Martinelli busca recursos para filmar inédito de Khouri

Amigo e colaborador do grande cineasta, morto em junho de 2003, se prepara para fazer Febre, orçado em R$ 1,8 milhão

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Quando Walter Hugo Khouri morreu, em junho do ano passado, o Estado anunciou que o grande autor do cinema de São Paulo deixava dois roteiros inéditos, sugestivamente chamados de Luz e Fogo. Khouri deixou um terceiro roteiro - Febre, com o qual presenteou o amigo Sérgio Martinelli, pedindo-lhe que o transformasse em filme. O roteiro estava inacabado. Faltava o fim, que Martinelli criou e o próprio Khouri aprovou. Martinelli agora está captando para fazer Febre. A captação está sendo feita pela corretora Planner e a produção será da Videcom, empresa de Alberto Baumstein e Renato Sacerdote, com quem Khouri fez o filme que terminou sendo o último de sua importante carreira - Paixão Perdida. Em termos de bilheteria, o resultado foi decepcionante, mas Martinelli lembra que Paixão Perdida foi muito mal lançado, num momento difícil do cinema brasileiro. A própria crítica, com exceções, achou o estilo do diretor muito zen, quase parado, mas o filme se inscreve à perfeição no ciclo que Khouri chamava de "Marcelhal", centrado no personagem Marcelo, o voraz consumidor de sexo que busca a ascese por meio da degradação. Em Paixão Perdida, Marcelo não recua diante da destruição do próprio filho para satisfazer seu instinto primal de levar para a cama a enfermeira que cuida do menino. Há novidades no roteiro de Febre, anuncia Sérgio Martinelli. Khouri desenvolveu sua história pensando em filmar no Rio. E desta vez há dois, não um Marcelo. Um deles dá continuidade à saga Marcelhal. É um publicitário bem sucedido, mas que no momento em que o filme começa está em crise de criação. Ele trabalha na agência que possui uma grande conta internacional, mas está bloqueado e não consegue desenvolver a campanha que o cliente quer. Neste quadro, participa de uma festa de réveillon em Copacabana. Com um grupo de amigos, vai passear na areia e vê passar aquela mulher escultural, que lança uma oferenda ao mar. Marcelo fica siderado, mas ela desaparece e ele a procura, convencido de que poderá lhe oferecer a chave para o seu problema de criação. Descobre que se chama Ana e é dançarina num daqueles inferninhos que proliferam em Copacabana, para atrair turistas. Sendo quem é, Marcelo vai iniciar uma tórrida - e destrutiva - relação com Ana. O outro Marcelo é um cineasta que escolheu justamente a garota de programa como personagem de seu próximo filme, uma experiência documentária, no estilo cinema-verdade. Estabelece-se o triângulo e o Marcelo cineasta, ético e um tanto ingênuo, não é páreo para o publicitário disposto a tudo quando o assunto é sexo (e dinheiro). Orçado em R$ 1,8 milhão, Febre está em captação. "Quero fazer deste filme a minha homenagem ao Maestro", diz Martinelli, que só tratava Khouri como mestre.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.