Mostra destaca o vigor do novo cinema argentino

O Cinusp apresenta, de hoje até o dia 17, longas inéditos feitos nos últimos dois anos. Apesar da crise no país, sua produção cinematográfica mantém qualidade

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Por Agencia Estado
Atualização:

O Cinusp (Cinema da USP) e o BH Indie (Festival de Cinema Independente de Belo Horizonte) somam forças para mostrar, de hoje até o dia 17, O Novo Cinema Argentino. Em parceria, as duas instituições apresentarão sete longas produzidos nos dois últimos anos. É curioso notar que a Argentina, mesma convulsionada por grave crise econômica e sucessivas quedas de presidentes e ministros, segue gerando imagens de qualidade e produzindo média de 30 filmes/ano. A mostra O Novo Cinema Argentino tem curadoria de Ana Maria Amado, professora da Universidade de Buenos Aires e crítica do jornal mexicano UnomasUno. Cinéfilos interessados em saber mais sobre o vigor do cinema platino poderão assistir à palestra que ela fará no Cinusp, no dia 9, após a sessão de La Ciénaga, filme de Lucrécia Martel, premiado em Berlim/2001. Quem vê Lucrécia, miúda e tímida, jamais imaginaria que fosse capaz de gerar filme tão perturbador. Pois foi, e seu longa de estréia é a grande pedida da mostra. A ele se somam Fuckland, mix de documentário e ficção, pautado pela irreverência (a começar pelo título, que brinca com o nome britânico das Ilhas Malvinas, as Falklands); El Descanso, da trinca Moreno/Tamborino/Rosell; Um Dia de Suerte, de Sandra Gugliotta; Animalada, de Sergio Bizzio; La Libertat, de Lisandro Alonso, e Solo por hoy, de Ariel Rotter. Ana Amado pondera que "a seleção de filmes da mostra é representativa do amplo arco de tendências que integram o movimento que renovou o cinema argentino nos últimos cinco ou seis anos". Os autores selecionados têm entre 22 e 40 anos. Alguns são egressos das escolas de cinema que se multiplicam pelo país e são freqüentadas por 5 mil alunos. A Lei do Cinema, aprovada no primeiro governo Menen, fomenta a atividade. A multiplicação e o barateamento de equipamentos técnicos é outro fator que vêm permitindo acesso a jovens realizadores. São eles a base e essência da mostra que chega a São Paulo e BH. Os sete filmes da mostra são inéditos no circuito comercial brasileiro. Fuckland (2000, 84´), de José Luis Marqués, foi exibido no FIC-Brasília 2001. Causou furor entre os jovens, mobilizados pela irreverência do diretor e pela aura de mais um filme guiado pelos princípios do Dogma dinamarquês. Marqués entrou, semi-clandestino, nas Ilhas Malvinas, que seguem britânicas. Com ele foram dois atores - Fabian Stratas e Camilla Heaney. Fabian interpreta um argentino que se propõe a reconquistar as Ilhas Falklands na base do "faça sexo, não faça guerra". La Ciénaga (2000, 102´) reúne elenco famoso. A começar por Graciela Borges, um dos pilares do cinema argentino. O filme, um drama de raro vigor, mostra duas famílias que se entrecruzam na provinciana cidade de Salta. O longa de estréia de Lucrécia pertence ao acervo da Riofilme e aguarda hora e vez no mercado brasileiro. El Descanso (2001, 95´) é um típico filme de jovens realizadores que não comungam da obsessão autoral dos anos 60. Tanto que foi roteirizado e dirigido a seis mãos: Rodrigo Moreno, Andrés Tambornino e Ulises Rosell. A trama antagoniza jovem idealista a homem poderoso e influente. Sólo por Hoy (2001, 100´) é uma produção da Universidade del Cine. O diretor Ariel Rotter narra histórias de cinco personagens, que dividem um apartamento em Buenos Aires. A intimidade de situações banais e cotidianas captadas pela câmera se configura, estruturando-se como quebra-cabeça. Animalada (2001, 92 min), de Sergio Bizzio, é uma comédia de humor negro. Sua trama, inusual, gira em torno do romance entre um milionário e uma ovelha. Por trás dessa estranha relação, o filme busca "os estertores de uma aristocracia decadente". La Libertad (2001, 73´), de Lisandro Alonso, centra a narrativa no lenhador Misael, que sobrevive apenas com o indispensável - e quase sem contato com outras pessoas - na imensidão dos pampas. Un Dia de Suerte (2002, 94´), que será exibido em vídeo, traz mais um nome feminino na direção (Sandra Gugliotta). Sua trama se desenrola na Buenos Aires de hoje. A cidade ferve em manifestações sociais, desemprego e conflitos políticos. Elsa, uma jovem de 25 anos, busca trabalho que lhe permita realizar seu sonho: viajar para a Itália.

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