"Medo e Delírio" chega às locadoras do País

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Por Agencia Estado
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Em Medo e Delírio, tradução para Fear and Loathing in Las Vegas, Terry Gilliam pretende satirizar a era Nixon - e, como brinde, atacar a (contra) cultura do LSD, misturado com álcool à vontade, além de açoitar gurus como Timothy Leary, o papa do ácido lisérgico. Gilliam, ex-integrante do Monty Python, escalou dois atores adequados para sua trip, o maluquete Johnny Depp e o também pouco certinho Benicio Del Toro. A dupla - um jornalista e um advogado junkies - vai esbaldar-se em Las Vegas, cidade que é uma espécie de síntese e metáfora da civilização atualmente proposta ao mundo. O néon, a jogatina compulsiva, a superficialidade já haviam sido tratadas em O Fundo do Coração, grande fracasso de Francis Ford Coppola, mas filme a ser revisto. Medo e Delírio é outro papo. Se você o encarar com muita seriedade, não vai gostar. Há, até, certa irresponsabilidade no tratamento de um tema tão grave quanto o uso de drogas. Mas, enfim, ressalvas feitas, não deixa de ter suas passagens engraçadas, embora a irregularidade seja a palavra que melhor o define. Por exemplo, é hilária a cena em que Depp se apresenta ao balcão do hotel e, completamente chapado, vai vendo os atendentes transformarem-se em monstros que lembram os de Guerra nas Estrelas. Isolada, a cena é boa. Quando somada a outras, tende a se diluir. Isso porque a história é feita de fiapos e gags e não passa de uma trip interminável, com os dois doidões se drogando em tempo integral e entrando nas situações mais estapafúrdias do mundo. Não daria para segurar um longa-metragem, e, de fato, não segura. O que tem de bom, Medo e Delírio deve à imaginação visual de Gilliam, que já andou melhor em títulos como Os Doze Macacos, intrincado porém mais cheio de sentido. Mas, se o filme só tem o visual ao seu lado, isso significa o seu fracasso pois, se nota, a ambição do cineasta era bem maior do que ser simplesmente uma boa comédia pastelão estilizada. Gilliam queria comentar a irresponsabilidade de uma era que tentava esquecer, pela droga, o pesadelo existencial em que se metia. No tom em que é narrado, esse escapismo não fica nada claro. E, em todo caso, se você voltar à história real, verá que havia na ocasião seres muito mais perniciosos do que o pirado Timothy Leary. Banderas estréia na direção com "Loucos do Alabama" Loucos do Alabama, a estréia na direção de Antonio Banderas, também está chegando às locadoras do Brasil. Nada negligenciável, embora o filme seja tudo menos uma obra-prima. Mas tem ritmo, humor, e alguma inteligência, o que já é mais do que a média hoje em dia. Além disso, Banderas começa a nova carreira dirigindo sua própria mulher, Melanie Griffith, que, se não mostra vocação para viver uma Ofélia ou uma Desdêmona, se presta muito bem para o papel imaginado para ela. Melanie faz uma dona de casa que atravessa o país com a idéia fixa de tornar-se atriz de cinema. Paralelamente a essa faceta cômica, corre outra, dramática, uma história envolvendo racismo e morte. A doidivanas Melanie viaja pelo país enquanto um garoto negro é assassinado por mergulhar numa piscina reservada aos brancos. Não é fácil harmonizar duas tramas tão heterogêneas e Banderas sofre às vezes com essa dificuldade. Consegue, no entanto, injetar aquela pitada de sal, o que deve ter aprendido trabalhando tanto tempo com Pedro Almodóvar. Nesse sentido, algumas seqüências fazem a diferença, como aquela em que aparece o juiz interpretado por Rod Steiger. Humano, debochado, inesquecível - como alguns dos melhores personagens criados por Almodóvar. Medo e Delírio. EUA, 1999. Dir. de Terry Gilliam, com Johnny Depp, Benicio Del Toro, Cameron Diaz. Distribuição: Paris Filmes. Loucos do Alabama. EUA, 1999. Dir. de Antonio Banderas, com Melanie Griffith, Rod Steiger. Distribuição: Columbia.

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