Mostra traz filme polêmico, "11´09´´01"

Precedida por um minuto de silêncio, justamente neste horário, o Festival do Rio BR 2002 exibe um dos filmes mais aguardados da programação

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Por Agencia Estado
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Domingo às 11 e 21 horas, no Cine Odeon. Precedida por um minuto de silêncio, justamente neste horário, o Festival do Rio BR 2002 exibe um dos filmes mais aguardados da programação. A mostra Limites e Fronteiras é a menina dos olhos de Ilda Santiago, que não é só uma das integrantes do colegiado de oito pessoas que organiza o evento - o G-8 do festival -, mas também uma das duas (com Walkíria Barbosa) que fala pelo grupo. Em 2000, houve uma mostra intitulada Filme e Realidade. No ano passado, outra que se chamou Desafios do Milênio. Este ano, é Limites e Fronteiras, a seção do Festival do Rio BR 2002 que discute os temas da atualidade política internacional. E que outro tema tem mais atualidade do que o fatídico 11 de setembro? A idéia desse filme nasceu de um produtor francês, Alain Brigand. Foi ele quem reuniu 11 diretores de todo o mundo num projeto coletivo para refletir sobre o significado dessa data trágica e os seus desdobramentos na história do século 21. Brigand poderia ter escolhido diretores afinados com as idéias do presidente George Bush. Seguiu o caminho inverso. Reuniu 11 cineastas que podem até ser chamados de antiamericanos, mas com certeza não são anti-humanistas. Eles filmam o 11 de setembro sem cair na simplificação de um embate maniqueísta entre as forças do bem (os EUA) e o mal (o restante do mundo, especialmente o que reza pela cartilha do Alcorão). Pegue-se por exemplo o episódio de Alejandro González-Iñarritu, o diretor de Amores Brutos. Como todos os demais, o episódio dele dura exatamente 11 minutos e 9 segundos. Era uma das exigências do projeto, cujo título - 11´09´´01 - evoca justamente o dia em que a Terra parou. O cineasta mexicano mostra a tela preta durante quase todo o tempo. Vê-se apenas breves flashes (que duram segundos) com as imagens das pessoas que se atiraram das torres gêmeas, quando o World Trade Center, atingido pelos dois aviões, pegou fogo, antes de desabar. São imagens impressionantes e na trilha ouvem-se sons: gritos, falas de repórteres, todo tipo de ruído de uma cidade convulsionada como ficou Nova York, naquele dia. No fim, aparece uma frase em árabe e, logo em seguida, em inglês: O Deus que ilumina é o mesmo que pode cegar? Cada diretor fez seu episódio como queria. O japonês Shoei Imamura é o único a prescindir das imagens do World Trade Center em chamas. Narra a história de um soldado japonês que voltou tão perturbado da 2.ª Guerra Mundial que se arrasta pelo chão, como se fosse uma serpente. No final, uma frase completa a de González-Iñarritu: Não existe guerra santa. No seu impressionante Chuva Negra, que não deve ser confundido com o thriller eletrizante de Ridley Scott, Imamura, ao filmar os efeitos devastadores das bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, já havia deixado claro que toda guerra é suja. A iraniana Samira Makhmalbaf dirige o primeiro episódio. É uma pérola de simplicidade. Mostra os preparativos, precários, de uma aldeia do Afeganistão para resistir ao iminente bombardeio americano. Samira retoma temas de O Quadro-Negro. A professora reúne os alunos e pergunta às crianças se sabem o que ocorreu de terrível, no mundo, no dia 11 de setembro. Elas relatam eventos do seu cotidiano: fulano caiu e quebrou a perna, um velhinho morreu. Nenhuma tem a dimensão do horror, nem quando a professora as leva para junto da única torre local, para tentar explicar-lhes o que seriam as torres gêmeas. Num plano-seqüência magistral, que dá prosseguimento à experiência de Kedma, o israelense Amos Gitai segue a mesma linha de Samira ao mostrar uma repórter que tenta colocar no ar sua matéria sobre uma bomba que explodiu em Tel-Aviv. Mortos, feridos, chamas, pára-médicos, policiais atônitos. O editor, chamado às pressas, informa que nada daquilo tem importância, em face da magnitude do atentado que acaba de ocorrer em Nova York. Não há um episódio que não seja interessante ou não traga uma contribuição valiosa ao tema: os de Denis Tanovic, Youssef Chahine, Idrisa Ouedraogo, Mira Nair, Sean Penn, até o de Claude Lelouch. Mas há um especial: no de Ken Loach, um chileno escreve uma carta emocionada e lembra que, em outro 11 de setembro, em 1973, a democracia também foi ferida no Chile, com o ataque ao Palácio de La Moneda, que terminou com a morte do presidente constitucional Salvador Allende e o início da ditadura de Augusto Pinochet. Filmes do Estação, que distribui esse documento tão valioso, estuda a possibilidade de lançar 11´09´´01 logo após o encerramento do festival, em 11 de outubro.

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