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Mito de nhô João ganha as telas

Cultuado como santo, João de Camargo tem sua vida contada em Cafundó, filme de Paulo Betti com Lázaro Ramos no papel principal

Por Agencia Estado
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Ex-escravo, tropeiro e vagabundo, João de Camargo (1858-1942) viveu na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo. Construiu a Igreja de Nosso Senhor do Bom Jesus da Água Vermelha, fundou uma religião e ganhou fama de milagreiro. Até hoje, é cultuado como santo - a imagem do preto velho pensando, vendida nas lojas de produtos religiosos, é inspirada nele. O ator Paulo Betti, sorocabano, faz parte desse séquito desde criança, quando escutava do avô e da mãe as histórias de nhô João. Para homenagear o líder religioso, decidiu contar a história dele em filme. Assim nasceu o longa-metragem Cafundó, cujas filmagens terminaram na semana passada. Nhô João, como é conhecido entre os fiéis, fundou uma religião sincrética, unindo os princípios cristãos aos do candomblé, da umbanda e até do vodu. Por conta disso e de sua enorme legião de seguidores, tornou-se até objeto de estudo acadêmico. Aos 22 anos, Florestan Fernandes escreveu a monografia "Contribuição para o Estudo de Um Líder Carismático", em que tenta explicar logicamente o culto à personalidade religiosa. "Foi o orientador dele que o mandou a Sorocaba", conta Betti. "O João de Camargo havia acabado de morrer e o enterro, atraído milhares de pessoas, algo incomum para uma cidade do interior naquela época." Betti divide a direção do filme com Clóvis Bueno, cenógrafo e diretor de arte de diversas produções recentes, como Carandiru, A Ostra e o Vento, Orfeu e Castelo Rá-Tim-Bum - O Filme. Os dois trabalharam juntos no teatro, na década de 1970. E agora estão estreando na direção de cinema. Bueno entrou em cena em 1996, quando o projeto estava no quarto ano de gestação. "Eu queria uma pessoa para profissionalizar a produção", conta Betti. "E rolou de a gente se entender muito bem." Lázaro Ramos faz o papel de João de Camargo. Com a ajuda de uma equipe de maquiagem chefiada por Anna Van Steen, vai dos 20 aos 80 anos, com direito a uma parada pelos 40 anos. Ramos substituiu o cantor e compositor Itamar Assumpção, morto recentemente, primeira escolha da dupla de diretores para o papel. Assumpção desistiu porque estava doente e não agüentaria a rotina estressante das filmagens. Dividem a tela com Ramos os atores Leandro Firmino da Hora, Leona Cavalli, Valéria Mona, Chica Lopes, Luis Mello, além de mais 50 personagens episódicos. Cafundó foi rodado em quatro cidades do Paraná: Paranaguá, Ponta Grossa, Lapa e Curitiba. Foram, ao todo, 72 locações, algumas delas com cenários naturais dignos de cartões-postais, como a Cachoeira de São Jorge, onde foram construídas as réplicas das três diferentes fases de construção da Igreja de Nosso Senhor do Bom Jesus da Água Vermelha. Ambientado entre o fim do século 19 e o início do 20, o filme cobre quase seis décadas e se divide entre cenários urbanos e rurais, como o quilombo do Cafundó. Produção da Prole de Adão, de Paulo Betti, e da Laz Audiovisual, de Roberto Gennaro, em associação com a Gullane Filmes, dos irmãos Caio e Fabiano Gullane, Cafundó está orçado em R$ 5 milhões, dos quais apenas R$ 4 milhões foram captados. Caio Gullane informa que, apesar dos recursos, trata-se de um orçamento de médio porte. O milhão restante será utilizado na finalização e no lançamento do filme, previsto inicialmente para estrear no fim de 2004. O repórter viajou a convite da produção do filme

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