"Matrix" toma conta dos cinemas

Matrix Reloaded, o segundo filme da trilogia, chega hoje a 350 salas dos País. Com o reforço de Monica Bellucci, episódio intermediário trata da crise do herói Neo, papel de Keanu Reeves

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Por Agencia Estado
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Há um cérebro humano, o do Arquiteto, por trás do comando central da máquina que domina o mundo na série Matrix. Torna um pouco mais complexa a tradicional história sobre as máquinas que subjugam os humanos. O cérebro de Matrix não é Hal 9000, que enlouquece, escapa ao controle e vira uma ameaça para os astronautas de 2001, Uma Odisséia no Espaço, a obra-prima de Stanley Kubrick que estabeleceu um novo padrão para as fantasias científicas de Hollywood, nos anos 1960. The Matrix, a máquina, foi construída pelo próprio homem para dominá-lo. Há outro cérebro brilhante por trás das idéias dos irmãos Andy e Larry Wachowski, que escreveram e dirigem os filmes da trilogia Matrix. É o de Cornel West, o professor da Universidade Princeton, autor de Prophesy Deliverance e Race Matters, que se transformou no guru dos famosos irmãos. West faz um pequeno papel em Matrix Reloaded, o segundo filme da série iniciada em 1999. É o conselheiro West, que integra o grupo dirigente da cidade futurista de Zion, onde se reúnem as forças que combatem The Matrix. West, o personagem, tem uma frase que poderia ser dita por West, o intelectual. "Compreensão não é um requisito necessário para a colaboração." E é esse último quem provoca: define Matrix como uma obra de arte sofisticada que capta a essência de seus escritos sobre temas como sociedade, religião e filosofia. Como Jean Baudrillard e Paul Virilio, West está preocupado em discutir e avaliar o impacto do desenvolvimento tecnológico na ciência e na história. Como intelectual pop - o que talvez seja uma contradição em termos, motivo das críticas que vem recebendo no meio acadêmico dos EUA -, ele se reconhece no trabalho dos irmãos Wachowski. Matrix Reloaded fez estratosféricos US$ 93 milhões nos cinemas americanos, de quinta a domingo. Perdeu para O Homem-Aranha, que estabeleceu, no ano passado, um padrão dificilmente superável, com seus US$ 114 milhões na estréia. Mas enquanto o filme de Sam Raimi sobre o herói da Marvel tinha censura livre - ou entrava na categoria PD 13, para crianças acompamnhadas pelos pais -, Matrix Reloaded foi classificado pela MPA, a Motion Pictures Association, como R, de Restricted. Foi a melhor estréia de um filme para o público adulto em toda a história de Hollywood e o mais surpreendente é que as mulheres dividiram as filas com o público jovem, o que, garantem os especialistas, terá conseqüências no futuro do audiovisual nos EUA. Matrix Reloaded entra hoje com 350 cópias em todo o País. A distribuidora Warner, que investiu pesado na publicidade, diz que é pré-estréia. A estréia oficial, com igual número de cópias, será só amanhã. Poderá ser um grande sucesso, mas não vai ser fácil. Matrix Reloaded é a segunda parte da trilogia iniciada com Matrix e que se encerrará com Matrix Revolutions, com estréia anunciada para 7 de novembro. A decisão de lançar os dois filmes no mesmo ano é arriscada, mas faz sentido. Matrix Reloaded, como episódio intermediário, dá a impressão de ir do nada para lugar nenhum. Começa com um pesadelo do herói interpretado por Keanu Reeves, Neo, e termina com esse sonho mau virando realidade. Entre os extremos, Neo, o Predestinado, escolhido pela profecia para salvar o mundo, duvida de si mesmo. O tema de Matrix Reloaded é a crise do herói salvador. Não é uma coisa fácil de aceitar, por mais que venha embalado em corridas vertiginosas, eletrizantes lutas de artes marciais e ainda tenha o reforço do erotismo deslumbrante de Monica Belucci. A trajetória das balas recriada no computador perdeu o impacto como novidade. Para compensar, os efeitos das lutas coreografadas pelo mestre Wo Ping foram multiplicados. Quando o primeiro filme estreou, há quatro anos, fez boa bilheteria, mas não foi um sucesso retumbante. Isso não impediu que se transformasse no filme de ficção científica mais influentes dos últimos anos. Star Wars? Esqueça: a moda é Matrix. O ator Laurence Fishburne, que interpreta Morpheus, explica o motivo de toda essa adoração: é um grande filme de ação, mas, quantos desses filmes são capazes de levantar relevantes questões de filosofia e teologia? São as idéias de West, uma mistura de budismo e cristianismo com feminismo, marxismo e niilismo.

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