"Se há algo que aprendi com este filme foi o valor da escalada. O professor me perguntou: 'Sabe qual o objetivo?'Respondi que era chegar no topo da montanha. Ele rebateu: 'Não é chegar, mas sim estar caminhando da melhor maneira possível. Superar um degrau a cada dia", comentou a atriz Mariana Ximenes em conversa com o Estado sobre um dos desafios de seu personagem em Mão de Cavalo, novo filme de Roberto Gervitz (de Feliz Ano Velho e O Jogo Subterrâneo), rodado há pouco no Rio Grande do Sul, com locações em Porto Alegre e Farroupilha.
O ator Armando Babaioff, que no filme divide a cena com Mariana, curiosamente, fez a mesma declaração: "Há um grande aprendizado neste filme. Algo que vou levar para a vida. Ganhei um esporte novo e aprendi que o valor da escalada está em ir sempre em frente, superar nossos limites a cada passo", comentou ele, que na trama vive Armando, médico casado com a artista plástica Adri (Mariana). "Ela está grávida e quer muito ter um filho. A gravidez muda tudo para Hermano, que não quer ter um filho. Além disso, está se preparando para uma escalada perigosa. O conflito entre ficar com a mulher ou partir para a aventura, que também representa uma forma dele lidar com uma frustração do passado, por não ter ajudado um amigo em perigo, é o motor desta história", conta Gervitz. "É a hora dele se definir como pessoa. O longa centra o foco sobre os casais contemporâneos. Fala da capacidade de se abrir mão de projetos pessoais por um projeto conjunto". completa. Sobre a escalada, Babaioff ainda pontuou: "Tem um simbolismo forte, pois é um esporte que não se pratica sozinho, depende-se muito do outro. É uma experiência única." Esta experiência representa muito do que Roberto Gervitz pretendia quando decidiu adaptar para o cinema a obra homônima de Daniel Galera. "Aprendemos sobre o processo de amadurecimento. Estou em um momento assim da vida, pois fiz 33 anos. E Gervitz, além de manter isso do livro, aprofundou. Tem um olhar incrível sobre a obra", diz Mariana.
O olhar do diretor de fato traz para o presente questões cruciais do livro. "Mudei muito a obra, que conta a história de um médico de 35 anos que já tem uma filha de dois anos. Ele está indo para uma escalada e, no carro, lembra de seu passado. O filme inverte isso. Ainda que o Hermano resgate passagens de seu passado, o presente é o coração da trama", explica Gervitz. O diretor, que já tinha falado do universo adolescente em Feliz Ano Velho, encontrou em Mãos de Cavalo a chance de falar dos jovens adultos. "Um cineasta tem sempre que ler os jovens. Mas este é um livro difícil de adaptar. Quando a gente faz uma adaptação, a transposição é violenta. Precisamos muito da generosidade do escritor. O Galera é um escritor essencialmente literário. E o valor dele não é necessariamente a história, mas a literatura. A forma como articula as palavras, descreve as coisas. O prazer dele está nisso", analisa Gervitz. É a forma como o escritor tocou em pontos que o diretor observa com atenção que o fez decidir por levar a história para as telas. “Trata das questões da existência, mas sem filosofia. Os diálogos são econômicos. O que é a coragem e o que é a liberdade? Esta é uma das questões mais importantes", declara o diretor, que leu Mãos de Cavalo há quatro anos e até tentou comprar os direitos de adaptação. "Mas eles já estavam com a produtora gaúcha Monica Schimiedt. Quando soube, me ofereci para filmar. Em janeiro de 2011, ela me chamou para trabalhar no roteiro. Viramos coprodutores”, relembra Gervitz.
A partir daí, foram três anos escrevendo. E sete tratamentos de roteiro. "Em paralelo fomos batalhando para levantar os recursos e estudando as locações. É um filme trabalhoso. Tem cenas com crianças, violência, noturnas. Passamos uma semana filmando em um hospital, o Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul. E ainda há as escaladas, que foram muito bem estudadas e trabalhadas. Tínhamos uma equipe especializada acompanhando sempre os atores, que tiveram aulas ", conta. Gervitz ressalta que Mãos de Cavalo retrata as questões de uma geração muito particular. "É sobre pessoas que não crescem. Não julgo, mas observo o fato de que as pessoas não conseguem se juntar e abrir mão de seus projetos pessoais. Quis muito falar da relação deste casal neste momento. São dois workaholics. Ela também é uma artista plástica e tem uma obra que vai expor", diz o diretor, que completa: "Ele tem o impulso de partir para a escalada e a gente não sabe bem como nem por que. Ao longo do filme, descobrimos. E por que ele não quer ter o filho? Tudo gira em torno deste conflito. É a hora dele se definir como pessoa. O que é a coragem e o que é a liberdade?"