"Minha Vida em Suas Mãos" é reducionista

Típico filme no qual os críticos gostam de bater, o filme de Maria Zilda Bethlem. Maria Zilda é uma professora que se envolve com um assaltante (Caio Ciocler). Ele invade a casa dela de arma em punho e os dois acabam tendo um caso

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Por Agencia Estado
Atualização:

Imara Reis ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante no Festival de Brasília do ano passado por Minha Vida em Suas Mãos. Pode-se argumentar que o prêmio não foi muito merecido e, na verdade, foi um recurso do júri para não concentrar todos os prêmios em Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky, de longe o melhor filme exibido na mostra brasiliense. Imara é uma atriz respeitável e em Brasília, nos anos 80, já havia recebido o Candango de melhor atriz por Romance, de Sérgio Bianchi, que possui outra qualidade. Minha Vida em Suas Mãos é o típico filme no qual os críticos gostam de bater. Não é por maldade, é porque é ruim mesmo, o que não quer dizer que não possua qualidades de ordem, digamos, técnica. Fotografia, música, uma interpretação aqui, outra ali (a de Imara), resgatam o filme da mediocridade. O equívoco é de concepção. E aí atinge a atriz e produtora Maria Zilda Bethlem, porque a concepção é dela. José Antônio Garcia foi um diretor contratado. Dirigiu o set de filmagem, conta a própria Maria Zilda, mas seu envolvimento não foi maior que o diretor de fotografia José Tadeu Ribeiro. Maria Zilda, até a título de provocação, diz que fez o filme para o público, não para os críticos. Tomara que o público goste, já que os críticos, decididamente, não gostam de Minha Vida em Suas Mãos. O título é legal, mas poderia ser também Amor Bandido (se já não pertencesse a um filme de Bruno Barreto). Maria Zilda é uma professora que se envolve com um assaltante (Caio Ciocler). Ele invade a casa dela de arma em punho. A arma tem conotações fálicas, claro, e a professora vive usando conceitos de Freud em suas aulas. O bandido a força a ter relações. Força da primeira vez, pois não apenas ela gosta (e se apaixona por ele) como Ciocler põe sua vida nas mãos dela. Entram a amiga, a família, a polícia. Todos contra o romance. Qual será o desfecho? Trágico? Maria Zilda e as roteiristas Yoya Wursch e Ilma Fontes partiram para uma solução, digamos, fantasiosa. Queriam levantar o público com um desfecho de impacto. Há quase 20 anos Maria Zilda sonhava com a realização desse filme. Sofreu o diabo para concretizá-lo. O fato de colocar amanhã Minha Vida em Suas Mãos em 15 cinemas do Brasil não é negligenciável. É a concretização de um sonho. Ela gosta de dizer que foi atraída pela complexidade da personagem Júlia. Há uma metáfora no filme, o embate entre Apolo e Dionísio. Júlia começa apolínea e, na relação com Antônio (Caco Ciocler), vira dionisíaca. Seria interessante, se o filme conseguisse ser um pouco menos ridículo. É o problema: longe de ser complexo, Minha Vida em Suas Mãos é reducionista, na teia de convenções e facilidades em que tenta enredar o público. Compare com Ata-me, de Pedro Almodóvar, que tem elementos parecidos. Almodóvar também quer dialogar com o grande público, mas é um artista, não um comerciante da arte.

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