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Marcello Mastroianni: 95 anos de nascimento de um dos grandes nomes do cinema

Astro italiano que personificou uma geração do cinema morreu em Paris em 19 de dezembro de 1996

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Numa cena de Noites Mágicas, a divertida comédia policial de Paolo Virzi, o jovem roteirista vai ao escritório do produtor. Passa por uma sala onde um homem chora. “Não é .. (Marcello) Mastroianni?” E a resposta - “Ele fica assim cada vez que a vaca o abandona.” Pela época retratada, começo dos anos 1970, a 'vaca' só pode ser Catherine Deneuve, com quem o astro italiano teve um rumoroso affair, e uma filha, Chiara Mastroianni. Humor à italiana.

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Marcello! Ele nasceu em 28 de setembro de 1924, portanto, neste final de semana comemoram-se os 95 anos de nascimento de um dos grandes nomes do cinema. Marcello nasceu em Fontana Liri, pequena comuna da província de Frosinone, na região d Lácio, com população em torno de 3 mil habitantes. Por parte do pai, era sobrinho de um escultor famoso, Umberto Mastroianni. Teve a infância comum de um garoto traquinas, antes que a família se mudasse para Turim, e Roma.

Formou-se empreiteiro, mas, como tinha bela estampa, começou a trabalhar como figurante de cinema - La Corona di Ferro, de Carmine Gallone; A Culpa dos Pais, de Vittorio De Sica. Passou a frequentar grupos de teatro. Teve um romance breve, mas intenso, com a jovem Silvana Mangano, que viria a ser grande estrela (e mulher do produtor Dino De Laurentiis). A verdadeira estreia ocorreu com Os Miseráveis, a versão de Riccardo Freda, de 1948, quando ele tinha 24 anos, mas só virou profissional no teatro, com Luchino Visconti, no mesmo ano. Não parou mais, peças e filmes. Filmou com Luciano Emmer (Domingo de Agosto, Paris É Sempre Paris, As Garotas da Praça da Espanha), Carlo Lizzani (Crônica dos Pobres Amantes, uma adaptação do romance de Vasco Pratolini) e Luchino Visconti (Um Rosto na Noite/As Noites Brancas, baseado em Dostoievski), todos diretores originários do neo-realismo.

Cena do filme 'A Doce Vida', de Fellini, com Anita Ekberg e Marcello Mastroianni Foto: Cinecittà

A grande explosão veio com o papel do jornalista Marcello em A Doce Vida, de Federico Fellini. Tornou-se uma espécie de alter ego do diretor, filmando com ele o episódio de Boccaccio 70, Fellini 8 ½, Fellini Entrevista e Ginger e Fred. Também filmou muito com Vittorio De Sica, quase sempre em dupla com Sophia Loren (Ontem, Hoje e Amanhã, Matrimônio à Italiana, Os Girassois da Rússia) e conheceu memoráveis triunfos com Michelangelo Antonioni (A Noite), Pietro Germi (Divórcio à Italiana), Valerio Zurlini (Dois Destinos/Cronaca Familiare), Mario Monicelli (Os Companheiros), os irmãos Taviani (Allonsanfan), Marco Ferreri (Lisa, quando conheceu a Deneuve, A Comilança), Marco Bellocchio (Enrique IV), Theo Angelopoulos (O Apicultor, O Passo Suspenso da Cegonha), Nikita Mikhalkov (Olhos Negros) e Manoel de Oliveira (Viagem ao Princípio do Mundo), além de um grande etc que inclui Vida Privada, de Louis Malle, com Brigitte Bardot - que neste sábado, 28, também completa 85 anos -, e Gabriela, que fez no Brasil com Sônia Braga, sob a direção de Bruno Barreto.

Voltou a trabalhar com Visconti, O Estrangeiro, baseado em Albert Camus, num papel que o grande diretor planejava para Alain Delon. Foi casado com Flora Clarabella, com quem teve uma filha, Barbara (antes do episódio com a Deneuve). Durante décadas, encarnou o mito do sedutor latino, mas lixava-se para essa coisa de imagem. Não teve problemas em fazer um gay (Um Dia Muito Especial) nem o amante decadente de Casanova e a Revolução, ambos para Ettore Scola, que o levou a seus limites. Recebeu um monte de prêmios - Globo de Ouro, Bafta, prêmios de interpretação em Cannes e Veneza, além de muitos David di Donatello e Nastro d'Argento, na Itália). Fez tudo isso, mas se considerava um preguiçoso. Morreu em Paris, em 19 de dezembro de 1996.

No começo dos anos 1990, o repórter, neófito em festivais internacionais, foi a Veneza pelo Estado. No Lido, captou um burburinho. Mastroianni dava uma entrevista no bar do hotel, para jornalistas italianos. O repórter foi chegando. Os colegas italianos detectaram sua presença e quiseram expulsá-lo. O sorriso de Mastroianni - “Laccia stare”, deixem pra lá. O repórter permaneceu e teve direito até a fazer sua pergunta.

Quer saber mais sobre a vida e a obra de Marcello Mastroianni? Consulte o Acervo Estadão

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