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Mostra revê ousadia do cinema de Eisenstein

Ciclo no Espaço Unibanco, de hoje a domingo, expõe a ousadia estética e a importância como experimentalista do diretor de O Encouraçado Potemkim

Por Agencia Estado
Atualização:

De Sergei Eisenstein basta lembrar o que dele disse o historiador Eric Hobsbawm: ele filmou os seis minutos mais influentes da história do cinema. Hobsbawm refere-se à seqüência da escadaria de Odessa em O Encouraçado Potemkim, clássico do cinema mudo que faz parte da mostra em homenagem ao diretor. A retrospectiva foi programada para acompanhar o lançamento do livro Eisenstein e o Construtivismo Russo (Cosac & Naify) e inclui mais seis filmes do diretor, além de Potemkim: A Greve, Outubro, A Linha Geral, Ivan, o Terrível, partes 1 e 2, e Alexander Nevski. A mostra começa hoje, às 20 horas, no Anexo 4 do Espaço Unibanco de Cinema, com a exibição de A Greve, e prossegue até domingo, em sessões sempre no mesmo horário. Quarta-feira haverá o lançamento do livro, seguido da exibição de Outubro e debate coordenado pelo professor da USP Ismail Xavier. O termo usado por Hobsbawm (na verdade citação de um texto de Manvell, 1944), "influente", define bem não só os seis minutos de Odessa, mas o conjunto do cinema de Eisenstein. Não apenas na condição de cineasta, mas também como teórico da montagem e escritor, Eisenstein passou a fazer parte do tecido cultural cinematográfico, entrando de maneira inconsciente mesmo no imaginário de quem não conhece seus filmes. Às vezes é citado explicitamente, como em Os Intocáveis, de Brian de Palma, que reconstitui plano a plano, mas em outro contexto, a seqüência da escadaria. Quem a viu não esquece jamais. Os soldados do czar tentam reprimir uma rebelião de marinheiros em Odessa, na Rússia pré-revolucionária. Uma mãe empurra o carrinho do seu bebê, é baleada e cai. O carrinho, solto, começa a descer a escadaria, descontrolado, e a câmera assume o seu ponto de vista, enquanto se vêem as pessoas caindo, feridas, sendo pisoteadas, as botas dos soldados, o desespero. Eisenstein se inscreve na história do cinema, não apenas pelas citações de que é alvo ocasional, mas pela excepcional qualidade de suas obras, e por aquilo que elas expressam: uma revolucionária teoria da montagem, na qual as "atrações" de imagens são rigorosamente dispostas de modo a produzir o máximo de impacto psicológico sobre o espectador. Eisenstein não era apenas cineasta. Foi um intelectual completo. Nasceu em Riga, na Letônia, em 1898, numa família culta, aberta às informações vindas dos centros do pensamento europeu, Alemanha, França e Inglaterra. Jovem, interessa-se por artes plásticas, poesia e pintura. Durante a guerra civil, em 1918, ele se alista no Exército Vermelho. Desmobilizado em 1920, interessa-se pelo teatro. Apaixona-se pelo kabuki e estuda línguas orientais, conhecimento que lhe valerá muito como cineasta. Ele fica impressionado pelo modo como essas escritas se valem da disposição dos ideogramas para expressar idéias e aplicará esse conhecimento na teoria da montagem, achando que os ideogramas abrem caminho para uma "lógica afetiva interna", diferente da lógica usual.

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