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Mostra repassa o cinema de Nelson Pereira dos Santos

Ciclo no Museu de Arte Moderna de São Paulo reúne 11 longas, um curta e mais quatro títulos em vídeo, que dão uma visão do conjunto de uma obra rica e desigual

Por Agencia Estado
Atualização:

Neo-realismo (em Rio 40 Graus e Rio, Zona Norte), vanguarda (Fome de Amor), classicismo (Memórias do Cárcere): a carreira de Nelson Pereira dos Santos é uma das mais ecléticas do cinema brasileiro. Uma das mais importantes, também. Nelson foi uma das matrizes fundadoras do Cinema Novo. E se seus últimos filmes vinham decepcionando pelo populismo e até pelo desleixo formal - caso especialmente de A Terceira Margem do Rio -, a adaptação de Casa-Grande & Senzala, apesar das simplificações, mostrou que o cineasta estava de novo em forma. É tempo de debruçar-se sobre essa obra fundamental da história do cinema no País. O Museu de Arte Moderna de São Paulo está promovendo a mostra Nelson Pereira dos Santos. Ela ocorre nos finais de semana, nos sábados e domingos, no Auditório Lina Bo Bardi, do MAM, no Parque do Ibirapuera. Às terças, as sessões realizam-se no auditório da PUC, na Rua Monte Alegre, que dispõe de apenas 40 lugares. Não é bem uma retrospectiva, pois não apresenta a íntegra da obra do diretor. Mas 11 longas, um curta e mais quatro títulos que serão exibidos em vídeo vão permitir a visão de conjunto dessa obra tão rica, apesar de (ou justamente por?) sua desigualdade. Há que reconhecer em Nelson um pensador do Brasil. Em argumentos originais e também adaptações de Nelson Rodrigues, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Gilberto Freyre e agora Sérgio Buarque de Holanda (no documentário que conclui para TV), suas escolhas formam um conjunto coerente como tentativa de se pensar este País imenso, cheio de contradições e desigualdades e também muito rico por sua diversidade cultural. O Brasil do Norte-Nordeste não é exatamente o do Sul ou do Centro-Oeste, mas a compreensão da identidade nacional tem de passar justamente por essa continentalidade Quando Nelson começa a fazer cinema, nos anos 1950, incorpora procedimentos éticos e estéticos do neo-realismo, a escola que, tendo surgido na Itália devastada pela guerra, mostrou que no cinema o importante não é a ostentação técnica e industrial, como Hollywood nos atira na cara a todo momento, mas o compromisso com a realidade humana e social. Com Vidas Secas, incorporando conquistas de Michelangelo Antonioni (na luz, na composição e duração do plano), Nelson realiza um dos momentos culminantes do Cinema Novo. No experimental Fome de Amor, soma as pesquisas de Alain Resnais às de Antonioni e concretiza um dos mais exigentes filmes de vanguarda feito no País. Fome de Amor pertence à fase de Paraty, no fim dos anos 1960, quando Nelson, para fugir à ditadura, aderiu à alegoria dominante no Cinema Novo. Essa fase culmina com o manifesto antropofágico do diretor: Como Era Gostoso o Meu Francês. Houve só um grande filme depois: Memórias do Cárcere. Redescobrir o cinema de Nelson Pereira dos Santos, no MAM e na PUC, é um ato de brasilidade. Cinemam - Nelson Pereira dos Santos. PUC - Auditório Banespa. Rua Monte Alegre, 984, tel. 3670-8265. Amanhã, às 12 horas, ´Jubiabá´/1987; e às 17 horas, ´El Justicero´/1966. Grátis. Até 5/11 MAM - Auditório Lina Bo Bardi. Portão 3 do Parque do Ibirapuera, tel. 5549-9688, ramal 3. Sessões sábados e domingos, 13h30 e 16 horas. Grátis. Até 10/11.

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