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Luciana Rigueira convence como índia em "Brava Gente Brasileira"

Por Agencia Estado
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A cena emocionou os atores: já posicionados e à espera do sinal da diretora Lúcia Murat para rodar mais uma cena do filme Brava Gente Brasileira, todos se surpreenderam com o choro repentino da índia Sandra Silva, que participa da figuração. Considerada uma verdadeira princesa pelos kadiwéu, indígenas que vivem em uma reserva em Mato Grosso do Sul, Sandra percebeu que o desenho de seu rosto era menos representativo que o da atriz Luciana Rigueira, única a interpretar uma índia. "Isso a deixava em posição inferior, o que não pode ser aceito na tribo", conta Luciana, impressionada com a situação. "Foi mais um momento em que me certifiquei de que as mulheres cadivéus são fiéis a sua tradição." O filme trata do problema de colonização dos índios kadiwéu, na região do Pantanal, em 1778. Um grupo de soldados acompanha o cartógrafo português Diogo (Diogo Infante) até o Forte Coimbra, onde, sob a chefia do Comandante (Leonardo Villar), busca-se um acordo de paz com os indígenas, essencial na disputa de terras travada entre Portugal e Espanha. No caminho, o grupo de Diogo aprisiona a índia Anote (Luciana Rigueira), que é estuprada pelo português e levada à força até o forte. "Ela é responsável pelos grandes choques culturais com os portugueses", comenta a atriz. "Anote tem uma cultura muito peculiar e não consegue viver com Diogo, que vem ao Brasil com uma imagem romântica dos índios." A mesma impressão, aliás, que Luciana carregava quando foi convidada para participar do filme. "Quando tive o primeiro encontro com a Lúcia, eu acreditava que interpretaria uma índia doce como Iracema", conta. "À medida que fui descobrindo detalhes da história, percebi que estava diante de outro tipo de mulher." O caráter impetuoso e guerreiro das índias, aliás, foi a primeira barreira enfrentada por Luciana Rigueira em sua aproximação. "Para ouvir o som da língua e me integrar, fiquei cinco dias na reserva, além de conviver uma semana com os índios que participariam da filmagem", lembra a atriz que, para facilitar a memorização da fonética, pediu para a índia Sandra Silva ler seus diálogos em voz alta na língua original. "Gravei todas as falas para depois repetir, inúmeras vezes." O som é gutural, diferente da pronúncia tupi, e exige uma diferente utilização dos músculos faciais para ser emitido. O empenho foi reconhecido pelas próprias índias que, depois de assistirem ao filme, garantiram que a atriz disse bem suas falas. Luciana aproveitou ainda os momentos em que as índias, reunidas para relembrar histórias dos ancestrais, exibiam gestos característicos, todos devidamente estudados por ela. "A precisão era muito importante, pois os índios não se importavam com nossa ficção: se o fato soava estranho, eles simplesmente riam ou não reagiam como o esperado." Os desenhos faciais que provocaram as lágrimas da índia Sandra Silva também receberam um tratamento especial. Luciana submetia-se a duas horas de maquiagem, detalhadamente executada pelo mexicano Martim Macias. "Os traços são importantes, pois exaltam determinados sentimentos", conta a atriz. "Por isso que a Sandra, que acabou ganhando um papel no filme, se sentiu inferiorizada ao comparar o desenho no meu rosto com o do seu." Apesar de falar apenas uma palavra em português ("menino") e de seus diálogos em cadivéu não serem traduzidos em legendas, a atuação de Luciana Rigueira recebeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Brasília. "Foi uma grande supresa, pois cheguei um dia antes da premiação e não acompanhei os comentários sobre os possíveis vencedores." O prêmio revela a força feminina do filme, cujos primeiros segundos também são poderosos: o sangue da menstruação de uma índia mancha um tecido claro. "É um momento forte e serve como preparação para o espectador esperar o que vem a seguir", comenta Luciana. "Na tela, não surgirão índios passivos, mas seres guerreiros, de cabeça erguida, que não se deslumbram e gostam de ser como são." Em Brava Gente Brasileira, a atriz teve oportunidade de conhecer o trabalho de atores veteranos, como Leonardo Villar e Buza Ferraz. "É enriquecedor, pois eles exibem uma calma que eu ainda procuro", conta Luciana, que traz outras importantes experiências de outros filmes, como em Quem Matou Pixote, filme de José Joffily que, além de lhe render um prêmio no Festival de Gramado, permitiu trabalhar com Joana Fomm. E também Fica Comigo, filme de Tizuka Yamazaki em que contracena com Antônio Fagundes. "São atores que trazem um enorme aprendizado." Luciana Rigueira participa ainda de Tainá, Uma Aventura na Amazônia, de Tânia Lamarca e Sérgio Bloch, que já estreou no Rio e logo inicia carreira nos cinemas de São Paulo. Enquanto estuda a participação em outros dois projetos para a tela (um deles de Alice de Andrade, filha do cineasta Joaquim Pedro de Andrade), a atriz exercita-se no espetáculo Boom, que encerrou temporada no teatro Procópio Ferreira no fim do ano passado e agora viaja pelo Rio de Janeiro. "O teatro é uma escola essencial para qualquer ator", justifica.

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