Locarno premia o cinema engajado de Ken Loach

Cineasta de Meu Nome é Joe recebe hoje à noite, das mãos do italiano Ettore Scola, um Leopardo de Ouro pelo conjunto de sua obra

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Por Agencia Estado
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O cineasta italiano Ettore Scola entrega hoje à noite, na véspera de encerramento do Festival Internacional de Cinema de Locarno, um Leopardo de Ouro ao cineasta inglês Ken Loach. O prêmio é concedido em homenagem ao conjunto de sua obra, marcada pela preocupação social. Num encontro com a imprensa, o cineasta de Pão e Rosas, que já tinha sido premiado em Locarno pelo filme Meu Nome É Joe, fez severas críticas ao primeiro-ministro Tony Blair. "Hoje Blair pode ser comparado a Berlusconi (primeiro-ministro italiano), outro amigo de Bush (presidente americano)", disse. "A democracia está morta porque os milhões de manifestantes contra a guerra (no Iraque) não foram levados em conta por Blair." Loach afirmou também que o cinema comercial atual tem uma ideologia reacionária, em favor do culto da riqueza. Atualmente, Ken Loach está terminando seu 18.º filme, A Fond Kiss, sobre uma família paquistanesa radicada na Escócia. A seguir, trechos da entrevista: Nos seus muitos filmes, conseguiu tratar de diversos problemas sociais. Qual tema não lhe seria possível abordar? Existem ainda numerosos temas que desejo abordar, mas não vou revelar, pois espero fazer ainda muitos filmes. Um tema que ainda não tratei é o passado imperialista da Grã-Bretanha, das ex-colônias sobre as quais ainda afirma ter direitos, como é o caso da Irlanda. Um roteiro meu sobre a Irlanda foi rejeitado por Channel Four. Kean Loach seria o último dos cineastas engajados? Não, não sou. Locarno mostra que existem muitos outros cineastas descontentes e com filmes de preocupação social. Evidentemente que o sistema gostaria de produzir só filmes de direita, como os atuais filmes comerciais marcados pelo culto da violência, da riqueza e da beleza. Dizer que o cinema engajado está desaparecendo é propaganda capitalista. Não, o cinema não está se tornando apenas de direita. Acha que refaria seu curta-metragem sobre o 11 de setembro? Sim. Naquele momento, não me dei conta de que o 11 de setembro seria o começo de uma guerra interminável. A desculpa e o pretexto por uma guerra contra o terrorismo, criando o terrorismo de Estado. Uma guerra imperialista que poderá durar cem anos pela defesa dos interesses econômicos americanos de introduzir McDonald e Coca-Cola em todo mundo.

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