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Michael Moore ganha a Palma de Ouro em Cannes

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Por Agencia Estado
Atualização:

E Walter Salles teve de contentar-se com o prêmio do júri ecumênico, conhecido extra-oficialmente como Hóstia de Ouro, por seu belo Diários de Motocicleta. O júri, presidido por Quentin Tarantino preferiu votar contra George W. Bush, dando neste sábado a Palma de Ouro para Fahrenheit 9/11, de Michael Moore. Foi uma vitória política, mas o próprio Moore, num encontro com jornalistas após a premiação, disse que ouviu de Tarantino a seguinte explicação: "Não votamos no seu filme pela política, mas pelo cinema. Ele era, realmente, o melhor dos concorrentes." A possibilidade de vitória de Diários de Motocicleta não era apenas uma aspiração da imprensa brasileira em Cannes. Depois que o filme de Salles teve quase 15 minutos de ovação após a sessão oficial, sua cotação aumentou a ponto de a Le Film Français, que edita um boletim diário durante o festival colocá-lo em pé de igualdade com o documentário de Michael Moore. Seriam os dois preferidos do público na noite de encerramento. No final, os deuses fílmicos, para pegar carona na expressão do cineasta brasileiro, sorriram para o concorrente dos Estados Unidos. Tudo o que se disse na entrevista de Moore e até no palco do Palé Palais, durante a cerimônia de premiação, apontava sempre para a oportunidade política de um filme como este, que toma claramente partido contra o presidente Bush, denunciando a rede de mentira que ele instalou na Casa Branca, com a cumplicidade de setores da mídia, desde que, segundo o filme, roubou a presidência, adulterando com a colaboração do irmão, governador da Flórida, o resultado da eleição naquele estado da federação americana. "A partir daquele primeiro ato imoral, ele se sentiu livre para fazer tudo o que vem caracterizando a sua presidência. Espero sinceramente que esse filme contribua para estimular o exercício da cidadania de meus compatriotas. Nos EUA o eleitor não é obrigado a comparecer às urnas. Mas será muito bom se o impacto do filme levar mais pessoas a votarem. É a nossa esperança para que possamos viver num mundo melhor." Diversos críticos, principalmente os latinos, decepcionaram-se com a ausência completa de Diários de Motocicleta no quadro de vencedores. O júri poderia pelo menos premiar Gael García Bernal, que faz o jovem Ernesto Guevara de Diários e era considerado favorito da categoria na relação de prognósticos de Le Film Français. Muitos dos filmes vencedores situam-se entre os menos apreciados no quadro de cotações do festival e dois deles, o tailandês Tropical Malady e o franco-argelino Exils, chegaram a ser vaiados nas sessões de imprensa. Mas a decisão do júri é soberana e não admite petição. Por sinal, numa atitude democrática até aqui inédita na história de Cannes, Tarantino e seu júri dão neste domingo uma entrevista coletiva explicando o porquê de suas escolha. Há grande curiosidade em saber o que o júri vai dizer. A noite foi de Michael Moore. Ele saiu do Palé Palais sob estrondosa ovação do público. Por mais política que tenha sido essa premiação, não se pode dizer que ela não tenha tido respaldo no gosto do público.

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