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Meirelles deu vida a "O Jardineiro Fiel"

Para produtor do filme, conhecimento de Meirelles sobre a natureza humana ajudou a tirar da história o ponto de vista britânico

Por Agencia Estado
Atualização:

Quando Mike Newell, de Quatro Casamentos e um Funeral, teve problemas de agenda que o impediriam de dirigir O Jardineiro Fiel, filme baseado na obra de John le Carre que estréia em 26 de agosto, o produtor Simon Channing Williams aproveitou a oportunidade para mudar o projeto. Foi quando ele pensou no brasileiro Fernando Meireles. O diretor e os protagonistas Ralph Fiennes e Rachel Weisz participaram ontem da pré-estréia do filme em Nova York. "De repente me ocorreu que estávamos indo no caminho errado", disse Channing Williams. O Jardineiro Fiel é em parte a história de um homem que teme sufocar em meio ao sistema de classes britânico: Justin Quayle, o protagonista, é um homem que trabalha em uma comissão britânica no Quênia e se preocupa mais com seu jardim de flores e com manter as aparências. Mas o livro é também a história da libertação de Quayle, com um caso amoroso e com o casamento, e, depois, quando ele tenta resolver o mistério do assassinato de sua mulher. O Quênia é mais que um cenário, é praticamente um personagem. Quando Channing Williams percebeu isso, ele disse, pensou logo em Fernando Meirelles, diretor de Cidade de Deus. "Fernando não está interessado na estrutura de classes britânica. O que ele traz é seu inato conhecimento da natureza humana". Depois do sucesso de Cidade de Deus, Meirelles tornou-se requisitado internacionalmente. Ele foi até mesmo convidado para dirigir Colateral, com Tom Cruise e Jamie Foxx. Mas ele não é fã de "filmões" de grandes estúdios e recusou todos. "Quando John le Carre escreveu a história, ela era vista sob o ponto de vista britânico", disse Meirelles em uma entrevista em Nova York em junho. "E eu penso que quando li a história, eu me coloquei no lado queniano dela, porque venho do Brasil". O que fica evidente com as mudanças de Meirelles é uma evocação da paisagem do Quênia e do visual da cidade em Nairóbi e em sua favela. "Como se sabe, há muitas favelas no Brasil", disse Meirelles. "Mas comparadas às do Quênia, as brasileiras são Beverly Hills. É o lugar mais pobre que eu já vi na minha vida". Apesar de nunca ter feito um filme fora do Brasil antes, o cineasta disse que a única coisa que o deixou nervoso foi conhecer o ator Ralph Fiennes, que interpreta o protagonista. "Eu disse a mim mesmo: ´bem, o que vou dizer a Ralph Fiennes?´". Mas Fiennes imediatamente entendeu o ponto de vista para contar a história, disse Meirelles, e eles se entenderam bem. Ele também gostou de trabalhar com a atriz Rachel Weisz, que interpreta Tessa, a mulher de Quayl. "Tive muita sorte com isso. Não apenas porque eles são ótimos atores, mas pelo comprometimento deles". Desacostumado a trabalhar com grandes equipes, Meirelles disse que sentia falta de "ir a alguns lugares e filmar com uma câmera de mão". O diretor destacou que um de seus momentos preferidos da filmagem foi gravar a cena em que Tessa caminha ao lado de Arnold Bluhm, uma médico africano, apenas com os atores, ele, um câmera e o diretor de fotografia. "Sem seguranças, sem produção, ninguém", disse Meirelles. "Apenas cinco pessoas andando, e nós improvisamos algumas boas falas".

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