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Marlon Brando foi o eterno rebelde da tela

Ator, que completaria 90 anos hoje, permanece como um dos grandes do cinema

Por Luiz Carlos Merten - O Estado de S.Paulo
Atualização:

Ele nasceu no mesmo dia que Doris Day – 3 de abril de 1924. Ela, em Cincinnati, Ohio. Ele, em Omaha, Nebraska. Mas enquanto Doris segue viva – 90 anos! –, Brando morreu em 1.º de julho de 2004, há dez anos. Se Doris virou emblema de caretice, Brando foi o rebelde da tela que antecedeu, nos anos 1950, o lendário James Dean. Ele ganhou seu primeiro Oscar por Sindicato de Ladrões, On the Waterfront, de Elia Kazan, em 1954. Nos anos 1960, seguiu uma carreira ziguezagueante, com mais baixos que altos. Parecia acabado, mas ressurgiu como O Poderoso Chefão (Francis Ford Coppola) e ganhou o segundo Oscar em 1972.

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Nos anos 1950, Brando e outro galã da época – Montgomery Clift – viraram garotos propaganda do chamado ‘Método’, o estilo de representação baseado nas teorias do russo Stanislavski que Elia Kazan e Lee Strasberg instituíram, no Actor’s Studio. Brando fez teatro antes de desembarcar em Hollywood como sensação. Fez Espíritos Indômitos, de Fred Zinnemann, como soldado que volta paralítico da guerra. E, logo, foi o Kowalski de Uma Rua Chamada Pecado, a adaptação, por Kazan, da peça Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams.

Kowalski colocou no palco e na tela o instinto animal do homem, em choque com a espiritualidade de Blanche DuBois. Ele está acostumado a pegar o que quer. É um bruto. Ela vive num mundo de sonho, inadaptada à realidade. O macho Brando saltou no lombo de uma motocicleta e fez história como O Selvagem, de Laslo Benedek. Virou o emblema do macho, mas Kazan, encarando com naturalidade a alegada bissexualidade de Brando – que teria tido um affair com o ator francês Christian Marquand – dizia que ele não teria sido tão grande ator se não tivesse sua porção feminina tão acentuada.

Por volta de 1960, Brando virou o garoto problema do cinema norte-americano. Seus caprichos estouraram o orçamento de O Grande Motim, de Lewis Milestone, e criaram um atrito tão grande com Stanley Kubrick em A Face Oculta que o futuro realizador de 2001 e Laranja Mecânica foi demitido. Brando assumiu a direção e fez um dos westerns mais estranhos do cinema. A década viu-o afundar em sucessivos fracassos. Brando, de campeão, tornou-se veneno de bilheteria. E aí renasceu – como Vito Corleone, no primeiro Chefão, e o norte-americano Paul, que protagoniza com Maria Schneider a célebre cena da manteiga em Último Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci. Maria, até o fim da vida, acusou o diretor e Brando de terem abusado dela de verdade na cena de sexo anal.

De novo investido como astro, ele voltou a ziguezaguear, se auto parodiando em Um Novato na Máfia, de Andrew Bergman. Mas atingira um patamar que, pelos parcos minutos em que aparecia em Superman – O Filme, de Richard Donner, de 1978, recebeu o maior salário da história (até hoje), coisa de US$ 1 milhão por minuto. Os grandes papeis incluem o Kurtz de Apocalypse Now, de novo com Coppola. Ninguém interiorizava uma cena como Brando. A tensão parecia explodir nos gestos, na voz que às vezes tornava inaudível o que ele dizia. Kazan, que o dirigiu três vezes no cinema – houve também Viva Zapata! entre Uma Rua Chamada Pecado e Sindicato de Ladrões –, dizia que ele foi o maior de todos os atores. Uma pesquisa na internet, pouco antes de sua morte, colocou-o lá pelo 20.º lugar. O maior na votação foi o Robert Pattinson da época. Quem? O vento levou seu nome. Brando permanece. Na vida pessoal, a última fase foi marcada por tragédias e ele viu o filho Christian ser levado a julgamento, acusado de matar o namorado da irmã, Chayenne.

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