16 de fevereiro de 2017 | 19h58
Em país de tão pouca memória e pesquisa rala, todo livro de referência deve ser saudado. Ainda mais quando se debruça sobre uma bitola cinematográfica tida como em extinção, como é o caso do Super-8, mas que deixou marcas profundas em nossa tradição de cinema. É o caso do volume Super-8 no Brasil: Um Sonho de Cinema, de Antonio Leão da Silva Neto, editado parte com recursos próprios, parte com dinheiro proveniente de uma vaquinha virtual entre amigos.
Leão já é há bastante tempo figura conhecida entre críticos e amantes do cinema em geral. Cinéfilo desde criancinha, escolheu a pesquisa como ramo de atividade. A ele se devem obras fundamentais como o Dicionário de Filmes Brasileiros, Fotógrafos do Cinema Brasileiro, Dicionário de Curtas-Metragens Brasileiros e Astros e Estrelas do Cinema Brasileiro. A estes títulos agora se soma essa pesquisa sobre o cinema Super-8.
Bastante ampla, por sinal, embora o autor, modestamente (como convém a pesquisadores), diga que não tratou de esgotar o assunto. Em todo caso, em suas 624 páginas, de tipologia pequena, o livro é uma mão na roda para quem se interessa pelo cinema brasileiro e, em especial, pelo cinema independente, pois, como se sabe, a bitola Super-8, muito mais barata que as outras, foi a porta de entrada de muitos jovens diretores para o mundo da criação cinematográfica.
Na primeira parte, o livro contém as fichas de 5.519 filmes. Na segunda, são listados 3.770 realizadores e 952 biografias. Essas duas partes são precedidas por textos de 12 convidados, formados por realizadores, pesquisadores e jornalistas, que testemunharam ou participaram dos movimentos superoitistas em várias regiões do País, como são os casos de Euclides Moreira Neto (Maranhão), Firmino Holanda (Ceará) e Fernando Trevas Falcone (Paraíba).
Entre os artistas que se iniciaram pelo Super-8 se contam alguns bem conhecidos hoje, como Carlos Reichenbach, Cao Hamburger, Laís Bodanzky, Ivan Cardoso, Neville D’Almeida, Tony Bellotto. E mesmo a atriz Regina Duarte, que fez sua estreia no cinema em 1966 com o filme em 8mm A Barreira, dirigida por Abrão Berman. Embora seja raridade, muitos ainda cultivam o Super-8 e lutam contra dificuldades em conseguir negativos e revelá-los. Existem ainda dois festivais de cinema consagrados ao Super-8, em São Paulo e Curitiba. Como diz Leão, o “Super-8 ainda é usado em videoclipes, filmes publicitários, experimentos cinematográficos e também na captação de imagens de curtas em geral, com finalização em digital, mostrando que a bitola está em plena forma e com vida saudável”.
O Super-8 portanto está vivo e revigora-se com a publicação deste livro.
SUPER-8 NO BRASIL
Autor: Antonio Leão da Silva Neto
Editora: do Autor (624 págs.,R$ 50)
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.