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Locarno mostra Bach no mesmo estilo de Amadeus

Por Agencia Estado
Atualização:

Não é exagero se comparar o filme Meu nome é Bach - primeiro filme da suíça Dominique de Rivaz, com produtor alemão - ao filme Amadeus sobre a vida de Mozart. O filme não conta a vida de Bach, mas de insolente encontro imaginado entre o compositor e o imperador da Prússia, Frederico II, homossexual convicto, déspota e grande conhecedor de música, que ? segundo diziam ? costumava tocar flauta ao fim das batalhas, entre os cadaveres. Poucos cineastas tiveram a coragem de tentar um filme sobre o monumento musical Johan Sebastian Bach, mas para ter sucesso, Dominique achava ser preciso usar de insolência e obter sabor com a figura do imperador alemão. É verdade que a vida pessoal de Frederico II é geralmente posta de lado pelos alemães e quase tudo, no filme, é imaginado. Mas o encontro entre Bach e Frederico, (vivido por um conhecido ator alemão, Juergen Vogel), poderia ter sido como imaginado no filme, e até quem não curte música clássica pode gostar. Afinal, muita coisa do filme Amadeus foi inventada e, nas cortes, da época tudo podia acontecer. O produtor alemão acredita num sucesso internacional do filme, ja vendido para numerosos países. A seguir, leia os principais trechos da entrevista com a diretora Dominique de Rivaz Agência Estado ? Por que um filme sobre Bach? Dominique ? Não se trata apenas de um filme sobre Bach mas sobre duas famílias, a de Bach e a de Frederico II, este vítima de um pai prepotente, que foi espancado quando criança e cujo pai chegava a cuspir na sua sopa. Agência Estado ? Um filme irreverente sobre Bach lembra Amadeus sobre Mozart. Houve essa intenção ao fazer o filme? Dominique ? Houve algumas cenas de Amadeus que poderiam ter me inspirado, mas preferi mostrar a cabeça de Bach, como uma Lua, sendo lentamente iluminada, nos momentos de composição, numa tentativa para compreender o fenômeno da criação. Acho que no meu filme usamos ainda de mais liberdade que em Amadeus. A isso nos ajudou, a mim e ao roteirista, o fato de não sermos alemães e não termos tido jamais rei na Suíça. Assim, não nos sentimos obrigados a respeitar nem Frederico II e nem Bach. Em relação a Bach, em lugar do respeito preferimos utilizar do prazer. Agência Estado ? Não havia muitos documentos sobre os dois personagens? Dominique ? No que se refere a Frederico II existem bibliotecas, pois o rei prussiano deixou uma vasta correspondência. Era uma pessoa volúvel, extrovertida. Mas em relação a Bach, sabemos muito pouco sobre sua vida íntima e, por isso, foi preciso se inventar. Mas o encontro entre os dois existiu e consta, embora suscintamente de algumas correspondências. Agência Estado ? Qual a razão da opção pela língua alemã? Dominique ? Sempre achei que o filme deveria ser em alemão, pois se Frederico sabia bem o francês, Bach só falava o alemão. Os produtores nunca fizeram exigências quanto à língua. Agência Estado ? E como foi a escolha dos atores para os dois papéis principais? Dominique ? Acho que sendo mulher, procurei dar a Bach algum tipo de semelhança com meu pai. A escolha de Vadim Glowna para viver Bach, que eu própria não conhecia, foi sem problemas, ele aceitou imediatamente. Para o papel de Frederico II pensamos em Juergen Vogel, bastante conhecido na Alemanha, mas havia o problema de sermos um filme de poucos recursos. Entretanto, a possiblidade de viver o rei encantou Vogel que aceitou imediatamente por uma soma bem abaixo do que cobra por outros filmes. Agência Estado ? E como se deu a abordagem do homossexualismo de Frederico II? Dominique ? Da maneira mais livre possível. Embora o homossexualismo fosse aceito, talvez da mesma maneira que hoje na época barroca de Frederico II, houve sempre uma certa discreção dos historiadores alemães a respeito, mesmo hoje em dia, e acabou sendo escondido durante o nazismo. O romance de Frederico II com seu valet nunca foi mencionado porque foi inventado, para dar mais força ao filme.

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