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'Lemon Tree' mostra luta de viúva palestina

Premiado em Berlim, filme traz conflito entre mulher e político que quer derrubar sua plantação por segurança

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Por Redação
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Em 2008, mesmo ano em que o júri do Festival de Berlim premiou com o Urso de Ouro ao brasileiro Tropa de Elite, o público da seção Panorama do mesmo festival preferiu entregar seu troféu a um filme bem diferente, o israelense Lemon Tree, de Eran Riklis.   Veja também:    Trailer de 'Lemon Tree'    Não se dispara um único tiro em Lemon Tree, que entra em cartaz em São Paulo e no Rio de Janeiro depois de abrir o 12.º Festival de Cinema Judaico de São Paulo, na última segunda-feira. Mas a tensão é permanente na divisa entre o sítio da viúva Salma Zidane (Hiam Abbas, de Free Zone) e a casa do novo primeiro-ministro israelense que acaba de se tornar seu vizinho, Israel Navon (Doron Tavory). Tudo porque a nervosa segurança do político considera que sua plantação de limoeiros é um esconderijo em potencial para terroristas. Num país quase diariamente abalado por notícias sobre atentados e homens-bomba, a suspeita levantada por seus guarda-costas leva o político a uma solução drástica: ordenar o corte dos limoeiros, que agora viraram assunto de segurança nacional. Oferece-se uma compensação financeira à viúva. Mas ela resiste à destruição de sua propriedade, que do dia para a noite já está cercada de arame farpado por todos os lados. Para Salma, os limoeiros são parte de sua história, porque foram plantados por seu pai. Eliminá-los lhe parece uma brutal arbitrariedade. O conflito vai parar no tribunal, sem que as partes tenham trocado nunca qualquer palavra. Os dois lados sequer falam a mesma língua. Quando a viúva recebe a carta, em hebraico, informando-a sobre a necessidade da destruição de sua plantação, ela nem mesmo entende o que está ocorrendo. Necessita de tradução. As mulheres estão em desvantagem aqui, sejam elas palestinas ou israelenses. Por isso é tão sintomático o longo olhar trocado entre Salma e a mulher do ministro, Mira (Rona Lipaz-Michael), numa determinada cena. Viúva há muitos anos, Salma guarda na sala um retrato do marido que, como que para desencorajar eventuais pretendentes. Quando ela se envolve romanticamente com o advogado que defende sua causa, Ziad Daud (Ali Suliman, de Paradise Now), surgem vigilantes bem reais. Não faltam homens da comunidade de Salma para entrar em sua casa, reprovar sua conduta e mesmo ameaçá-la. Pela reação resignada dela, isto parece comum por ali. Ela não tem coragem de opor resistência. Mira, a mulher do ministro, também não é tão livre quanto parece. Transformada em prisioneira de luxo em sua casa fortemente guardada, ela se ressente das mentiras do marido. O primeiro-ministro flerta abertamente com suas assistentes e parece esperar da esposa não mais do que o conformismo com a situação. A história realmente se baseia em fatos reais, dramatizados e ampliados pelo roteiro da jornalista Smadar Yaaron e do diretor Eran Riklis. Filho de um ex-consultor científico do consulado israelense no Rio de Janeiro, o cineasta já viveu no Brasil, entre 1968 e 1971, voltando nesta semana para o Rio e também São Paulo, para o lançamento do filme.   (Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

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