PUBLICIDADE

Madeleine Stowe, estrela de "Fomos Heróis"

A atriz abandona o estilo mulher frágil e interpreta Julie Moore, a mulher que na vida real tomou para si a tarefa de informar as outras da morte de seus maridos na Guerra do Vietnã. Ela fala à Agência Estado sobre sua personagem e sobre seu companheiro nas telas, Mel Gibson

Por Agencia Estado
Atualização:

Desde que debutou nas telas, contracenando com Richard Dreyfuss em Tocaia, Madeleine Stowe especializou-se em mulheres frágeis, enigmáticas e em perigo. ?Nunca me perdoei por isso??, brinca a atriz de 43 anos, orgulhosa por contrariar as expectativas ao interpretar mulher de personalidade forte em Fomos Heróis. No filme que estréia nesta sexta-feira nos cinemas brasileiros, Madeleine personifica a coragem e o sacrifício das mulheres que os soldados enviados à Guerra do Vietnã deixaram em casa. ?Pela primeira vez um filme de guerra mostra realmente a perspectiva das famílias, sem ignorar o sofrimento das esposas e dos filhos dos soldados??, diz a atriz, encarregada de viver Julie Moore. Baseada em figura verídica, sua personagem é a mulher do coronel que liderou as tropas na batalha travada no Vale da Morte, em 1965. Revoltada com a insensibilidade do governo, que usa telegramas entregues por taxistas para informar as mulheres da morte de seus maridos, Julie toma para si a desconcertante tarefa de dar as más notícias. ?Ela preferia receber todos os telegramas e bater de porta em porta, confortando as viúvas e tomando as providências necessárias para que o exército cuidasse das famílias??, conta Madeleine. E a cada novo telegrama, Julie tremia com a possibilidade de ser informada da morte de seu marido (vivido nas telas por Mel Gibson). ?Foi ótimo contracenar com Mel, um superstar sem qualquer afetação. Ele era o primeiro a chegar no set, sempre pontualmente e nunca se escondia no trailer nos intervalos, coisa de quem quer chamar a atenção.?? Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista, concedida à Agência Estado, em Los Angeles. Agência Estado - Conheceu a verdadeira Julie Moore? Madeleine Stowe - Fiz questão, já que nem sempre que temos a oportunidade de conhecer as pessoas que interpretamos nas telas. Antes de filmar, eu almocei com Julie e depois a encontrei várias vezes no set, onde ela costumava nos visitar. Conhecê-la pessoalmente me ajudou a representá-la com mais autenticidade. Ela é uma mulher muito inteligente. Conhece o marido melhor que ninguém e entende a vida militar como poucas esposas. Como o pai dela também foi coronel do exército, ela sempre teve uma noção aguçada de dever e responsabilidade. Não se sentiu incomodada com sua presença no set? Se eu estivesse interpretando outra pessoa, provavelmente ficaria intimidada. Mas isso não ocorreu com Julie. Acho que ter no set vários soldados e esposas, pessoas que vivenciaram a época, enriqueceu a experiência para todos. Confesso que era estranho vê-los acompanhar passagens de suas vidas pelos monitores. Muitos não conseguiam esconder as lágrimas ao lembrar de coisas tão dolorosas. Por que não a vemos com mais freqüência nas telas? Recebe poucas ofertas interessantes ou prefere longos intervalos entre um filme e outro? Não sou tão requisitada assim. Talvez por eu não saber fazer um marketing pessoal e evitar publicidade. Atualmente tenho a impressão de que Hollywood valoriza mais quem está sempre na mídia do que quem tem talento. É por isso que muitos atores se comportam como se quisessem ser os queridinhos da américa. Mas não reclamo. Eu gosto muito mais da minha vida fora dos sets. É por isso que prefere morar longe de Hollywood? Apesar de gostar do trabalho, eu me sinto sufocada em Los Angeles. As pessoas são mais egoístas e menos civilizadas. No Texas (onde Madeleine vive com o marido, o produtor Brian Benben, e a filha May em uma fazenda), o povo é mais atencioso. Ninguém discute filmes. Eles te respeitam pelo que você é e não baseado em quem você conhece no showbiz. Mas, por outro lado, a mentalidade é provinciana. Isso explica porque o nosso presidente (George Bush) não tem histórico de viagens no exterior. Infelizmente, os texanos não se importam com o que se passa fora do mundo deles. Como você lida com os filmes mal acolhidos, como Impostor (ainda inédito no Brasil)? Se o estúdio não tivesse mudado o formato na última hora, transformando o curta em longa-metragem, a recepção teria sido melhor. A princípio, eu fui contra. Perguntei: para que mexer em algo que está bom? Tive receio de que eles não conseguissem sustentar a tensão em 1 hora e 40 minutos. Até acho que eles conseguiram, mas, mesmo assim, o filme não funcionou. Também não gostei da minha personagem, a mulher do cientista (Gary Sinise) acusado de ser alienígena. Por ela ser ambígua demais, eu me senti de mãos amarradas. Não pude fazer muita coisa para não revelar quem ela era. Conhece a obra de Philip K. Dick, em que se baseia Impostor? Só li o conto Impostor, onde pude perceber por que o autor é tão visitado por cineastas (como Ridley Scott, em Blade Runner, Paul Verhoeven, em O Vingador do Futuro e, mais recentemente, Steven Spielberg, com Minority Report ? A Nova Lei). Há algo elíptico em seu trabalho que instiga a nossa imaginação. Da perspectiva dos diretores, deve ser desafiador traduzir em imagens os momentos de suspense dos livros. Como foi a filmagem da comédia Avenging Angelo, um gênero pouco explorado em sua carreira? Quase ninguém acredita na minha capacidade de fazer rir (risos). Mas estava louca para fazer uma comédia. Não sou tão séria quanto pareço. Engraçado que contraceno com Sylvester Stallone, que também não tem tradição em comédia. Mas acho que nos saímos muito bem. Pelo menos nos divertimos muito no set. Eu interpreto a filha de um mafioso e Stallone é o guarda-costas de meu pai, vivido por Anthony Quinn. Esse foi, inclusive, o último trabalho do ator (Quinn morreu em junho do ano passado). No momento, estou rodando Octane, um thriller em que interpreto a mãe de uma adolescente que desaparece ao ingressar em uma seita religiosa. De qual filme tem mais orgulho? Ainda que eu não goste da minha participação no filme, o título preferido do meu currículo é Os Doze Macacos. Inegavelmente é o mais provocativo e interessante de todos. A experiência no set, no entanto, foi estranha. Estava grávida e quase perdi o bebê durante a filmagem. Acho que tudo isso contribuiu para a minha performance irregular. Fora isso, ainda detesto me ver loira. A cor definitivamente não cai bem nos meus cabelos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.