Machline é a esperança de um Oscar

Como um azarão, Paulo Machline emplacou seu curta Uma História de Futebol na corrida para o Oscar. Ouviu a história de um ex-funcionário da Sharp, fundada por seu pai Mathias Machline. Primeiro escreveu uma crônica, que virou filme com o dinheiro da herança deixada pelo pai

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Por Agencia Estado
Atualização:

- Único filme brasileiro indicado ao Oscar 2001, o curta-metragem de Paulo Machline Uma História de Futebol entrou na disputa exatamente como um jogador desconhecido que entra aos 40 minutos do segundo tempo e faz o gol da vitória. Uma História de Futebol conta um caso que realmente aconteceu. Um homem de 60 anos lembra de uma partida de futebol que disputou em Bauru, no interior de São Paulo, aos 10 anos de idade, ao lado de Dico, um garoto talentosíssimo, que mais tarde o mundo aprenderia a admirar por outro apelido: Pelé. "Em 1994, numa mesa de bar, Aziz Adib Naufal, um funcionário da Sharp, disse que quando era garoto, havia jogado com Pelé." Machline adorou a história e escreveu uma crônica. A idéia de transformá-la em filme veio quando Machline assistiu à Space Jam, o Jogo do Século, em que Michael Jordan joga basquete com Pernalonga e sua turma. Sem apoio oficial, ele investiu a herança que seu pai, Mathias Machline, fundador da Sharp, lhe deixou ao morrer, em 1994. "Meu sonho era fazer cinema e apostei tudo no filme." Com um primeiro roteiro nas mãos, ele chamou os experientes José Roberto Torero e Maurício Arruda para retrabalhar a idéia. Antônio Fagundes foi chamado para a narração em off e José Rubens Chachá, para o papel do técnico. A maior dificuldade foi encontrar as crianças. "Queria que as cenas de jogo fossem bem reais e resolvemos procurar crianças em escolinhas de futebol." O elenco foi escolhido entre 200 crianças. Só para o papel do Pelezinho, havia 30 candidatos. O escolhido foi Marcos Delfino, que é muito parecido com as fotos de Pelé quando menino. O filme tem belíssimas imagens e uma simplicidade tocante. Retrata uma cidadezinha do interior nos anos 50, com uma primorosa reconstrução de época. Até os meiões dos meninos têm cadarços no lugar dos elásticos abaixo do joelho. É impossível não sentir um arrepio de emoção quando começa o segundo tempo, o time está perdendo por 2 x 0 e o menino Dico começa a jogar o que sabe. Uma idéia muito feliz foi fazer com que o menino encenasse jogadas famosas feitas pelo próprio Rei do Futebol. Em uma das cenas, ele repete um lance da Copa de 1970. Pelé vem sozinho com a bola, o goleiro sai do gol, ele passa por um lado, a bola por outro. "Eu quis mostrar o menino como um predestinado." Com o gol aberto, correndo na diagonal, ele arremata para o que seria um gol antológico, mas a bola, caprichosamente, vai para fora. "Tivemos de repetir a jogada oito vezes, pois em todas o menino acertava o gol. Daquele ângulo é muito difícil errar, foi muita falta de sorte do Pelé", lamenta. Realismo - O realismo das cenas de futebol impressiona até quem conhece bem o esporte. "Primeiro mandei os meninos disputarem um "rachão" para valer e filmei, no estilo Canal 100, aproveitando as melhores cenas. Só as jogadas importantes foram ensaiadas", explica. Nos últimos minutos da partida, o goleiro é expulso e Pelezinho o substitui. A exemplo do que aconteceu com Pelé nos tempos de Santos, ele fechou o gol. A única decepção que Machline teve com o curta foi não estar junto com Pelé quando o Rei viu o filme. "Nunca coincidia de estarmos os dois com a agenda disponível." No ano passado, ele recebeu um vídeo do curta e o viu sozinho. Tempos depois, os dois se encontraram num restaurante e o diretor não resistiu à tentação de ouvir sua opinião. "Ele foi muito atencioso e falou que gostou, dizendo "as verdades são verdadeiras e as fantasias estão lindas". Mas eu ainda gostaria que assistíssemos juntos ao curta." Se voltar de Los Angeles com a estatueta na bagagem, Machline entrará para a história do cinema nacional e ganhará a camisa de titular no time dos nossos maiores cineastas. Mas ele sonha mesmo é com um patrocínio para seu primeiro longa, que se chamará Socorro.

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