Mostra de cinema Mundo Árabe começa com 'Omar'

Filme de Hany Abu-Assad foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro; festival ocorre até o dia 20 no Cinesesc, em São Paulo

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Por menos que se possa gostar de Estrada 47, o longa de Vicente Amorim sobre os pracinhas da Força Expedicionária Brasileira, na Itália, o diretor, ao apresentar seu filme, teve uma tirada bem política - a mais do 42.º Festival de Gramado? Amorim lembrou que a trégua havia terminado em Gaza e que os combates recomeçavam. Dedicou a sessão de seu filme ao sofrido povo palestino. Sai o Festival de Cinema Judaico e começa nesta quarta-feira, 13, em São Paulo, a Mostra Mundo Árabe. São eventos que trazem, embutidas, diferentes visões de uma das regiões mais explosivas da Terra. O Festival Judaico privilegia temas ligados ao Holocausto e outros que colocam na tela mudanças comportamentais numa sociedade que, salvo alguns bolsões libertários (Tel-Aviv), ainda é dominada pela ortodoxia religiosa (e pelo conservadorismo).

O Festival Mundo Árabe abre em alto estilo com o novo filme de Hany Abu-Assad, Omar, a partir das 19h30. Há quase dez anos, ele foi o primeiro palestino indicado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, com Paradise Now. Este ano, Abu-Assad de novo estava entre os indicados para o prêmio da Academia de Hollywood, com Omar. Entre um e outro, quase fez uma adaptação de Paulo Coelho e esteve no Brasil, tornando-se amigo de Fernanda Torres. "Como está a Fernanda? Manda um abraço para ela", ele diz ao repórter, que se identifica como brasileiro, numa conversa que Abu-Assad teve com jornalistas no ano passado, em Cannes. Ele contou que Omar começou a nascer durante a filmagem de Paradise Now.

Hany Abu-Assad, na Academia de Hollywood, em fevereiro de 2014 Foto: Danny Moloshok/Reuters

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Era outro filme explosivo, sobre dois palestinos preparados para ser guerreiros de Alá, cometendo um atentado. "Havia forte vigilância israelense sobre nossa rodagem e eu comecei a suspeitar de que havia agentes infiltrados na equipe. Não sabia quem poderia ser nem mesmo se meu temor era real. A paranoia é um sentimento insidioso. Te leva a suspeitar de tudo e todos, gera insegurança. Omar começou a se desenhar assim. Um garoto palestino que tem essa namorada atrás do muro divisor e que é chantageado pelos israelenses. Num mundo de tanta desconfiança, achei que seria mais interessante focar o problema do ângulo do garoto. Como ele se sente como um traidor? Como se redimir? E por que o amor tem de ser sacrificado no jogo de interesses das nações?"

No ano (2005) em que Paradise Now competia ao Oscar, Steven Spielberg também era finalista com Munique. Duas versões, não excludentes mas complementares, do terrorismo. Dois grandes filmes. Omar é um thriller cheio de perseguições bem filmadas, que vão manter o espectador elétrico. "Alguém talvez diga que estou imitando os thrillers norte-americanos, mas achava importante, nesse filme, usar a arma do outro para desencadear um processo de conscientização e discussão do público. Se as pessoas só vibrarem com as perseguições, e não sentirem nada depois, certamente terei fracassado." E Abu-Assad falou de sua cena preferida - a escalada do muro, quando Omar precisa de ajuda. "O muro não segrega só palestinos de israelenses. Segrega palestinos entre eles. Existem famílias separadas pelo muro. Quem decide que isso está certo?"

O Festival Mundo Árabe de Cinema chega à sua nona edição e, até o dia 20, ou seja, durante uma semana, vai exibir (no Cinesesc, em São Paulo) 26 títulos garimpados nos Festivais de Dubai e Cannes. Virão importantes convidados, como a cineasta Marianne Khoury, com seu filme Zelal, que traz o primeiro registro de um hospital psiquiátrico no mundo árabe; o diretor do Festival Internacional LatinoÁrabe, de Buenos Aires, Pipo Bechara El-Khoury; e o músico tunisiano Raouf Jemni. Entre as demais pérolas da programação estão - Adeus Carmem, do marroquino Mohamed Amin Benamraoui, que venceu o Festival de Dubai no ano passado, e Rock the Casbah, de Laila Marrakchi, sobre família tradicional do Marrocos que se desintegra após a volta da filha que foi viver nos EUA. O elenco é integrado por três figuras muito conhecidas - Omar Sharif e as atrizes Nadine Labaki (também diretora de Caramel) e Hiam Abbass.

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