PUBLICIDADE

Monica Belluci personifica o desejo e o escândalo no festival

Atriz italiana é protagonista das cenas que tornaram Irréversible, de Gaspar Noë, o filme mais chocante de Cannes este ano

Por Agencia Estado
Atualização:

Numa cena de Irréversible, de Gaspar Noë, Monica Belluci levanta-se nua, da cama, e passa por Vincent Cassel, que, também nu, olha para aquele traseiro e faz um comentário grosseiro, mas que, digamos, faz justiça à qualidade do material. O público da sessão de imprensa do filme de Gaspar Noë aplaudiu, assobiou, transformou esse momento de Irréversible numa festa. A deslumbrante Monica é hoje uma das mulheres mais belas (e desejadas) do mundo, mas isso você já sabia desde que ela desfilou, para lá e para cá, diante da câmera de Giuseppe Tornatore, em Malena. Compreende-se o entusiasmo da platéia na Sala Claude Débussy. Mas Cassel, que faz o comentário, é marido de Monica na vida e isso deu à cena um componente extra que permitiu extravasar o machismo da platéia. Quando ele elogia aquele bumbum, é como se acrescentasse, num piscar de olhos: "E tudo isso é meu." Não é. Na melhor cena do filme, que se segue a um diálogo a três no interior do metrô, sobre amor e sexo, Monica diz a Cassel que ninguém é de ninguém porque as pessoas não são coisas, mesmo que muitos homens tendam a considerar suas mulheres como propriedades deles. Monica não é só linda. É uma atriz corajosa. Fazer uma cena como a do estupro é um desafio para qualquer atriz. Ela, que também leva uma carreira nos EUA, admite que nenhuma atriz norte-americana faria uma cena dessas. As cenas de sexo em Hollywood são pura coreografia. O diretor Noë quis fazer a cena do seu filme com todo realismo possível, "sem me ferir", acrescenta Monica. Ela diz que é européia, sua formação é diferente e completa dizendo que faz o que é preciso para servir aos personagens dos filmes nos quais acredita. Invasão? - Diz que trabalhar com o marido é um prazer, pois Cassel - para ela, os demais têm dúvidas - é talentoso. Fazer sexo com o marido diante das câmeras, ficarem ambos nus o tempo todo não configura invasão de privacidade. "Se fosse, não faria o filme", assegura. Encara com naturalidade as cenas de sexo. Acha que o sexo é fundamental na vida das pessoas. "É vida, não existiria perpetuação da espécie se não houvesse sexo." Fala também do amor. "É o melhor que pode ocorrer na vida. Sexo com amor, sem violência, é uma dádiva." Na carreira européia, investe em filmes de autor: Noë, Tornatore. Em Hollywood, acaba de fazer o segundo Matrix. Diz que adora o primeiro filme e admira muito o trabalho dos irmãos Wachowski. "Quando eles me chamaram não poderia dizer não a uma experiência que se antecipava tão interessante." Garante que o novo filme será tão excitante para os fãs quanto foi o primeiro. Sobre a violência no cinema, é definitiva: ela é o espelho da violência da realidade e, se o espectador for centrado, saberá discernir entre o que é real e o que não é. Nega que Irréversible tenha sido produzido com o objetivo de produzir escândalo. "O escândalo, se existe, é uma criação da mídia para pôr fogo no festival", diz. Não se pode dizer que a atriz esteja errada.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.