Locarno homenageia Mia Farrow

Aos 69 anos, atriz americana recebe prêmio por sua carreira, que inclui o clássico de suspense ‘O Bebê de Rosemary’; filme brasileiro 'Ventos de Agosto' teve boa acolhida do público

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Por Flavia Guerra
Atualização:

LOCARNO - Quando se ouve falar de Mia Farrow, impossível não pensar automaticamente em Woody Allen e Dylan Farrow, filha adotiva da atriz, que em outubro de 2013 publicou artigo na revista Vanity Fair, acusando o diretor de tê-la molestado sexualmente. Mas Mia, que aos 69 anos recebe nesta edição do Festival de Locarno o Leopard Club Award pela carreira, entregue na noite desta sexta-feira, 8, avisou, por intermédio de seu relações públicas, que não vai fazer nenhum comentário sobre a contenda Allen X Dylan Farrow.

Dito isso, Mia se mostrou muito solícita e disposta a falar de (quase) tudo. De bom humor, quando questionada sobre o que mais a orgulha em sua longa carreira, respondeu que a fase atual é seu melhor momento e que teve a sorte de trabalhar com diretores incríveis. Não por acaso, um dos cineastas com quem trabalhou e que a tornaram uma estrela, Roman Polanski, é outro homenageado em Locarno, onde mostra Venus in Furs, ministra aula magna e recebe prêmio especial no dia 15. 

Mia. Carinho por Sinatra e 'sem comentários' para Woody Allen Foto: Urs Flueeler/AP PHOTO

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Foi justamente O Bebê de Rosemary, de 1968, com Polanski como diretor, que a atriz apresentou na quinta para a plateia que lotou o auditório Fevi. “O meu primeiro papel principal. Tive muita sorte de consegui-lo, pois acho que a primeira opção para ele era Jane Fonda. Foi o papel com que pude provar que era capaz de fazer algo difícil”, declarou a atriz, que revelou nunca ter assistido ao filme todo. “Não é divertido assistir a mim mesma”, confessou.

Sobre o longa de Polanski, ela comentou: “Tinha participado de dois filmes que ninguém tinha visto. Mas havia atuado em uma série para a TV por dois anos. Já havia conseguido algum reconhecimento, ganhei US$ 32 mil e achava que estava rica. E quando O Bebê de Rosemary foi lançado, minha vida mudou completamente e se tornou um caos. Aprendi muito cedo, aos 21 anos, que o sucesso profissional não faz necessariamente alguém feliz”.

A fama lhe abriu muitas portas, mas ela ainda precisava encontrar uma forma de se realizar. “Assumi que tinha de fazer minha vida valer a pena.” E para promover a mudança que buscava, Mia decidiu meditar, ir à Índia, casar com André Previn (músico, compositor e maestro americano com quem foi casada de 1970 a 1979, o pai adotivo de Soon-Yi Previ, atual mulher de Woody Allen), viver na Inglaterra e ter filhos. 

“A vontade de ajudar os outros me fez ter e adotar filhos. E eu digo a eles: ‘Não procurem a felicidade. Procurem alguém para ajudar. E a felicidade vai encontrá-los’. Eu estava buscando isso. E isso me fez adotar dez crianças. A maioria com profundas dificuldades. Este foi meu jeito de significar algo para alguém”, relembrou a atriz, que é embaixadora da Unicef desde 2000. 

Sinatra. É com carinho que Mia Farrow se refere a Frank Sinatra, com quem foi casada entre 1966 e 1968 e que era quase 30 anos mais velho que ela. “Uma lembrança que tenho dele? Ele era um grande ator. E penso que sem este talento, as canções teriam menos significado para ele. Interpretava suas músicas, realmente. Lembro de suas melhores gravações de discos. Ele era disciplinado e seis semanas antes de gravar não fumava nem bebia. Ele convidava a todos da banda, pedia que eles levassem suas mulheres, pois o que gostava era de cantar para uma plateia. Era capaz de gravar um disco inteiro em uma só noite, mas detestava repetir. Praticamente fazia um show durante a gravação, mas, mesmo assim, dizia que era um ator envergonhado. Talvez por isso não tenha feito mais filmes.”

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Filme brasileiro tem boa acolhida do público

Primeiro longa de ficção de Gabriel Mascaro, ‘Ventos de Agosto’ é o único do País a integrar a competição oficial 

LOCARNO - O diretor brasileiro Gabriel Mascaro tem no currículo documentários de sucesso como As Aventuras de Paulo Bruscky e Domésticas. Em todos, há sempre um olhar atento para os limites entre ficção e realidade. Ao assinar Ventos de Agosto, seu primeiro longa de ficção, ele faz uso de toda experiência que adquiriu com o documentário para criar uma narrativa porosa, que está aberta a absorver o que de melhor a realidade oferece. 

O diretor. Aberto ao que a realidade oferece de melhor Foto: Urs Flueeler/AP PHOTO

Para isso, mistura o roteiro pré-escrito com ações espontâneas dos personagens não-atores do filme, que contracenaram com a protagonista Shirley, vivida pela atriz Dandara de Morais. Ela, aliás, ao contrário dos não-atores, não tinha roteiro e trabalhava suas ações com base em proposições e improviso. “Assim como a vida e a morte, que não são separados, o real e o ficcional também estão ligados. São partes da mesma experiência de filmar e experimentar a vida”, declarou o cineasta para a imprensa do Festival de Locarno, após a primeira sessão mundial de Ventos de Agosto, único filme brasileiro na principal competição do festival. 

Se, pela manhã, o longa agradou à crítica internacional, em sua primeira sessão para o público, à tarde, teve acolhida ainda melhor. A plateia embarcou na história de Shirley, garota que chega da cidade grande para viver em um pequeno vilarejo de pescadores em Alagoas. Enquanto seu romance com o pescador Jaison (Geová Manoel dos Santos) segue, o forte vento da ‘zona de convergência intertropical’ se revela mais um personagem que ronda as vidas dos moradores da vila. / F.G.

A REPÓRTER VIAJOU A CONVITE DA ORGANIZAÇÃO DO FESTIVAL

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