Missão Impossível, uma aventura eletrizante

Missão Impossível 3 é o melhor da série e olhem que os dois primeiros foram assinados por diretores importantes, verdadeiros autores, Brian De Palma e John Woo

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Por Agencia Estado
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Eletrizante - é a primeira definição que vem à mente sobre o terceiro filme da série Missão Impossível. Se é impossível, é também inverossímil, inacreditável. Quanto mais se distancia do realismo, melhor. Missão Impossível 3 é o melhor da série e olhem que os dois primeiros foram assinados por diretores importantes, verdadeiros autores, Brian De Palma e John Woo. J.J. Abrams é diretor de séries de televisão. Ele aproveita o melhor de De Palma e Woo - o thriller high tech, as referências, o jogo de máscaras. Há momentos em que Missão Impossível 3 parece estar simplesmente reinventando o 2. Ethan Hunt (Tom Cruise) planeja o seqüestro do vilão Philip Seymour Hoffman em pleno Vaticano. Disfarça-se como ele, adotando uma máscara de látex como aquela que Woo utilizou em A Outra Face e Missão Impossível 2. É tudo engenhoso, e algo mais. Abrams e o ator e produtor Tom Cruise, que tem controle total sobre a série e seus personagens, aproveitam uma velha lição de Alfred Hitchcock. No livro com a entrevista que concedeu a François Truffaut (Hitchcock Truffaut), o mestre do suspense explica o que é o McGuffin. Em vários de seus clássicos, heróis e vilões matam por causa de alguma coisa que parece muito importante, mas é só o motor da narrativa, um artifício dramático que, no final, não possui significado algum. Em Missão Impossível 3, Hoffman faz tudo pelo Pé de Coelho e, no desfecho, Hunt e os espectadores sabem tanto sobre ele como no início da aventura. Ethan Hunt, um verdadeiro personagem A grande contribuição de John Woo no segundo filme da série foi a transformação de Ethan Hunt de herói estereotipado num verdadeiro personagem. O terceiro filme prossegue nessa tendência. Nada vai funcionar, se o espectador não se identificar com Hunt no seu esforço desesperado para resgatar a amada, Julia, seqüestrada pelo vilão, que na cena inicial manifesta sua disposição de trocá-la pelo tal Pé de Coelho. É a troca ou a morte. Há todo um lado doméstico ao qual é preciso prestar atenção. Ao contrário dos colegas, que acreditam que a própria natureza das missões que executam os impede de ter relacionamentos estáveis, Hunt acredita que sim.Tudo por amor - e mais. Depois de Guerra dos Mundos, que Steven Spielberg adaptou do livro de H.G. Wells e já era um ataque à geopolítica do presidente George W. Bush, Cruise finca posição contra a Casa Branca. O vilão (o outro, não Hoffman) faz o que faz para proporcionar uma desculpa para o intervencionismo americano. Chamado pela Casa Branca, Hunt declina o convite. Há muitas maneiras de entender e avaliar Missão Impossível 3, mas elas passam sempre pela personalidade do astro produtor. A atriz que interpreta Julia parece Katie Holmes, numa cena faz-se referência ao anti-Deus e ele está no Vaticano. Cruise, escorado na sua Igreja, deita e rola. O filme estrutura-se em quatro grandes ações - duas que não dão certo e duas (as decisivas) em que o grupo executa a missão impossível. Há um herói, mas ele não é individualista. Faz parte de um team. Missão Impossível 3 comporta muitas análises, mas o melhor é ver o filme. Como Duro de Matar e Predador reformularam o cinema de ação dos anos 1980, Missão Impossível pode fazer o mesmo para os anos 2000. Missão Impossível 3 - (Mission: Impossible III, EUA/2006, 126 min) - Ação. Dir. Jeffrey J. Abrams. 12 anos. Em grande circuito. Cotação: Bom.

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