresentação, já que Cannes ocorreu em maio. Trazer O Círculo, que ganhou em Veneza, foi um esforço de produção. Ajudou bastante o fato de Cakoff ser reconhecido como o amigo do cinema iraniano no País. O filme de Jafar Panahi sobre a condição das mulheres no Irã está confirmado. E o próprio diretor, que foi jurado em 1998 - o ano de O Espelho -, deve voltar ao Brasil, o que só depende de um acerto de datas. Um elemento de estresse já foi eliminado. Houve anos em que, às vésperas da realização da mostra, Cakoff ainda corria atrás de patrocínio. Orçada em R$ 2,1 milhões, a 24.ª mostra já resolveu a questão do patrocínio. Petrobrás, a holding, e BR Home Shopping são os principais patrocinadores. DirecTV, Sesc e Secretaria de Estado da Cultura são alguns dos patrocinadores. Luke Strike e Cinemark, que dá a mídia da mostra, são os principais apoiadores. Cakoff calcula cerca de 200 programas, entre longas e curtas. Serão exibidos no Espaço Unibanco e nas demais salas - Cinearte, Cineclube Vitrine, Cinemateca, Centro Cultural São Paulo e UOL. Os filmes serão exibidos em dois módulos - perspectiva internacional e competição, exclusiva para novos diretores (até o segundo filme). Haverá uma minirretrospectiva do diretor indiano Satyajit Ray, a exibição especial de 12 horas de material filmado por Louis Feuillade, o chamado ´Griffith francês´, autor de Fantomas e Les Vampires; um workshop de cinema a ser realizado na Escola de Comunicações e Artes da USP, com um painel aberto ao público - dele vão participar a diretora Tata Amaral, o consultor de roteiros Sy Field e o professor de Cinema e TV da City University, de Nova York, Jerry Carlson. Tem mais - Para atualizar o público brasileiro com as novas tecnologias que prometem mudar a face do cinema (e o musical de Lars Von Trier é considerado ponta-de-lança dessas novas tendências), será realizado um simpósio sobre cinema digital. Estarão no Brasil, trazidos pela mostra, representantes da Barco Digital Cinema e Texas Instruments, líderes mundiais em tecnologia analógica, além de empresas ligadas ao desenvolvimento e fabricação de projetores específicos para o cine web. Resta a questão dos filmes que integram o programa. Por mais atraentes que sejam os vencedores de Cannes e Veneza, Cakoff não quer superestimar a exibição de Dancer in the Dark e O Círculo. Ele acha que um dos objetivos da mostra sempre foi trazer a novidade internacional para os cinemas brasileiros. Mas diz que nunca apostou só nos talentos já consagrados. "Sempre quis revelar novos talentos", conta. A mostra deste ano garimpa as descobertas que Cakoff e sua mulher, co-organizadora do evento, Renata de Almeida, viram nos festivais internacionais que freqüentaram. Não adianta perguntar os nomes dos filmes ou diretores. "Se é descoberta, o próprio público tem de se encarregar de descobrir esses novos talentos e para isso, só posso sugerir que as pessoas vejam todos os programas e não se prendam só aos grandes filmes que centralizam as atenções da mídia." Alguns dos 200 programas despertam, de qualquer maneira, atenção especial. Dancer in the Dark, O Círculo e o belíssimo In the Mood for Love, de Won Kar-wai, também premiado em Cannes, estão entre eles, mas há mais - muito mais. Estão confirmados: The Limey, de Steven Soderbergh; Coisas Que Você Pode Dizer apenas Olhando para Ela, de Rodrigo García filho do escritor Gabriel García Márquez; Código Desconhecido, de Michael Haneke, polêmico diretor do bem-feito mas repulsivo, Funny Games; Gotas d´Água em Pedras Escaldantes, de François Ozon, baseado numa peça de Rainer Werner Fassbinder; O Lixo e a Fúria, de Julian Temple, documentário sobre a banda Sex Pistols; O Jantar, de Ettore Scola; Capitães de Abril, de Maria de Medeiros; De Cara Limpa, de Sérgio Lerrer, filme brasileiro feito com tecnologia digital; Amores Perros, de Alejandero González Inárritu, premiado em Cannes; e Antes Que Anoiteça, de Julian Schnabel baseado no livro do cubano Reynaldo Arenas. Em matéria de escândalo, a mostra também já está guarnecida. Virão dois filmes que provocaram sensação em Veneza. O português O Fantasma, de João Pedro Rodrigues, fez sensação no Lido por seu relato cru sobre o mundo sadomasoquista dos gays de Lisboa. Mais forte ainda - houve gente desmaiando na sala durante a exibição oficial -, A Ilha, do coreano Kim Ki-duk, trata da prostituição numa comunidade de pescadores, com cenas de uma violência que seria escatológica se o diretor, garantem os críticos, não tivesse, como tem, um verdadeiro temperamento artístico. Diversos convidados já confirmaram presença. De Portugal virá uma equipe das mais respeitáveis - o diretor Manoel de Oliveira e o produtor Paulo Branco, de Palavra e Utopia, a atriz e diretora Maria de Medeiros e o ator Joaquim de Almeida, de Capitães de Abril. Outra participação portuguesa importante - Leonor Silveirinha, a Bovarinha da obra-prima de Oliveira, Vale Abraão, confirmou na segunda-feira que virá para o júri. Outros dos sete jurados serão o diretor romeno Radu Mihaileanou, do belíssimo Trem da Vida, e Richard Dindo, autor de um filme que integrará o programa da mostra - Genet em Shatila, sobre a experiência do escritor na Sicília.

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