Mostra resgata astros do cinema mudo japonês

O Cinema Silensioso Japonês, no CCSP, resgata a arte dos narradores de filmes mudos japoneses, os benshi

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Por Agencia Estado
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Até meados do século 20, os responsáveis pelas fils dos cinemas japoneses eram os benshi. Figura lendária do cinema oriental, o benshi narrava os filmes mudos. Não só narrava, como também interpretava as vozes femininas, infantis e masculinas. Os benshi eram tão famosos que cada cinema exibia em sua fachada seus nomes com mais destaque até que dos atores. Eram os benshi que atraíam o público e eram disputados pelos donos de cinema. Seu sucesso era tão grande que o cinema sonoro, que invadiu as salas dos EUA em 1927 com o Cantor de Jazz, demorou mais de dez anos para dominar o Japão. O público obrigava os exibidores a substituir o som original dos filmes estrangeiros pelos narradores. Mas, aos poucos, mesmo sob protesto, os benshi perderam a guerra. Essa tradição pouco conhecida no Ocidente é agora resgatada pela mostra O Cinema Silencioso Japonês, que exibe desta terça-feira a domingo, no Centro Cultural São Paulo, cinco filmes, dos quais quatro são mudos, realizados entre 1925 e 1931. Divulgação/Cena de Feiticeira das Águas Organizada pela Fundação Japão com apoio do Consulado Geral do Japão em SP, a mostra conta com um benshi. A bailarina, coreógrafa e diretora de dança Ângela Nagai vai narrar dois dos longas-metragens da mostra em português: I Was Born, but... (Um arte Wa Mita Keredo), ou Eu Nasci, mas..., de 1932, de Yasujiro Ozu, sexta e sábado. Quinta e domingo é a vez de Cascading White Threads (Taki-No-Shiraito), ou Feiticeira das Águas, de 1933, de Kenji Mizoguchi. "Eu Nasci, mas... é uma crônica social que revela o olhar da criança sobre o mundo. A Feiticeira é um drama. Tem mais personagens e nuances", explica Jo Takahashi, diretor de Projetos Culturais da Fundação Japão. "É um desafio. Minha formação é de dança. E não existe um curso de benshi. No fundo, ele é um superator" , conta Ângela que é formada em dança pela Unicamp e estudou dança clássica japonesa (Nihon Buyo), foi bolsista da The Japan Foundation e da Fundação Vitae. Nas duas, ela estagiou no International Noh Institute, em Kyoto. Pesquisadora do teatro nô, em outros trabalhos Ângela transportou o universo dessa arte milenar para uma fusão com a arte contemporânea. "Ainda estamos acertando detalhes. Há vozes de vários personagens que ainda não decidi que tom dar", conta a bailarina, que ganhou a ajuda da diretora Márcia Abujamra para o projeto. "Só tivemos um mês para preparar tudo. Márcia é especialista em monólogos, sua ajuda está sendo essencial. Vou narrar em português e tomei muita liberdade. Até japonês com sotaque nordestino vai ter", explica Ângela, que vai ser acompanhada pelo violonista Camilo Carrara, para Eu Nasci, mas... Para narrar A Feiticeira das Águas, ela terá a companhia da percussionista Valéria Zaidan e Tamie Kitahara, que estuda koto (espécie de cítara japonesa) e shamisen (espécie de banjo). Ângela explica que o cinema mudo japonês buscava inspiração direta no teatro nô e no kabuki. "Como no teatro, os benshi eram geralmente homens, que faziam todos os papéis." Takahashi concorda. "O cinema mudo no Japão nunca foi mudo. O público preferia os benshi", comenta. "Muito se fala dos mestres mais recentes, mas o nascimento do cinema japonês ainda é pouco conhecido." Além dos dois clássicos acompanhados pelo benshi, não perca Os Anos Dourados do Cinema, de Yoji Yamada; e os mudos Orochi e Jirokichi, The Rat Kid. Antes de cada sessão, será exibido o belo curta Chá Verde e Arroz, de Olga Futemma. O Cinema Silencioso Japonês. Terça, 16h, "Jirokichi, The Rat Kid" (1931), de Daisuke Ito, filme p/b, mudo, leg. em inglês; 18h, "Cascading White Threads" (1933), de Kenji Mizoguchi, filme p/b, mudo, leg. em inglês; 20h, "Chá Verde e Arroz" (1988), de Olga Futemma, e "Os Anos Dourados do Cinema" (1986), de Yoji Yamada, leg. em português. Centro Cultural São Paulo. Rua Vergueiro, 1.000, telefone 3277-3611. De 3.ª (6) a dom (11), grátis. Até 11/12

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