Se esta terça, 25, não for o melhor dia de toda a Mostra, estará bem perto disso.
Antes o Tempo não Acabava
Bem recebido no Festival de Berlim, em fevereiro, o filme de Sérgio Andrade e Fábio Baldo trombou, em Brasília, com a maioria da crítica e as reações iradas de antropólogos que o transformaram no anti-Martírio, o documerntário de Vincent Carelli. A tragédia do índio gay, em crise de identidade, presta-se à polêmica. Na Berlinale, teria sido o exotismo que o tornou atraente. Será? Alguns momentos são belíssimos. O índio e o garoto gritando para o rio. O índio no meio da água, gritando para a floresta. A extraterritorialidade das nações indígenas está toda nesses momentos.
Frei Caneca 2, 21h50.
Axé o Canto do Povo de Um Lugar
Para muita gente, o axé era e continua sendo sinônimo de brega. Foi preciso esse belo documentário de Chico Kertész para celebrar o que, na verdade, é uma atitude diante da vida, do mundo. Nascido no carnaval, o axé não é uma música. É todo um movimento – musical, cultural, político – baseado no sincretismo baiano. E como o Pitanga de Beto Brant e Camila Pitanga, o filme produz no espectador uma euforia, um sentimento de brasilidade. A raiz brasileira, a negritude, tudo participa do melting pot do axé. E ainda tem Luiz Caldas, Daniela Mercury, Ivete Sangalo e um grande etc.
Cinesala, 14 h.
Canção para Um Doloroso Mistério
Começando no meio da tarde e até o fim da noite. Lav Diaz precisa de oito horas para criar as intersecções de tempo que vão reconstituindo sua história da revolução filipina de 1896 e 97. O grande mistério – o que terá acontecido com o corpo do líder Andrés Bonifacio? Certos filmes extrapolam a própria importância estética. Viram verdadeiros acontecimentos, celebrações de arte e vida.
Frei Caneca 5, 15h30.
Depois da Tempestade
Mais uma história de família do grande Hirokazu Kore-eda. Um homem separado da mulher, meio à deriva na vida. Sua mãe, a ex, o filho, ele. Todos num apartamento, enquanto lá fora ruge a tormenta. Pai e filho (de novo). Palavras dilaceradas, o tempo que passa. A vida vem, eterno recomeço, mas o passado sempre pode ser nosso. Magnífico. Cinearte 1, 19h45.
Era o Hotel Cambridge
Eliane Caffé adentra o universo das ocupações urbanas. Tem-tetos, refugiados e, fazendo a ligação, atores – o grande Zé Dumont. Talvez esse tipo de realidade – realismo? - não seja o que o público quer ver, mas o filme é tão belo que o cinéfilo de carteirinha sairá perdendo, se não compartilhar essa rara experiência. Estética, política, humana. O cinema, 120 tantos anos depois, ainda pode surpreender, e maravilhar.
Cinearte 1, 21h50.
Soy Nero
O filme 'americano' do iraniano Rafi Pitts, de O Caçador, não deixa de dialogar com o de Eliane Caffé. A odisseia de um mexicano através da fronteira e, depois, em Los Angeles. Sua única chance de obter um green card nos EUA é se alistando no Exército. A cidadania ou a morte na guerra. Cruel, mas assim é a vida para os marginalizados do mundo global.
Cinesesc,17h30.
Mulher do Pai
Uma garota no interior do Rio Grande do Sul. Paisagens abertas, mas um mundo fechado. O pai é cego, de alguma forma ela é seu arrimo. A diretora Cristiane Oliveira parece que vai enveredar pelo incesto, mas seu filme revela surpresas. Muito bem dirigido, e tanto que ganhou o prêmio de direção de ficção no Festival do Rio.
Frei Caneca 2, 22h10.
Vinte Anos
O melhor filme do recente Festival de Brasília. Alice de Andrade deixa de ser a filha de Joaquim Pedro de Andrade – mas nunca deixará de ser, claro – para afirmar a própria identidade de grande diretora. Vinte anos depois, ela volta a Cuba e reencontra casais que filmou no passado. O que ocorreu com esses casamentos? Com a ilha? Parece pouco. Nada? É tudo. E a musicalidade... Nesse swentidio, Vinte Anos dialoga com Axé. O canto de um outro lugar.
Frei Caneca 3, 22 h.