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Mostra de Cinema de São Paulo: Filmes ajudam a decifrar o Brasil

‘Aos Teus Olhos’, ‘As Boas Maneiras’ e ‘Não Devore Meu Coração' expõem a diversidade das ficções nacionais; programação prevê, ainda, documentários nacionais

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Há uma overdose de filmes brasileiros na 41.ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, nesta quinta, 26. Aos Teus Olhos, As Boas Maneiras e Não Devore Meu Coração expõem a diversidade das ficções nacionais. Os documentários Em Nome da América e Soldados do Araguaia dão continuidade a um fenômeno histórico, investigando o que pode ter sido o envolvimento da CIA na preparação do golpe cívico-militar e as memórias dos recrutas que participaram da repressão à guerrilha.

Daniel de Oliveira.'Aos Teus Olhos': diretora Carolina Jabor debate com público após exibição Foto: Daniel Chiacos

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Carolina Jabor debate Aos Teus Olhos com o público, após a exibição desta noite. Ela poderá repercutir o sucesso obtido pelo filme no Festival de Chicago, no fim de semana. No Rio, Aos Teus Olhos foi multipremiado – melhor filme segundo a votação do público, melhor roteiro, ator e ator coadjuvante, Marco Ricca. Daniel de Oliveira, o protagonista, não estará presente – permanece nos EUA. Muito já se falou – o próprio repórter, em seu blog no Estado – sobre a dificuldade de terminar um filme como esse. Daniel faz um instrutor de natação. É destruído nas redes sociais por uma mãe que o acusa de haver abusado de seu filho.

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Filha de cineasta, Arnaldo Jabor, Carol dirige seu segundo longa de ficção – após Boa Sorte, com Deborah Secco. O filme tem pontos de contato com A Caça, de Thomas Vinterberg, pelo qual Mads Mikkelsen foi melhor ator em Cannes. Ambos abordam o massacre de indivíduos condenados sem provas. Basta um boato (A Caça) e o efeito multiplicador da internet (Aos Teus Olhos) para se criar factoides. As Boas Maneiras foi o tríplice vencedor do Festival do Rio – melhor filme pelo júri oficial, pela crítica e Félix, melhor filme de temática LGBT. Marco Dutra e Juliana Rojas dirigem a história da patroa branca que contrata babá negra para cuidar de seu filho que ainda não nasceu. Cria-se uma intimidade entre as duas, mas tudo isso ocorre logo no começo, porque em seguida o filme toma outro rumo e ingressa na vertente de gênero – o horror.

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Há algo de insólito na identidade desse bebê. Como em O Bebê de Rosemary, o clássico de Roman Polanski, sua presença perturbadora favorece uma discussão sobre os temas da maternidade como instinto e em choque com a cultura repressora. Marjorie Estiano foi melhor coadjuvante no Rio e você vai ficar siderado por Isabél Zuaa, de Joaquim, de Marcelo Gomes, que faz a babá, e pelo garoto. E há ainda Não Devore Meu Coração, de Felipe Bragança, que, antes da Mostra, já esteve em Sundance e no Festival de Berlim. Na fronteira paraguaia, assombrada pela mítica guerra em que o Paraguai foi derrotado pela Tríplice Aliança, garoto apaixona-se por uma guarani apenas um pouco mais velha que ele.

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O garoto tem um irmão motoqueiro – o selvagem da motocicleta em versão agroboy – e a trama, a par dos conflitos familiares, adquire uma dimensão fantástica. De novo, como em Reza a Lenda, Cauã Reymond monta no lombo da motocicleta. Ele estará presente hoje à noite, o que soma ao atrativo da sessão para o público.

Quantos aos documentários, Fernando Weller, em Em Nome da América, retraça a história dos jovens norte-americanos que vieram para o Nordeste nos anos 1960, integrando o Peace Corps. Havia, entre eles, um suposto (mítico?) espião da CIA infiltrado para atuar contra as Ligas Camponesas. Os líderes do movimento, cabras marcados para morrer? Na cena mais impressionante, um coronel dispara para o alto com seu revólver e deixa claro que trabalhador, em sua propriedade, não tem direito a voz. É só se rebelar que ele, pá, mata.

Dicas de quinta-feira, 26Bernard e Huey Dois amigos se reencontram e continuam atrapalhados nas suas relações com as mulheres. Lá pelas tantas, você vai se lembrar do velho Ânsia de Amar, de 1971. Por que será? Simples – o roteirista é o mesmo Jules Feiffer. O próprio diretor Dan Mirvish vai apresentar a sessão. Belas Artes Sala 3, 21h20O Amante de Um Dia O último grande diretor nouvelle vague da França, Philippe Garrel, segue falando de amor. Um professor, sua nova amante, uma estudante, e a filha que voltou a morar com ele. O ator Eric Caravaca também tem filme na Mostra, Lote 35. E Philippe, dessa vez, dirige sua filha, Esther Garrel. Cinearte 1, 20h15

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