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Manifesto provoca racha entre cineastas

Assinado por 50 diretores, texto pede que o diálogo com o governo seja feito com entidades de classe, "não de forma personalista"

Por Agencia Estado
Atualização:

A batalha do "dirigismo cultural" ainda parece longe de acabar. O manifesto lançado ontem por um grupo de 49 cineastas, desautorizando reunião dos ministros Luiz Gushiken e Gilberto Gil, na terça-feira, com alguns diretores de cinema, reaqueceu a discussão no meio cinematográfico. Os cineastas pedem no seu texto que o diálogo seja feito por meio de entidades e associações de classe de todo o Brasil, "e não de forma personalista". O documento é assinado por diretores de grande projeção, como Nelson Pereira dos Santos (Vidas Secas), Fernando Meirelles (Cidade de Deus) e Beto Brant (O Invasor). Ontem, durante a abertura do 13.º festival Cine Ceará, em Fortaleza, o ator Reinaldo Gonzaga leu o texto do manifesto, assinado por muitos dos presentes - como Cláudio Assis, Rosemberg Cariry, Eliane Caffé e Paulo Sacramento. Logo ao desembarcar para o Cine Ceará, ontem à tarde, o cineasta Walter Lima Jr. (A Ostra e o Vento) tornou-se o 50.º diretor a assinar a lista. "Era oportuna a questão levantada pelo Cacá (Diegues)", disse Lima ao Estado. "Mas havia uma certa dose de exagero e foi à revelia de um consenso geral. São questões interessantes, mas a forma como foram conduzidas criou um certo constrangimento à classe; eu vi naquilo um gesto de intimidação", afirmou o diretor. Outro signatário do manifesto, o roteirista Paulo Halm lamentou que, durante as discussões, não tenha havido "nenhuma palavra contra a bandalheira que caracterizou a utilização do dinheiro público nesses tempos de lei de incentivo; nenhuma palavra contra os atravessadores; contra os captadores de recursos que, muitas vezes, catapultavam os orçamentos, cobrando taxas que dobravam, triplicando o custo real de um filme. Nenhuma palavra contra essa casta de gângsteres e sanguessugas que monopolizaram as verbas públicas, na mais das vezes com o beneplácito oficial. Nenhuma palavra contra a concentração dos recursos, em sua maioria públicos, nas mãos dos mesmos e poucos produtores". Falando ao Estado, Cacá Diegues evitou polemizar. "Já disse tudo que tinha a dizer. O episódio recente na área da produção cultural acaba de ter um final feliz e nós o devemos à autoridade, sabedoria e espírito democrático do ministro Luiz Gushiken, responsável pela promoção da conciliação" disse. Segundo ele, o mais importante era suprimir "aquelas regras que estavam assustando todos nós. "Eu não represento ninguém, não me cabe responder a isso (o manifesto), mas creio que o assunto foi encerrado de maneira gloriosa: o Ministério da Cultura retomou a condução das políticas culturais e agora resta ao MinC acionar os mecanismos que ativam os patrocínios." No seu manifesto, os cineastas pedem que o governo retome as discussões "em regime de colaboração, e não de forma unilateral" e que acabe "com o privilégio de pequenos grupos que têm recebido de forma concentrada os recursos concedidos nos últimos anos". O documento não aponta quem pertenceria a esses grupos.

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