Michelle Pfeiffer fala sobre "Revelação"

Ela atua ao lado de Harrison Ford em seu mais novo filme, dirigido por Robert Zemeckis, e faz o papel de uma mulher atormentada pelo fantasma da ex-amante do marido

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Por Agencia Estado
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Com os cabelos ligeiramente despenteados, cara lavada e óculos de grau de armação preta, Michelle Pfeiffer não parece disposta a posar de estrela de cinema. "Gosto de me sentir confortável´´, avisa a atriz, que recebeu o Estadao.com.br no hotel Excelsior em Veneza, usando camiseta de manga comprida e calças pretas. Ela só não escapou de vestido mais glamouroso na hora de desfilar pela passarela branca do Palazzo del Cinema, antes da projeção oficial de Revelação - filme que trouxe a beldade à cidade dos canais. Sua passagem pela 57.ª edição do festival mobilizou a imprensa, com destaque para os fotógrafos que não deram sossego à atriz. "E o pior é que eu não entendo o que eles falam´´, comentou Pfeiffer, referindo-se aos profissionais italianos. Do país, o que a atriz de 42 anos diz gostar mais é da "rica gastronomia´´ - ainda que, horas antes da entrevista, ela tenha comido apenas algumas folhas de alface com gotas de azeite. Em Revelação, que estréia no Brasil nesta sexta-feira, Pfeiffer se aventura pela primeira vez em um thriller, interpretando uma música atormentada pelo fantasma da ex-amante do marido (vivido por Harrison Ford). O filme, com direção de Robert Zemeckis, foi selecionado para Veneza em caráter não-competitivo - o que não qualifica Pfeiffer para a disputa do prêmio de melhor atriz. "Não tinha mesmo essa ambição. Sou novata no gênero´´, brincou. Estadao.com.br - Revelação destoa dos demais filmes de sua carreira. O que a levou a fazer um thriller? Michelle Pfeiffer - Eu quis variar um pouco dentro do leque de personagens que posso fazer. Gostei da personagem Claire, por ela ser uma mulher que experimenta várias situações improváveis. E a maneira como ela reage, preferindo inicialmente negar a traição do marido e a existência do fantasma, me intrigou. A idéia de expressar medo também soou como um desafio, já que eu nunca tive de fazer cara de assustada antes. Tentou se inspirar em alguém, alguma vítima dos filmes de terror em particular? Confesso que me impressionei com o trabalho de Drew Barrymore em Pânico. Posso dizer que me inspirei nela e tentei desenvolver a minha personagem a partir da sua criação. Por outro lado, Bob (o diretor Robert Zemeckis) sempre cobrou muito no set, testando os meus limites. Depois de eu me matar de tanto fazer cara de apavorada, ele dizia: "Estava bom. Mas agora é para valer. Aqui você está assustada de verdade´´ (risos). Eu tinha vontade de bater nele. Você pode ter se inspirado em Barrymore, mas certamente não imitou os gritos... Eu tive um professor de interpretação que me ensinou a pensar primeiro em como eu reagiria em uma determinada situação para depois representar. Eu concordo que as pessoas muitas vezes reagem de maneira estranha. Mas ninguém sai gritando desenfreadamente. Eu procurei o tom mais realista possível. Tentei imaginar qual seria a minha reação se descobrisse que há um fantasma na minha casa. A princípio, eu não ia acreditar. Eu iria me convencer de que poderia ser tudo, menos uma força sobrenatural. Então, tentei colocar isso na personagem, buscando lhe dar credibilidade. Você não acredita em fantasmas? Estou aberta à ideia, ainda que nunca tenha visto um. Para ser sincera, gostaria de acreditar mais em vida após a morte. Assim saberia que eu voltaria a ver as pessoas que amo e que morreram. A idéia de desaparecer para sempre é difícil de aceitar. Considero um desperdício. É verdade que você teve alguns problemas durante a filmagem, principalmente para rodar as cenas dentro d´água? Foi mais uma preocupação excessiva do que um problema. Como a equipe sabia que eu tenho medo de água, eles fizeram tudo para me deixar confortável. Eu ficava apavorada com a idéia de que teria de mergulhar, mas tomei algumas lições que me ajudaram. Fiquei treinando na minha piscina até aprender a me controlar dentro d´água. Quando entro na água, minha única vontade é sair o mais rápido possível. O mesmo eu sinto ao entrar em um avião. Acho que sou claustrofóbica. Uma semana antes do vôo eu já começo a me preocupar. Em férias, por exemplo, enquanto a maioria das pessoas espera ansiosa pela data do embarque, eu fico aterrorizada com o vôo. E depois, enquanto as pessoas estão curtindo a viagem, eu começo a me preocupar com o vôo de volta. Qual a idéia mais assustadora para você? O meu maior temor é que aconteça alguma coisa ruim com os meus filhos (Claudia Rose, de 8 anos, e John Henry, de 6). Isso é um medo real. Como você concilia o trabalho em Hollywood com o papel de mãe? Acho que, por não estar em casa todo o tempo, eu sou mais generosa com o meus filhos. Mas sempre que posso eu os levo para a filmagem. Se eles estão na escola e não podem me acompanhar, tento não ficar muito tempo fora. Eles são muito aventureiros e gostam de viajar. Por ser casada com uma pessoa do showbiz (o produtor David E. Kelley, dos seriados "Chicago Hope" e "Ally McBeal"), você fala muito de trabalho em casa? Não. Só quando alguma coisa profissional está me incomodando muito. Não temos muito tempo para outros assuntos. Os nossos filhos realmente exigem muita atenção. Apesar de ser uma das mulheres mais bonitas do cinema, você não parece obcecada pela aparência, como tantas atrizes. Como sobrevive à superficialidade de Hollywood? Eu adoro atuar. A parte mais divertida do meu trabalho é trocar de figurinos e me fazer passar por outra pessoa. Sempre almejei ter a liberdade para fazer isso. E isso é tudo o que busco em Hollywood. Aos 19 anos, depois de algumas experiências no teatro do colégio, eu decidi que queria ser atriz. Tomada a decisão, fui atrás do meu sonho. Mas, como em toda a profissão, há aspectos que você precisa relevar. Com o tempo eu me acostumei com as inconveniências de pertencer ao showbiz. Não me deixo afetar. Atrizes com mais de 40 anos geralmente reclamam que nessa faixa os melhores papéis caem nas mãos dos atores. Você não parece ter reclamações... Acho que as mulheres estão conquistando mais espaço. Estamos caminhando na direção certa. Obviamente isso só está mudando porque as atrizes também passaram a ser chamariz de bilheteria. Mas é verdade que quanto mais você envelhece, menos ofertas recebe. Só que isso não significa que você deva parar de trabalhar. Sinto que sempre haverá papéis para mim. Minha única exigência será a de fazer apenas papéis de mulheres da minha idade. Coisa que, aliás, eu sempre fiz questão. É uma tremenda estupidez tentar parecer mais jovem.

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