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Mostra de Cinema fecha ciclo expressionista

O clássico O Gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene, é o destaque da mostra de cinema expressionista alemão, que começa amanhã no Paço Imperial, Rio de Janeiro, e reúne outros 8 filmes

Por Agencia Estado
Atualização:

Estréia nesta sexta-feira uma mostra de clássicos do cinema expressionista alemão, no Paço Imperial. Serão ao todo nove filmes, dentre eles o emblemático Gabinete do Dr. Caligari, de 1919, além de raridades nunca vistas no Brasil. A mostra será seguida de uma apresentação do Quarteto de cordas de Leipzig, encerrando, dia 24 de setembro, um ciclo de eventos dedicados ao tema expressionista, que incluiu mostras de artes plásticas, cinema, dança, música, teatro e arquitetura. Parte das exposições seguem para São Paulo, em outubro. Os nove clássicos alemães do período pré-nazista foram trazidos ao País pelo diretor do Instituto Goethe de São Paulo, Bruno Fischli. Os filmes fazem parte do acervo de dois importantes museus de cinema europeus: o Museu de Cinema de Munique e o Instituto de Cinema de Wiesbaden. As instituições são centros de referência na Europa, e nelas se encontram obras raras, muitas delas restauradas e, algumas, colorizadas. Não poderia faltar o símbolo do produção cinematográfica expressionista, Gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene, com seu cenário psicodélico em contraste preto e branco. Dr. Caligari, um gênio louco, apresenta em feiras anuais o hipnotizado Cesare e, à noite, instiga-o a cometer crimes horrendos. Wiene, em suas cenas mudas, prevê a ascensão do Nazismo e traduz o clima de ansiedade do período, o que vai marcar o movimento como um todo. Além deste, fazem parte da programação,Gabinete de Figuras de Cera, de Paul Leni , O Último Nome e Castelo Vogelöd, de Mournau, cineastas consagrados na Europa e pouco conhecidos no Brasil. As raridades são Da Aurora à Meia Noite, de Karl-Heinz Martin, drama de um caixa que comete um desfalque para escapar do seu cotidiano triste e sombrio, e Escada de Serviço. Este último, outra crítica cotidiana, narra a história de uma moça que trabalha na casa de família burguesa e espera ansiosa a carta do namorado. Completam a mostra, Dr. Mabuse, o Jogador e Dr. Mabuse, o inferno do crime, de Fritz lang e Segredos de Uma Alma, de Georg Pabst. Todos os filmes são mudos, com intertítulos em Inglês e Alemão. No entanto, as apresentações contarão com tradução simultânea e acompanhamento do pianista Cadu Pereira. Para todos os gostos - A mostra de cinema é o quinto evento paralelo à exposição Expressionismo Alemão, iniciativa do Instituto Goethe que convidou, em 98, o diretor do Paço Imperial, Lauro Cavalcanti e o diretor do museu Lasar Segall, de São Paulo para uma visita aos museus alemães. O resultado foi uma exposição, inaugurada em agosto deste ano, com 279 pinturas e gravuras divididas em três módulos distintos: Destaques da Coleção do Von der Hedt-Museum Wuppertal,As artes gráficas no Expressionismo Alemão do IFA Stuttgart e Matizes do Expressionismo no Brasil. São 68 pinturas vindas do museu Von Der Heydt, de Wuppertal, outras 121 obras gráficas do Instituto de Relações Culturais de Stuttgart e mais 90 trabalhos de Lívio Abramo e Oswaldo Goeldi, brasileiros influenciados pelo expressionismo e Lasar Segall, expressionista radicado no Brasil. Wassily Kandinsky, Emil Nolde, Ernest Luwig Kirchner, Erich Heckel, Franz Marc, Otto Mueller e Paul Klee são alguns dos grandes nomes da arte expressionista presentes. "Muitas vezes as exposições não trazem obras expressivas dos artistas. Nessa, de fato, vieram as obras-primas dos mestres", explica o diretor do Paço Imperial, Lauro Cavalcanti. Ele foi ainda o responsável pela curadoria das obras de Oswaldo Goeldi. Tadeu Chiarelli, do MAM de São Paulo, selecionou as obras de Lívio Abramo e Marcelo Araújo, de Lasar Segall. a sinistra psique humana - Sabine Fehlemann, curadora e diretora do Von der Hedty, conta que o movimento surgido em 1905, em vários países da Europa, tinha a intenção de provocar os aspectos sinistros da psique humana. Seus integrantes eram claramente influenciados pela teoria do subconsciente de Freud e pelas idéias anti-racionalistas do filósofo alemão Friederich Nietzsche. Entretanto o "gênero" foi satirizado e as exposições temporárias eram chamadas de "câmara de horrores", fato que acabou afugentando os visitantes dos museus. Havia dois grupos definidos entre eles: Os membros de A ponte, cujo líder era Ernst Lwdwig Kirchner, eram inspirados em Van Gogh, Gauguin e na arte primitiva de Munch. Já O Cavaleiro Azul era liderado por Kandinsky e Franz Marc. A ponte propunha que a arte alemã fosse a passagem para o futuro. O outro grupo preferia modelar meios e impulsos para formular suas mensagens. "O expressionismo foi o primeiro movimento que combinava o desejo de transformação da arte e de transformação social", analisa Lauro Cavalcanti. Números - O Paço recebeu uma média de 2 mil pessoas por dia. Na soma total, até agora, foram cerca de 80 mil visitantes. O Instituto Goethe, um dos grandes responsáveis por esse sucesso, promoveu uma série de eventos paralelos à exposição de artes plásticas. Entre eles, uma mostra de filmes e espetáculos ligados a dança, um workshop e uma série de espetáculos teatrais, com textos de Brecht e George Kaiser. Eles procuraram apresentar o expressinismo de forma viva e não-acadêmica. O seminário de cinema e arquitetura trouxe o teórico e crítico de cinema Dr. Hans Joachim Schlegel, que traçou um paralelo ente o pensamento arquitetônico e cinematográfico. Nas visitas guiadas, a cada semana, um artista convidado apresentava as obras aos visitantes. "Era um público atento e participante", diz o artista plástico Luiz Áquila, um dos guias e diretor do Instituto de Cultura de Petrópolis. Ele também compôs a mesa de debate sobre as influências do movimento na arte brasileira. "Os livros de Kandinsky e Klee foram muito importantes na formulação de uma didática moderna para as artes plásticas no Brasil", ele explica. O pintor elogia a pluralidade do evento, que fez com que vários públicos de encontrassem e mantivessem contato com formas diversas de arte. "Foi um evento como os promovidos nos primeiros 30 anos do Modernismo. Era tudo muito integrado". O Expressionismo Alemão se despede do Rio neste domingo. Ainda no sábado, o quarteto de Cordas de Leipzig, faz, pela primeira vez no Brasil, uma única apresentação no Paço Imperial. Daqui, o grupo segue para uma turnê em São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Salvador e depois, Argentina. Grande parte exposição estréia em São Paulo dia 10 de outubro, dividida entre o MAM e o Museu Lasar Segall. Expressionismo Alemão - De terça a domingo, no Paço Imperial (Praça XV de Novembro, 48- Centro); tel: 533-4491; R$5,00 e R$ 3,00 para estudantes. Mostra Clássicos do Expressionismo Dia 22/09: Gabinetes de Figuras de Cera Dia 23/09: Da Aurora À Meia Noite e Escada de Serviço Dia 24/09: Castelo Vogelöd e O Gabinete do Dr. Caligari às 19h. R$4,00 e R$ 2,00 para estudantes.

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