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Mostra Fellini exibe inédito do diretor

I Clowns, de 1970, abre a programação do ciclo dedicado ao diretor italiano, no Arteplex Unibanco. Até 4 de outubro, serão exibidos 15 títulos

Por Agencia Estado
Atualização:

Em vez de ficar vendo comédias idiotas e blockbusters em que o barulho tenta preencher o vazio de idéias, uma sala da cidade oferece, a partir de hoje, um oásis para quem gosta de cinema. Cinema entendido como arte e bom entretenimento. O Unibanco Arteplex, do Shopping Frei Caneca, abre hoje (em sessão beneficente) a Mostra Fellini, que dura até 4 de outubro, com 15 títulos do diretor. Um deles é I Clowns (Os Palhaços), filme que Federico Fellini fez em 1970 e nunca foi exibido por aqui, ao menos em circuito comercial. É exatamente o título que será exibido na sessão de hoje, cuja renda (ingressos a R$ 15) será destinada integralmente para o projeto Doutores da Alegria, o grupo que diverte crianças em hospitais de São Paulo e do Rio de Janeiro. A Mostra Fellini abriga praticamente todos os maiores e mais importantes filmes da obra do diretor nascido em Rimini, na Itália, em 1920. Após o que podem ser chamados os filmes de aprendizado, Mulheres e Luzes, de 1950 e Abismo de um Sonho, de 1952, (recentemente exibido em São Paulo), o filme mais antigo da mostra é uma obra-prima, Os Boas-Vidas (I Vitelloni), sobre cinco rapazes interioranos presos numa cidadezinha provinciana (não muito diferente da Rimini natal do diretor), que sonham com as luzes das metrópoles e constroem suas vidas. O filme tem interpretações marcantes, entre elas de Alberto Sordi, Franco Interlenghi, Franco Fabrizi e Leopoldo Trieste. A mostra continua com os filmes de um Fellini influenciado ainda pelo neo-realismo, mas cada vez mais "felliniano", ou seja, mostrando um estilo narrativo pessoal aliado a um elenco de temas muito particulares à sua experiência existencial e profissional. Por exemplo, A Trapaça, de 1955, com Broderick Crawford e Giulietta Masina, em que o ator americano é um vigarista veterano que evita relacionamentos e redescobre a filha, agora uma adulta, que precisa de dinheiro para estudar. Ele tenta um golpe e se dá mal. As Noites de Cabíria é uma obra-prima dedicada a Giulietta Masina, que interpreta uma jovem prostituta que quer romance e respeitabilidade. De 1960 é o filme que muitos consideram o Fellini essencial, A Doce Vida, com um jornalista (Marcello Mastroianni) servindo de pião à narrativa da sociedade romana decadente. Este é o filme que tem a cena antológica da Fonte de Trevi, com Anita Ekberg. Outro grande Fellini da década de 60 é Oito e Meio, sobre um diretor de cinema muito parecido com ele mesmo (vivido por Marcello Mastroianni) que está com bloqueio criativo e deriva para discussões sobre sua vida e a arte. Ganhou Oscar de melhor filme estrangeiro. Giulietta dos Espíritos, estréia de Fellini no filme em cores, tem Gulietta Masina como uma esposa mal-amada que se volta para o passado e para suas fantasias. Satyricon é uma visão muito felliniana da Roma antiga. Casanova, da mesma forma, tem um olhar muito pessoal do cineasta sobre o amor, a sedução e a figura do Casanova histórico. Em Ensaio de Orquestra, Fellini faz um quase documentário alegórico sobre músicos que vão ensaiar num prédio em demolição. O Fellini da última fase, mais surrealista e virtuose dos seus próprios temas, está na mostra, a partir de E La Nave Va, um esplêndido painel alegórico de suas inquietações (todo filmado em estúdio), centralizadas na história de um navio que carrega as cinzas de uma diva da ópera, que devem ser jogadas ao mar. Ginger e Fred tem Mastroianni e Giulietta Masina como uma veterana dupla de dançarinos, imitadores de Fred Astaire e Ginger Rogers. O filme serve como uma sátira ao mau gosto da TV. A Voz da Lua é o último filme de Fellini, que morreu em 1993. Roberto Benigni é um poeta sonhador numa história um tanto rala e cansada para os padrões do diretor. A Mostra Fellini é um panorama desse cineasta de gênio, programa obrigatório. Que venham outras mostras, pessoal do Arteplex!

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